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Opinião

Estudo sobre “Acesso e Consumo da Comunicação Social em Cabo Verde”: Revista de Imprensa

Por: Carlos Filipe Gonçalves*

O inquérito do INE (Instituto Nacional de Estatística) sobre o “Acesso e Consumo da Comunicação Social em Cabo Verde”, apresentado no dia 12 de Agosto, na Praia, indica que a televisão continua a ser o meio de comunicação social mais usado pelos cabo-verdianos, com a taxa de utilização de 82 por cento. Não é nenhuma novidade e até é justo na medida em que os cabo-verdianos pagam uma taxa para ver a TV que segundo dados de 2017 cobre 60 por cento (%) do Orçamento; subsídios/ajudas do Governo apenas cobrem 13%!

Ainda segundo aquele estudo “59 % dos inquiridos não sabem dizer o nome de um jornal impresso, enquanto 58% não conseguem citar nome de um online” – Este é um grande problema, mas também não é novidade. Numa população de 450 mil habitantes, as tiragens dos jornais impressos, rondam grosso modo 3 mil exemplares! Ou seja, se a tiragem fosse totalmente vendida seria 0,6% da população a ler um jornal! Mas sabemos que há sobras, há deficiências/problemas de distribuição, logo aquela percentagem, de 0,6% de cabo-verdianos a ler jornal baixaria ainda mais! Segundo a Inforpress, “De acordo com o referido estudo, apenas 1% da população procura um jornal impresso para se informar.” Esta afirmação é uma ligeira melhoria na fotografia, mas não esconde a gravidade da situação.

Aliás, esse estudo do INE apenas traz novidades que todos (profissionais e público em geral) já sabem. Segundo dados da Inforpress, na “preferência das rádios, a nível nacional a emissora pública (RCV) lidera a lista” e por ordem de preferência e acesso “a televisão lidera a lista com 85 %, de seguida vem a Internet com 76% e a rádio com 46%.”

Reacções a estes dados que não são novos: segundo a Inforpress, o ministro disse que esses dados permitem ter instrumentos suficientes para se tomar medidas que visam “gerar melhores estratégias” e que “a partir deste estudo, os gestores dos órgãos da comunicação social poderão tomar decisões que possam ter «maior impacto» em termos de programação de conteúdos.” A justificar esta situação revelada pelos números: “os jornais não têm tido uma política de levar o seu produto às pessoas”. E pronto! Tudo arrumado?

Não! Porque, o interessante é que ninguém fez a pergunta sacramental: Porquê esta situação da imprensa escrita e da imprensa audiovisual privada? Que política para o sector privado? Espera-se pela resposta desde 1991 quando o monopólio do Estado caiu. Qual o lugar do privado e qual o lugar do Estado na comunicação social? O poder sobre os órgãos, a tentação do seu domínio e governança indirecta, através de, impedem a resposta as estas perguntas. Por isso nunca é demais repetir: os privados continuam a ser a peça decorativa do pluralismo e da democracia, porque uma voz sem ouvidos!

Então, tudo visto e analisado, qualquer um com meios, apoios e sem concorrência chega lá! Se não vejamos: sector público de comunicação social do Estado beneficia (segundo dados 2017) de 350 mil contos/ano de taxas, mais de 70 mil contos de subsídios do Estado, o que lhe dá vantagem e posição dominante, recursos que geram capacidade para abocanhar mais de 100 mil contos do mercado publicitário!

No sector da imprensa privada, enfezado e faminto, em 2017 foram disponibilizados quase 11 mil contos para 6 empresas, o que dá a cada uma, grosso modo e em media pouco mais de mil contos! Com a venda de menos de 3 mil jornais a 100$ e uma baixíssima taxa e utilização/publicação de publicidade… Como é que esses «famintos» poderão dar conta do recado? Os jornais e rádios das Ilhas querem um novo poema, um novo poema já hoje, para que possam desempenhar o papel que deles espera a sociedade e para sejam o garante do pluralismo e democracia. A crítica clara e bem construída dói! O argumento sem bases cai como um castelo de cartas! A discussão é via para se alcançar a luz. A voz única é sempre uma tentação, porque sem ouvir ou outros só há uma verdade! O busílis desta questão é difícil e complicado, por isso há que encontrar uma solução para esta situação.

Enquanto o poema de um amanhã mais promissor não chega para a imprensa privada, fica aqui este anúncio, que não é um pedido de esmola, é o reflexo de uma situação real que se vive cuja resolução vem sendo sistematicamente adiada: A crise na imprensa mundial, com vários jornais a fechar as portas, tem um denominador comum: RECURSOS FINANCEIROS.

Portanto, se quiser ajudar os jornais e rádios privadas de Cabo Verde a continuarem a existir, já sabe que toda a contribuição, grande ou pequena, é valiosa.

Apoie este seu jornal ou rádio, da maneira que quiser, através da conta nºXXXX, IBAN XXXX, Banco xxxxx… OBRIGADO PELA AJUDA.

A melhor ajuda, será sem dúvida encontrar-se uma solução. A discutir é que gente se entende! 

*Jornalista Aposentado (Cadre Supérieur de Radiodiffusion – INA – France)

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