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Política

Primeiro-ministro cabo-verdiano justifica críticas de José Maria Neves por ser “candidato” a PR

O primeiro-ministro de Cabo Verde afirmou hoje que as recentes críticas à atual governação por parte de José Maria Neves, a quem sucedeu em 2016, pretendem “limpar o passado”, garantindo que o ex-governante é candidato à Presidência da República.

A posição foi assumida por Ulisses Correia e Silva, em entrevista à agência Lusa, na cidade da Praia, na véspera do anual debate sobre o estado da Nação, que se realiza quarta-feira na Assembleia Nacional, e poucos dias depois das críticas do ex-primeiro-ministro (2001-2016) ao recurso do Governo ao endividamento público.

“É tentar limpar o passado, acho que é só isso. Agora, outras intenções políticas ele [José Maria Neves] tem. Ele é candidato à Presidência da República. Tem dado todos os sinais”, afirmou Ulisses Correia e Silva.

O ex-primeiro-ministro José Maria Neves (2001 a 2016) e ex-líder do Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV) utilizou a sua conta na rede social Facebook para lançar, em 25 de julho, uma crítica à governação do país, desde 2016 a cargo do Movimento para Democracia (MpD).

“O caminho que se está a seguir, de mobilização de avultados recursos internos pela via de endividamento público para dar garantias a grandes empréstimos privados é sedutor a curto prazo, mas pode trazer consequências muito nefastas para a economia e as finanças públicas do país, a prazo”, afirmou.

“Para já é uma declaração que vem com oito, nove anos de atraso. O país entrou na rota de endividamento excessivo durante a governação de José Maria Neves, chegando a quase 130% do PIB [Produto Interno Bruno]”, disse hoje, por seu turno, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, recordando que esse endividamento público foi utilizado para investimentos em infraestruturas que representaram “problemas”, como é caso dos programas Casa para Todos, ainda por concluir, e da construção de barragens, que não estão em funcionamento.

No final de 2018, José Maria Neves deixou em aberto a possibilidade de concorrer às próximas eleições presidenciais em Cabo Verde, em 2021, remetendo uma decisão para até ao final deste ano.

“Com toda essa massa de investimento de endividamento o país não cresceu, cresceu pouco. Não resolveu problemas do desemprego, não resolveu o problema da melhoria substancial do rendimento dos cabo-verdianos. Portanto, não é por aí. Tem [José Maria Neves] uma contribuição muito grande pela situação que nós temos hoje”, afirmou Ulisses Correia e Silva, que é também presidente do MpD.

Já para este ano, a perspetiva mais realista do Governo, explicou o primeiro-ministro, aponta para um crescimento económico de 6% do PIB, o que será um aumento face aos 5,5% de 2018, mas ainda longe da meta, assumida anteriormente, de 7% ao ano.

“O crescimento de 7% não é uma obsessão, é uma meta justificada porque precisamos de atingir esse valor de uma forma continuada para podermos duplicar, numa década, o rendimento ‘per capita’ dos cabo-verdianos”, disse Ulisses Correia e Silva.

Entretanto, garante que o peso do endividamento público de Cabo Verde desceu dos 127,8% do PIB em 2016 para 122,8% em 2018, período correspondente aos primeiros dois anos de mandato e uma “redução que não acontecia há 10 anos”.

Além disso, o défice orçamental, que entre 2011 e 2015 foi, em média, de 7,9% do PIB, também se reduziu, garantiu.

“Baixamos para 2,9%, de média, de 2016 a 2018. Uma tendência clara de melhoria das contas públicas”, afirmou, acrescentando o objetivo de reduzir o peso da dívida para 100% do PIB até 2023, através de reformas, da disciplina fiscal e do aumento do potencial de crescimento económico baseado no turismo, nos transportes aéreos e numa aposta reforçada na economia marítima.

“Mas as reformas precisam de tempo para produzirem o efeito desejado”, sustentou.

A prioridade atual, assumiu, é “facilitar” e “incentivar” as iniciativas privadas, contra o anterior modelo, de intervenção através do endividamento público.

Neste processo de governação, o primeiro-ministro elogiou a “boa relação” que tem mantido com o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca.

Sobre uma eventual recandidatura ao cargo de primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva diz que ainda não é tempo para falar do assunto.

“Nós ainda não estamos a pensar nas eleições, são em 2021. Temos ainda de ir às autárquicas [em 2020], temos tempo para definir isso. Estamos a trabalhar para desenvolver Cabo Verde”, rematou.

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