O voo directo Praia-Boston-Praia, que era operado pela TACV (agora Cabo Verde Airlines, CVA) vai deixar de existir. A partir de 9 de Dezembro próximo, os passageiros que queiram viajar através da CVA, de Cabo Verde para Boston, ou de Boston para Cabo Verde, terão de o fazer obrigatoriamente via Sal. Só depois serão escoados para as restantes ilhas.
A informação é avançada pelo site ‘Routes Online’, que refere que a CVA está a fazer “ajustes” no serviço para Boston. A mesma fonte informa que o voo será operado pelo Boeing 757-200, uma vez por semana (às segundas à partida do Sal e o regresso de Boston às terças-feiras).
Numa pesquisa e simulação de voos feita pelo A NAÇÃO no site da CVA é possível constatar que, de facto, a partir de 9 de Dezembro os voos de e para Boston passam a ser via Sal. Ao que tudo indica, os passageiros da ilha do Fogo, uma das maiores comunidades emigradas nos Estados Unidos da América (EUA), serão os principais lesados, tendo em conta que na chegada a Cabo Verde serão obrigados a pernoitar no Sal, dado que o voo chega à noite e só no dia seguinte, de manhã, há ligação para a ilha do vulcão (ver imagem).
De notar que há também muitos emigrantes que estão habituados a levar encomendas de Santiago para os EUA e a trazer encomendas das terras do “Tio Sam” para cá. Tradições que terão de se moldar aos novos serviços da CVA, caso optem por essa companhia. Segundo uma fonte daquela transportadora, desde que o aeroporto da Praia conseguiu a certificação para receber voos internacionais, a TACV vinha fazendo o percurso Boston-Praia-Boston directo porque o grande público é do Fogo e da Brava, para além de Santiago. “Ao contrário dos outros destinos/percursos anunciados pela Cabo Verde Airlines, exemplo, Washington-Lagos ou Fortaleza-Lisboa, neste caso não há nenhuma estratégia de usar o Sal como hub internacional, pensado para os passageiros não nacionais”, analisa a nossa fonte.
O destino final do voo de Boston será assim Sal e depois há ligações, através do ATR, para a Praia e São Vicente (no mesmo dia) e para o Fogo no dia seguinte. Isto, obviamente, irá colocar constrangimentos mais uma vez ao nível do escoamento das bagagens no mercado interno.
“No pressuposto que os passageiros venham com duas malas, continuam com o direito às duas malas mas ficam na contingência de as malas não seguirem todas porque o ATR é um avião mais pequeno”, avisa.
Demanda “muito grande”
A mesma fonte lembra ainda que a demanda do voo Boston-Praia-Boston é “muito grande”, em particular na altura das férias. Nas simulações feitas pelo A NAÇÃO, a partir de 9 de Dezembro, os preços praticados pela CVA estão parecidos aos praticados pela TAP (via Lisboa) e pela SATA (via Ponta Delgada, Açores) até à cidade da Praia, embora a SATA tenha preços bem mais em conta. Boston-Fogo, via Sal, de 10 de Dezembro 2019 a 27 de Janeiro de 2020 custa 100 mil escudos no site da CVA (ver imagem), enquanto Boston-Praia, via Sal de 10 de Dezembro a 27 de Janeiro custa 86.600$00.
De referir ainda que o voo Boston-Sal para as mesmas datas custa 85.200$00. Com a TAP, de 8 de Dezembro a 27 de Janeiro, um voo Boston-Praia-Boston, via Lisboa, fica em 94.400$00, enquanto com a SATA (via Ponta Delgada) o mesmo destino entre 8 de Dezembro e 27 Janeiro fica em 68.675$00.
Naturalmente em novas simulações os preços podem sofrer alterações, porém tanto na TAP como na SATA os voos são feitos em aviões próprios para viagens internacionais sem transbordo para voos em ATR.
AAVTCV em silêncio
Este semanário tentou apurar se a Associação das Agências de Viagens e Turismo de Cabo Verde já está a par desta alteração e quais as eventuais implicações que a medida poderá trazer às empresas. Contactado o seu presidente, Mário Sanches, este preferiu não se pronunciar, por enquanto. “Prefiro aguardar a comunicação oficial da suposta decisão antes de um pronunciamento que me parece prematuro neste momento”, disse. Resta agora aguardar pelo desenrolar dos impactos da medida que a fazer fé nas nossas fontes tanto em Cabo Verde como nos Estados Unidos já está a mexer com as viagens da diáspora cabo-verdiana nos EUA.
Gisela coelho
*Esta reportagem foi publicada na edição 629 do Jornal impresso A NAÇÃO