A cabo-verdiana Maria José Évora Mendes lança esta terça-feira, 2, em Roma, o seu livro “Trentotto anni di raconti, Storia di una donna migrante”. Na obra a escritora relata aspectos da sua trajectória como imigrante em Itália ao longo de 38 anos.
O lançamento do livro será numa das salas do Senado desse país, estando a apresentação a cargo da senadora Valeria Fedelin, do Partido Democrático.
Natural da Boa Vista, Maria José Mendes Évora emigrou para a Itália, em 1979, aos 14 anos. Como muitas outras cabo-verdianas, começou por ganhar a vida como empregada doméstica; inconformada com aquele que parecia ser o seu destino, resolveu estudar, ingressando primeiro numa escola portuguesa em Roma e prosseguindo depois a formação superior, graduando-se em ciências sociais. Em 1996 concluiu o doutoramento pela Pontifica Universidade San Tomamaso.
Maria José é tida como uma das figuras mais destacadas da comunidade cabo-verdiana em Itália, ligada ao associativismo tanto cabo-verdiano, como de outros espaços. Com outras cabo-verdianas, fundou e dirigiu, por exemplo, a Organização das Mulheres de Cabo Verde em Itália (OMCVI) e, anos mais tarde, a Associação dos Filhos e Amigos da Boa Vista, que no passado fim de semana comemorou os 10 anos da sua fundação.
Em 2001 Maria José foi designada “Cavagliere Ordine al mérito” da Itália pelo então presidente da República, Carlo Azeglio Ciampi. Até esta data é a única cidadã (e cidadão) de Cabo Verde a ser distinguida com tal comenda por parte do Estado italiano. E, no ano passado, recebeu também o Prémio Internacional “Standout Woman Award” pelo seu trabalho social junto das comunidades africanas e não só.
Numa altura em que na Itália e outros países da Europa a xenofobia vem ganhando terreno, casos como o de Maria José Mendes Évora, além de raros, ganham uma relevância particular.
O livro, que já foi lançado em Nápoles (cidade onde ela começou a vida na Itália), vai desta feita ser apresentado então no Senado Italiano. A missão estará a cargo da senadora Valeria Fedelin, do Partido Democrático, ministra da Educação entre 2013 e 2018.
Ainda sem tradução em português, em “Trentotto anni di raconti”, a autora relata a sua experiência pessoal e a luta que teve de travar para sair da miséria na ilha natal, Boa Vista, e depois em Itália, sem porém nunca perder as referências da sua origem. Como disse ao A NAÇÃO, “o livro é uma forma de transmitir às gerações mais novas o que foi a nossa vida na Itália, o que foi preciso fazer para sairmos da ‘invisibilidade’ a que todos estávamos no início condenados”.
Maria José Mendes Évora foi uma das personalidades homenageadas na passada sexta-feira, também em Roma, pela Associação dos Naturais e Amigos da Boa Vista, enquanto um dos seus fundadores e presidente. Para assinalar a data, a Associação realizou uma conferência sobre o falecido Presidente Aristides Pereira, “o mais ilustre filho da Boa Vista”, tendo, para este efeito, contado com as presenças de João Pereira Silva e de José Vicente Lopes, que falou do livro “Aristides Pereira, Minha vida, nossa história”.
Numa noite carregada de emoção, o actual presidente da Associação, o jovem Danilo Silva Brito, da segunda geração e em vias de ingressar na advocacia, realçou o papel de todos aqueles que ao longo destes 10 anos ajudaram a manter a comunidade unida. “A Maria José é, sem dúvida, uma dessas pessoas”, sublinhou.
Imigrante cabo-verdiana lança livro de memórias no Senado Italiano
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