“Veromar” é o novo romance de Dina Salústio, o nono, por isso um nome consagrado na literatura cabo-verdiana dos últimos trinta anos. “‘Veromar’ é um lugar que eu recriei para ser a personagem principal do livro”, começa por dizer ao A NAÇÃO.
Mais do que isso, “é o espaço, o ambiente e o cenário da história, mas também uma personagem. Costumo dizer que muitas vezes os personagens não são pessoas, são indicações, cenários. O próprio tema do livro, às vezes, concentra-se tanto no olhar do leitor que passa a ser uma personagem, eu não sou da literatura, gosto de ter este tipo de liberdade (risos)…”
O livro, como refere também, fala de “encontros e desencontros”, com que as pessoas se deparam até ao fim da vida. “A vida, no fundo, é feita de encontros e desencontros; e eu, através deste livro, tentei que ele seja uma história de vida”.
Questionada se a obra pretende ser um retrato da sociedade cabo-verdiana, tendo em conta a presença do abandono e desresponsabilização parental, muito comum nos seus escritos, Dina diz que não foi a sua intenção e muito menos pretensão, até porque, como realça, “os encontros e desencontros são muito transversais na humanidade”.
“Hoje em dia registamos um choque de ideologias, de tal forma que tudo isso provoca esse tal abandono, os desencontros de que procuro falar. Vemos povos a atravessarem o mundo, o mar, nas estradas… à procura de um sítio melhor para viver”, desabafa.
Nesse contexto, Dina Salústio diz que está a “participar com os outros”, escritores ou não, na “procura de uma certa estabilidade emocional para as nossas famílias, para os nossos países, para o nosso semelhante”.
Desafio de escrever para jovens
“Veromar” é um romance de quase 300 páginas, que, segundo a autora garante, procura seguir a linha dos seus livros anteriores. “Não acrescento muito à minha escrita. Só os estudiosos é que poderão dizer. Mas, nós, enquanto escritores, procuramos sempre melhorar”.
Com “Veromar”, Dina Salústio completa nove obras no mercado literário, incluindo duas de investigação, e diz estar já na forja um décimo livro. “Não vai ser um romance. Vai ser um conto, possivelmente uma noveleta, dirigida para um público mais jovem, na faixa dos 18 anos”.
Um desafio que dizer fazer sentido, se quisermos atrair os jovens para a leitura. “Eu quando me encontro com jovens, pergunto sempre que coisas é que gostavam que a gente (escritores) escrevesse? E eles nem o sempre dizem. O que sei é que eles não querem o que estamos a escrever”, constata.
“Há tempos tive um encontro com jovens e um deles disse-me: porque é que você não escreve uma série sobre a nossa vida?”, conta para exemplificar que é preciso ter em atenção a realidade jovem de hoje em dia.
“Eles estão entusiasmados com as séries inglesas e americanas, que são maravilhosas, mas eu não chego lá (risos). Eles querem um bocado disso, coisas adaptadas à vida deles, mas também muita fantasia. Por isso, é que eu digo sempre que os jovens deviam escrever, publicar e serem publicados, porque eles são a voz da juventude que aí está”, realça.
Dina Salústio reitera ainda a necessidade de não se abandonar o público jovem, enquanto potenciais escritores. “Eles escrevem muito melhor (não em termos técnicos), em termos de assunto, do que nós. Acho que quanto mais perto estivermos dos jovens, em termos de idade, mais facilmente se vão aperceber que podem ter algum gozo com a nossa escrita.”
Enquanto esta noveleta jovem vai sendo “cozinhada”, aventure-se antes a ler “Veromar” que será lançado esta sexta-feira, 10, às 18horas , no auditório do BCA, Praia.