Em maré de distribuir dinheiro, Ulisses Correia e Silva anunciou um pacote de “quase três milhões de contos” destinados a investimentos públicos na ilha de Santo Antão para, nos sectores de requalificação urbana, saneamento e no desencravamento das localidades, até o horizonte de 2021. O chefe do governo garante que, até 2021, Santo Antão irá receber um milhão e meio de contos na requalificação das cidades, verba esta disponibilizada através do Programa de Requalificação, Reabilitação e Acessibilidades (PRRA), mas, também, no âmbito do fundo do Turismo e do Ambiente.
No domínio de água e saneamento, UCS, que esteve durante dois dias em Santo Antão, anunciou que, “brevemente”, arranca o projecto de água e saneamento para esta ilha, estimado em um milhão de contos, montante já financiado pelo Banco Árabe para o Desenvolvimento em África (Badea). Trata-se, de acordo com o executivo, de um projecto que, dentro de dois anos, vai permitir intervenções nas redes de distribuição de água em todos os municípios, além de melhorar a rede de esgotos na cidade do Porto Novo.
A nível de estradas de desencravamento, o primeiro-ministro lançou, no decorrer da visita, as obras de cinco estradas, financiadas no quadro do PRRA, em 620 mil contos, que vão gerar, nos próximos meses, mais de 400 empregos directos. UCS admite que é o encravamento das localidades tem sido um dos factores para a perda da população de Santo Antão, acreditando que serão “estradas de regresso e não de partida, que estarão construídas nos próximos seis meses, contribuirão para o retorno das populações às localidades”.
A perda de população foi, de resto, uma das principais inquietações dos santantonenses, que aproveitaram a visita do PM à ilha para questionar o Governo sobre esse assunto. Nos últimos anos, Santo Antão tem perdido, de forma visível, parte da sua população, devido a vários factores, sobretudo a falta de emprego, formação profissional e investimento público-privado. A ilha já teve quase 50 mil habitantes, mas, neste momento, o número anda à volta de 40 mil. Na Ribeira Grande, por exemplo, há zonas que praticamente já não têm gente.
Segundo projecções oficiais, Santo Antão poderá ter, em 2030, menos habitantes que tinha em 1940, a manter a actual tendência de perda da população. Conforme o Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável (PEDS) de Cabo Verde (2017-2021), Santo Antão tinha, em 1940, 35 mil habitantes, podendo, até 2030, dispor apenas de 33 mil pessoas, caso se mantenha este ritmo de despovoamento. Um registo preocupante com que Ulisses Correia e Silva foi confrontado durante a visita a Santo Antão.
Duas formas de combate
Respondendo a tal preocupação, de acordo com o PM, há “duas formas de dar a volta” à esta situação. A primeira coisa a fazer, segundo ele, é o Governo, juntamente com as três câmaras municipais da ilha, “pôr a economia a funcionar”, através da dinamização do turismo, da agricultura, das pescas, formação profissional e da atracção de investimentos privados. “Temos de atacar o problema pela via da economia”.
Em segundo lugar, o PM defende a criação de condições para que a ilha seja atractiva, “oferecendo às pessoas condições para se fixarem nas suas próprias localidades, através de uma aposta na requalificação urbana”. O governante acredita que o desencravamento das localidades pode trazer as pessoas de volta às suas localidades.
Para os autarcas santantonenses, a perda da população está a constituir “uma séria ameaça” ao futuro de Santo Antão e “o maior drama” desta ilha, actualmente. “Santo Antão apresenta indicadores que não estão em sintonia com os indicadores nacionais”, avisa o edil do Porto Novo, Aníbal Fonseca, para quem essa realidade tem levado a saída de pessoas, na maioria jovens, para outras ilhas, como São Vicente, Sal e Boa Vista, à procura de melhores condições de vida. A construção do aeroporto e a segunda fase do porto do Porto Novo são projectos considerados “cruciais” pelos municípios para combater a perda de população, a que Santo Antão tem sido alvo, nesses anos.
O presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande e da Associação dos municípios de Santo Antão, Orlando Delgado, em conversa com A NAÇÃO, mostra-se também preocupado com esta situação. Esse edil acredita que o desenvolvimento do seu concelho e da ilha, no seu todo, passa, “essencialmente”, pela agroindústria, o turismo de natureza e actividades complementares que visam a fixação da população.
Há exemplos práticos que mostram que, efectivamente, a construção de estradas não contribui, por si só, para estagnar a perda de população em Santo Antão. Por exemplo, a zona do Planalto Leste (sobretudo a localidade de Corda), mas também Chã de Mato e Lagoa perderam a centralidade, ou seja, durante muitos anos, a estrada antiga que ligava Ribeira Grande a Porto Novo era a única forma de união entre os três municípios da Santo Antão.
Havia muita gente fixada naquele Planalto e que vivia à volta da estrada, onde vendia os seus produtos, tais como o queijo, a batata, frutas, entre outros. Mas, com a construção da moderna estrada Janela-Porto Novo, o Planalto Leste perdeu a centralidade e as pessoas começaram a sair. Situada a meio caminho entre Ribeira Grande e Porto novo, Planalto Leste é, presentemente, uma das zonas que tem perdido bastante população.
ACN