“Este negócio foi totalmente obscuro. Reiteramos que a companhia de bandeira (a TACV) foi vendida por 48 mil contos e ainda o Estado não recebeu nenhum tostão”, disse Janira Hopffer Almada, para quem o “mais grave” é o facto de o país assumir a responsabilidade de “pagar todas as dívidas” da anterior transportadora aérea nacional, enquanto “foi entregue todo o activo que poderia ajudar a pagar essa dívida”.
A líder do Partido Africano da Independência de Cabo Verde fez essas considerações à imprensa à margem da reunião do conselho nacional do deste partido, órgão mais importante entre dois congressos, que se encontra reunido na Cidade da Praia.
“Uma coisa é o país a endividar-se por uma companhia que é sua e outra coisa é os cabo-verdianos estarem a assumir dívidas de uma companhia que não é nossa”, indicou a líder do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV-oposição), considerando de “atitude condenável” o facto de o maior centro populacional do país (S. Vicente) ter sido deixado pela Cabo Verde Airlines “fora das ligações internacionais”.
Segundo ela, pouco a pouco o Governo vai demonstrando que o PAICV tinha razão nas denúncias que vinha fazendo em relação à privatização da TACV- Cabo Verde Airlines.
Instada se o empréstimo à Cabo Verde Airlines anunciado esta sexta-feira vai aumentar a dívida de Cabo Verde, afirmou esperar que “o vice-primeiro-ministro e o primeiro-ministro, que tanto falar da dívida quando estavam na oposição, venham explicar aos cabo-verdianos”.
“Penso que a comunicação social deve tentar obter esta resposta dos responsáveis máximos do país nessa matéria (da dívida), indicou, acrescentando que os cabo-verdianos têm o direito de saber todos “os meandros do referido empréstimo”.
“É inequívoco que nós não temos sabido muita coisa porque o Governo não tem partilhado informações estratégicas do país”, lamentou a líder da oposição.
Indagada se nas próximas eleições legislativas vai propor aos cabo-verdianos o regresso da TACV ao domínio público, garantiu que a sua proposta irá no sentido de “proteger os interesses do país”.
“Um país arquipelágico deve ter a noção que as ligações aéreas e marítimas são condição essencial de coesão territorial, de desenvolvimento nacional e de mobilidade”, declarou a presidente do partido da estrela negra, acrescentando que as ligações aéreas inter-ilhas e com a diáspora é um “compromisso a que nenhum Governo deve fugir”.
“Esta questão da conexão entre as ilhas não deve ser analisada apenas do ponto de vista financeiro e económico. É uma questão de responsabilidade do Estado para com o povo que existe para garantir interesses do país e das pessoas”, precisou a líder da oposição.
A Cabo Verde Airlines assinou esta sexta-feira uma linha de crédito de 24 milhões de dólares (cerca de (2.349.290.000 ECV) financiada pelo Banco Internacional de Cabo Verde (BICV) e pelo Ecobank para impulsionar o desenvolvimento da empresa.
Em declarações à imprensa, o CEO da Cabo Verde Airlines, Jeans Bjarnason explicou que na concepção do “business plan” (plano de negócios) que cobrirá a companhia até 2023, ficou claro que a Cabo Verde Airlines precisava de capital durante os primeiros 18 a 20 meses para conseguir atingir os seus objectivos
Para o vice-primeiro ministro, Olavo Correia, que presenciou a assinatura desse contrato, isto significa que o Estado está a criar oportunidades com vista a fazer de Cabo Verde um hub de transportes aéreos, para transportar pessoas de e para Cabo Verde e ainda criar oportunidades de negócios nos mais diversos domínios.
“Nós não podemos continuar a ser uma economia baseada na monocultura do turismo que cria empregos, que são importantes para o país, mas não são empregos qualificados e muitas vezes são empregos mal remunerados”, sublinhou o vice-primeiro ministro, que é também ministro das Finanças.
De acordo com as suas palavras, Cabo Verde tem que “diversificar a economia” para que sejam criados “empregos qualificados e bem remunerados”.
Referindo-se à Cabo Verde Airlines, clarificou que a transportadora aérea nacional tem neste momento 300 trabalhadores cabo-verdianos e dos quais 64 pilotos.
Inforpress
PAICV afirma que o empréstimo de 24 milhões de dólares da Cabo Verde Airlines junto à banca nacional lhe dá razão quanto à venda da TACV
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