Por: Padre Joaquim Brito**
Por ocasião das cerimónias fúnebres do Bispo Emérito de Cabo Verde, D. Paulino Évora, primeiro Bispo e primeiro Padre Espiritano de Cabo Verde, começo por invocar a Virgem Maria, como Rainha das Missões e dos Missionários.
Creio que se nos permite dizer umas coisas neste dia, por isso aproveito para as dizer:
1. Fazer alguma “propaganda” da nossa Congregação, Família Religiosa e Missionária, a que pertenceu D. Paulino, desde 1957, quando tinha 26 anos e fez os primeiros Votos, até o seu último dia nesta vida. Foram 62 anos de Vida Espiritana.
O nome dessa Família Religiosa e Missionária é, Congregação do Espírito Santo, sob a proteção do Imaculado Coração de Maria, mas também conhecida com Missionários do Espírito Santo, ou simplesmente, Espiritanos: formada por Padres e não só, chamados a anunciar o Evangelho, a viverem em comunidade e à pratica dos Conselhos Evangélicos; fundada em 1703, em França, no Dia de Pentecostes. Por certo, acaba de completar 316 anos de existência.
Membros desta Congregação chegaram a Cabo Verde em novembro de 1941, em plena segunda guerra mundial, que também afetou o nosso país. Era um grupo de oito Missionários, liderado pelo Bispo Espiritano, D. Faustino Moreira dos Santos, acompanhado por três padres da mesma Congregação, outros dois diocesanos e dois seminaristas de Portugal. Naquele tempo ninguém queria vir para cá. O clima era inóspito, a fama de maus costumes, a carência alimentar e tantas outros problemas, não atraíam nem aos Missionários. Alguém dizia a esse respeito: “Cabo Verde é uma desolação; o clima é áspero e desabrido, o solo é pobre, a população miserável, mistura de todas as raças, mistura de todos os vícios”.
Quando se falam das dificuldades do Bispo D. Paulino quando chegou cá, na altura da Independência, recordo nas inúmeras dificuldades que os nossos Confrades tiveram quando chegaram. Era preciso muita coragem para que viessem ao encontro daqueles podres no meio do Atlântico. Mas foi assim que nos ensinaram os nossos fundadores, Cláudio des Places e Francisco Libermann: É preciso a abnegação (esquecer de si mesmo), para cuidar dos que mais necessitam.
Estamos neste arquipélago há quase 78 anos, e nesse período de tempo foram enviados uns 80 Missionários Espiritanos, na sua maior parte, Confrades Portugueses. Ainda estamos por cá uns 12. Sendo alguns com mais de 60 anos de Missão neste país, como é o caso do Padre Campos, que vai completar os 65 anos neste país querido, como ele mesmo diz. É Obra!
2. Penso que todos nos sentimos orgulhosos por todo o trabalho apostólico e com repercussão em todo o povo caboverdiano, realizado, pelo nosso Confrade Bispo, durante 44 anos. A maior parte dos presentes foi diretamente beneficiada pelos dons que Deus lhe concedeu: 90 por cento dos Padres presentes, incluindo o Cardeal D. Arlindo, foram ordenados por ele. O P. Boaventura, o P. Constantina, e nós os mais novos. Também dedicou 13 anos do seu Ministério a Portugal e a Angola. Por tudo quanto fez, louvado seja Senhor Jesus.
3. Sentimentos/perda: De tristeza, algum. Caso não fosse, deixaríamos de ser humanos. Mas são sobretudo, de Louvor e Ação de Graças a Deus por ter doado à Igreja uma “pedra tão viva e tão forte” na construção da Sua Igreja. Um Homem Bom, de Fé, Verdadeiro, incapaz de dar dito por desdito, Coerente até ao fim, e com sentido de humor.
Quanto ao sentimento de perda, não sentimos tanto, pois com a sua ida, acreditamos que ganhamos muito mais. Se cá na terra, como homem carnal, nos ajudou, e muito, quanto mais agora que a nossa fé nos faz crer que está junto de Deus, nos pode ajudar bastante mais, pois é um Homem Novo, Espiritual, com bastante mais influência e força, pois está com ELE.
4. Ultimas palavras. Numa das últimas visitas no hospital, dizia ele: “o homem não é nada”. Já dizia o mesmo, o nosso segundo Fundador, Francisco Libermann, quando estava para deixar este mundo: “Deus é tudo, o homem é nada”. Pois bem, busquemos a Deus para que Ele seja tudo em nós.
Aos profissionais da Saúde, às Irmãs Franciscanas, que nos ajudaram a cuidar dele nos últimos anos, e a todos aqueles que lhe proporcionaram o conforto físico e espiritual, o nosso profundo agradecimento, em nome da Congregarão do Espírito Santo e dos Espiritanos em e de Cabo Verde.
Apetece dizer a todos: Façamos da nossa Profissão a nossa Vocação e Missão. Assim será tudo mais fácil
Somos todos Concidadãos do Céu, por isso dizemos um “até já” ao nosso Confrade Bispo, Paulino.
*Título da responsabilidadeda Redacção; e
**Superior da Congregação do Espírito Santo em Cabo Verde.