PUB

Sem categoria

“Sonho viver em Cabo Verde, num lugar calmo…” – Nancy Vieira

Depois de já ter lançado “Manhã Florida” nos palcos do mundo, é agora a vez de Cabo Verde receber dois espectáculos de Nancy Vieira para promoção deste seu último disco. Primeiro será Mindelo a 1 de Fevereiro, data que coincide com o seu 44º aniversário e, depois, Praia, dia 2. Em entrevista ao A NAÇÃO, a cantora fala do seu eterno “namoro” pela música tradicional do arquipélago, da Morna, dos “mestres” que a têm acompanhado e do sonho de um dia viver em Cabo Verde, “num lugar calmo…”. Nancy Vieira na primeira pessoa a completar 24 anos de carreira.

Faz um ano em Março que lançaste “Manhã Florida”. Depois de já teres percorrido vários palcos da Europa, porquê só agora dois concertos de lançamento em Cabo Verde?

O álbum foi editado em março de 2018. Parti logo para uma tournée e concertos que já estavam marcados.

Cabo Verde é sempre prioridade quando lanço um disco mas nem sempre é possível conciliar datas, é uma questão de gestão de agenda e oportunidades. Durante 2018 estive em Cabo Verde várias vezes para participações em diferentes projetos e agora reuniram-se as condições para dois grandes concertos de apresentação do álbum. Com eles, realizo um desejo antigo – comemorar o meu aniversário no palco! Faço anos a 1 de fevereiro, estarei a festejar no próprio dia e no dia seguinte, com amigos e com o “meu” público.

É um álbum mais acústico, para se sentir cada palavra cantada. Como fazes a seleção das composições que interpretas? Dás muito valor ao sentido e mensagem das letras?

Canto canções de que gosto, que me despertam algum tipo de emoção, pela mensagem, pela melodia, por ambas. O meu género de eleição é a morna mas gosto de cantar canções bonitas, dos mais variados géneros da nossa música.

O mestre Teófilo Chantre assina a produção deste disco. Achas que Cabo Verde tem tratado bem os seus “mestres”?

Teófilo Chantre é um artista que sempre admirei e me inspirou muito, como cantor e compositor. A sua música faz-me viajar para lugares e sensações bonitas. Tive o privilégio de o ter como produtor musical neste disco. Aliás, todos os produtores musicais dos discos que editei até à data são artistas que admiro : José Afonso, no meu primeiro disco, Toy Vieira e Djim Job no disco Segred, Jorge Cervantes no disco Lus, Nando Andrade que produziu o álbum No Amá.

Respondendo directamente à questão, penso que sim, que Cabo Verde reconhece o mérito dos seus “mestres”.

Namoro

Ultimamente, muitos artistas da tua geração têm apostado em sonoridades onde é visível várias influências da música electrónica, afro-beat, afro-pop… Nunca te sentiste tentada a fundir a música tradicional com outros sons?

Acho muito interessante e ousado, no bom sentido, as aventuras e fusões que muitos dos meus colegas artistas têm feito da música de Cabo Verde com outros estilos. Retratam nas suas músicas as suas vivências, as suas influências, as suas, as suas vontades. Eu também já o fiz. Talvez não se note tanto porque os géneros que “namoro” são naturalmente mais próximos dos que canto, daí a “fusão” ser mais subtil.

Não recuso “fusões”. Pelo contrário, defendo que cada um deve fazer o que lhe apetece. O que me apetece, neste momento, é cantar morninhas (carinhosamente), coladeiras, sambinhas, funanás e outros géneros da forma como os tenho gravado.

És uma das melhores intérpretes de Morna. Até há bem pouco tempo, pouca gente se importava com o legado da Morna e a sua importância para a identidade cultural do país. Como tens visto toda a mediatização em torno da Morna Património Imaterial da Humanidade?

Quem gosta de morna sempre valorizou a sua importância para a nossa identidade cultural. Não é um género que arrasta multidões e faz vibrar o público nos maiores festivais do nosso país mas, repito, quem gosta vibra e acarinha os seus artistas. Eu sinto esse carinho, que é muito reconfortante.

