“A CPLP tem sido essencialmente uma comunidade de negócios e política, mas tem de estender a sua ação para a preservação cultural e histórica”, disse ontem à Lusa um dos representantes da minoria luso-malaia perante o estado de Malaca e organizador da segunda edição da Conferência da Comunidade Luso-Asiática, Joseph Santa Maria.
Em declarações à Lusa, na cidade conquistada pelos portugueses em 1511, na época no coração de um lucrativo comércio de especiarias, o luso-malaio sublinhou que acredita que os países que compõe a CPLP têm dinheiro e poder suficientes para apoiar as atividades culturais, linguísticas e históricas destas comunidades que nasceram “através dos feitos dos grandes descobridores portugueses”.
“Nós aqui somos malaios, mas temos muito orgulho em dizer que somos portugueses também”, destacou Joseph Santa Maria.
“A importância desta conferência serve precisamente para mostrar que estamos vivos e que estamos a sobreviver”, frisou.
Já a portuguesa Joana Bastos, uma das organizadoras da conferência e uma das representantes da associação cultural Coração em Malaca e do Instituto Camões na cidade malaia, apontou a importância de “chamar a atenção da comunidade internacional de que existem estas comunidades dispersas na Ásia, que não estão representadas a nível da CPLP e em outras organizações e instituições”.
“É também uma forma de estreitarmos laços com Portugal”, disse à Lusa.
O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, o presidente da Assistência Médica Internacional (AMI), Fernando Nobre, assim como professores, especialistas e representantes das comunidades de herança portuguesa da Indonésia, Singapura, Malásia, Timor-Leste, Austrália, Tailândia e Sri Lanka vão juntar-se no sábado na cidade.
Na primeira edição, em 2016, “conseguimos trazer cá o Xanana Gusmão, este ano temos o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, talvez daqui a dois ou quatro anos consigamos um primeiro-ministro ou um Presidente”, afirmou Joseph Santa Maria.
A segunda edição da Conferência da Comunidade Luso-Asiática é organizada por Joseph Santa Maria, pela Associação AMI, pela associação cultural Coração em Malaca e pela organização não-governamental NGD.
Portugal, por outro lado, defendeu o luso-malaio, “tem uma responsabilidade moral” e “tem de ter consciência destas bolsas de comunidades portuguesas que existem na Ásia”.
A relação de Portugal com Malaca remonta a 1509 quando Diogo Lopes Sequeira, enviado do Rei D. Manuel, aportou em Malaca para estabelecer relações e dois anos mais tarde Afonso de Albuquerque desembarcou em Malaca, demoliu a Grande Mesquita, e levantou no local uma fortaleza que seria um importante entreposto comercial.
Na mesma altura, surge o crioulo de matriz portuguesa, Kristang, uma língua agora ameaçada de extinção, que emprega a maior parte do seu vocabulário do português, mas a sua estrutura gramatical é semelhante ao malaio e extrai as suas influências dos dialetos chinês e indiano.
Apesar de estar em extinção, esta língua é ainda falada regularmente um pouco por todo o bairro português de Malaca, cidade descrita pelo segundo capitão, Jorge de Albuquerque, no início do século XVI, como não tendo “nada de seu, mas que tem todas as coisas que há no mundo”.
Asiáticos luso-descendentes juntos em Malaca com o olhar na CPLP
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