A FLEC/FAC (Frente de Libertação do Estado de Cabinda – Forças Armadas de Cabinda (FLEC/FAC)
vai retomar, de forma “intensiva a luta armada em Cabinda” e alerta que o enclave angolano é “um território em estado de guerra e que os estrangeiros “devem tomar as medidas de segurança adequadas”.
Num “comunicado de guerra”- enviado à Agência Lusa -, a FLEC/FAC indica que “nunca quis a guerra e sempre abriu as portas à paz” e que “todas as oportunidades” para a construir foram “esmagadas no sangue por Angola e os seus presidentes Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos e João Lourenço”.
A FLEC/FAC anuncia a retomada intensiva da luta armada em todo o território de Cabinda. A FLEC-FAC alerta a Comunidade Internacional e todos os seus expatriados que Cabinda é um território em estado de guerra e, por isso, todos devem tomar as medidas de segurança adequadas. A Nação cabindesa nunca quis a guerra e sempre abriu as portas da paz”, lê-se no documento.
No comunicado, assinado por Geraldo Baptista Buela, chefe da Divisão de Operações Especiais das FAC, o movimento independentista alega a “contínua e crescente militarização de Cabinda pelas Forças Armadas Angolanas (FAA)”.
O anúncio da FLEC/FAC surge num quadro de instabilidade no enclave, que faz fronteira com a República Democrática do Congo e a República do Congo, com a detenção de dezenas de activistas pró-independência, entre eles dirigentes religiosos, registada ao longo deste mês.
Na terça-feira, o Governo angolano confirmou à Lusa a existência de detenções de membros de um “auto-denominado movimento independentista” em Cabinda, que “pretendiam alterar o quadro institucional de unicidade” de Angola, pelo que o processo corre os trâmites judiciais.
Na ocasião, o ministro do Interior angolano, Ângelo Veiga Tavares, indicou que a situação no enclave de Cabinda “está tranquila” e que os respetivos processos estão “em segredo de justiça”, pelo que resta agora aguardar pelas decisões judiciais.
“A situação de Cabinda está tranquila. Surgiu um autodenominado movimento independentista que, pela própria designação, vê-se que é um movimento que pretende alterar o quadro institucional de unicidade do Estado. Tiveram alguns procedimentos que feriram a lei e está um processo a decorrer, respeitando todos os princípios e que já mereceu tratamento por parte do Ministério Público, que está a conduzir o processo”, acrescentou.
Ângelo da Veiga Tavares disse não ter presente o número de detidos, assegurando, porém, serem menos dos cerca de 70 denunciados ao longo de Fevereiro pelo Movimento Independentista de Cabinda (MIC) e pela FLEC/FAC, que indicou terem sido detidos também oito membros do Ministério Profético Cristão de Angola (Igreja MPCA), entre eles o pastor João Paulo, “profeta” que “defende abertamente a justa luta pela auto-determinação do povo cabindês”.
No documento, a FLEC-FAC refere ter acreditado que Angola “poderia estar disponível para dialogar, negociar e construir a paz para Cabinda, que com o novo Presidente angolano, João Lourenço, “a situação poderia mudar” e que a comunidade internacional, a ONU, União Europeia e União Africana “poderiam optar pela paz” no território.
A FLEC, através do seu “braço armado”, as FAC, luta pela independência do território, de onde é extraída grande parte do petróleo angolano, alegando que o enclave era um Protectorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885, e não parte integrante do território angolano.
Criada em 1963, a organização independentista dividiu-se e multiplicou-se em diferentes facções, efémeras, com a FLEC/FAC a manter-se como o único movimento que alega manter uma “resistência armada” contra a administração de Luanda.