Espero que toda a mediatização em torno da candidatura da Morna a Património Imaterial da Humanidade e a proclamação que acreditamos que seja realidade no final deste ano seja benéfica, na prática, para Cabo Verde, e para todos os seus amantes/ intérpretes cantores e músicos/ compositores…

A maioria dos grandes festivais de Cabo Verde tem optado por apostar em artistas “populares” entre as massas, com pouco espaço para a música tradicional. Como tens visto esse fenómeno?

Os festivais programam em função do gosto do público e têm sucesso. Não há mal nenhum nisso. O que pretendem e queremos é que o público e os artistas fiquem satisfeitos. Nos grandes festivais ou em outro tipo de espaços ou festivais.

Gostavas de actuar mais no país?

Obviamente, gostaria de atuar mais em Cabo Verde. No sítio certo, no ambiente certo, onde estiverem as pessoas que queiram escutar música tradicional de Cabo Verde.

“Ódio” político entristece

Morando na Diáspora (Portugal) costumas seguir a actualidade de Cabo Verde? Como tens visto o desenvolvimento do país?

Sim, vou seguindo a atualidade de Cabo Verde. Hoje em dia é fácil através dos jornais online e abonei a TCV internacional há pouco tempo, o que é uma maravilha, poder ver as notícias e outros programas, para matar as saudades e estar informada.

Como todos os cabo-verdianos, dentro ou fora das ilhas, preocupam-me certas realidades e acontecimentos, assim como me orgulham coisas boas que também acontecem no país.

Entristece-me algum ódio que ainda persiste entre as principais forças políticas, embora seja facto que somos um país exemplar em termos de democracia, se compararmos com outros do nosso continente e não só. As estatísticas comprovam-no.

Voltando à tua carreira, além do espectáculo “Manhã Florida”, fala-nos de outros projectos que tens vindo a integrar?

A prioridade, neste momento, é promover e cantar o novo álbum Manhã Florida. No entanto, estou sempre aberta e vão chegando convites para participar em outros projetos com colegas artistas de Cabo Verde e não só. Para este ano, talvez uma surpresa…o reviver de um projeto pelo qual nutro imenso carinho…

O que podemos esperar dos dois concertos no Mindelo e Praia?

Para os dois concertos do Mindelo e da Praia, pode esperar-se uma Nancy muito feliz e grata por poder cantar as “suas” canções para o “seu” público. Um público que me “mima”, gosto disso! Não dizem que as mulheres são movidas a carinho? Acredito que as pessoas são…Minha equipa e eu estamos a tratar de levar o concerto para todas as ilhas do nosso Cabo Verde.

“Manhã Florida” veio seis anos depois de lançares “Nô Amá”. Vamos ter de esperar mais seis anos por novos projectos?

Meu disco anterior foi editado em 2012. Não previ que o lançamento do álbum novo seria em 2018, como não posso prever para quando será o próximo. Não quero ter essa pressa, nem pressão. Preciso viver e saborear o momento presente.

Preciso agradecer ao público cabo-verdiano. Tenho sido acarinhada por onde tenho passado, um pouco pelo mundo, mas o milagre que os Santos da minha casa – Cabo Verde – têm feito por mim, não tem par, tem sabor único!

 

Nancy Vieira ao natural

O que ouves no teu dia a dia? Não escuto muita música em casa… Gosto de vários géneros, não só de Cabo Verde.

Um livro na mesinha de cabeceira ou na bagagem de mão? “Uma pequena sorte” da argentina Claudia Piñero.

Uma cidade? Amsterdão .

Campo ou mar? Mar. Mas gosto, cada vez mais, do campo.

Uma cor? Azul.

Uma flor? Girassol.

Um compositor? Tantos…

Um/a intérprete? Bana.

Morna ou coladeira? Morna.

Batuco ou funaná·? Funaná.

O que te faz rir? Tenho o riso solto!

O que te faz chorar? Tudo o que é comovente, histórias de livros, cenas de filmes…

O que fazes questão de fazer sempre que vens a Cabo Verde? Comer “fatiota” e comida de terra.

Um sonho por realizar? Viver em Cabo Verde, num lugar calmo…

 

Entrevista: Gisela Coelho

 

 

PUB

PUB

PUB

To Top