O economista Paulino Dias, santantonense, não concorda que o combate à perda de população em Santo Antão seja feito através das duas formas apresentadas pelo primeiro-ministro. Isto é, “pôr a economia a funcionar” e “tornar a ilha atractiva para que as pessoas possam se fixar na ilha”.
Segundo Paulino Dias, a sua leitura que Ulisses Correia e Silva fez do problema, assim como as soluções que propõe, “pecam por ignorar uma nova nuance: o fluxo migratório atual, diferentemente dos do passado, é constituído maioritariamente por jovens qualificados, com ensino superior ou secundário completo. “Os jovens estão a sair de Santo Antão porque a ilha não está a ter capacidade de criar empregos qualificados ao ritmo em que os seus jovens estão a ser formados/qualificados. Este é a cerne do problema”, contrapõe o economista santantonense.
Para Dias, os investimentos anunciados pelo PM em Santo Antão são importantes, mas não vão, por si só, resolver o problema da perda de população. Isto, segundo diz, sabendo que a estrutura da economia da ilha é ainda baseada, maioritariamente, num sector agrícola incipiente e fragmentado, sem mercado (estrangulado pelo duplo efeito da quarentena e deficientes ligações marítimas com mercados de maior potencial).
Por outro lado, o turismo “é fortemente sazonal, de baixo impacto económico e gera sobretudo empregos precários. “O primeiro-ministro acredita mesmo que estes investimentos vão ‘pôr a economia a funcionar’ a ponto de poder criar mais de mil empregos qualificados por ano, que a ilha precisaria para estancar a sangria dos seus jovens?”, questiona Paulino Dias.
Dias lembra que o anterior governo cometeu o mesmo erro de análise que bastaria investimentos públicos para resolver o problema. Ou seja, fez-se investimentos substanciais na ilha, mas os jovens qualificados continuaram a sair da ilha “a um ritmo alucinante”.
“O despovoamento de Santo Antão não vai se resolver com fórmulas antigas e gastas, para um problema que tem causas novas. Deve ser atacado com uma estratégia inteligente, instrumentos de políticas públicas inovadoras, pragmáticas, assertivas, eficazes e urgentes, mas sobretudo intelectualmente honestas, quanto ao pensamento subjacente e à vontade efetiva”, afirma Paulino Dias.
Para se ter uma noção da gravidade do problema, em finais do século XIX, a população de Santo Antão aproximava-se dos 30 por cento de todo Cabo Verde e, em 1945, ainda se mantinha nos 29%. Aquando da independência (1975), situava-se nos 16%, em 2000 caiu para os 11% e, hoje, segundo o INE, a ilha corresponde a 8,4% da população do país. Em 2030, segundo projecção do INE, contará com apenas 5% e será a sexta ilha em termos demográficos de Cabo Verde. ACN