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Opinião

Zeferino José Lopes (Zé Lopes), suas aventuras e desventuras por terras de São Tomé e Príncipe

 

Por: Nataniel Vicente Barbosa e Silva

Zeferino José Lopes ou “Zé Lopes” como é popularmente conhecido, trata-se pois, de um septuagenário prestes já a entrar na casa dos 80. Um homem simples, afável, simpático e sempre aberto ao diálogo. Nascido a 20 de Novembro de 1939 (2ª feira) na Ribeira de São Miguel, no sítio de Pé da Rocha num dia consagrado ao Santo Edmundo, martirizado em 20 de Novembro do ano 870. O Santo é venerado em Inglaterra.

José Lopes é oriundo de uma humilde família: Francisco Lopes e de Etelvina Varela. 1º filho deste casal,   avança contudo que o pai fora progenitor de mais outros 20 fora do lar conjugal. Confessa que ele próprio também faz parte desse tal chamado (cá entre nós) absurdamente “fidju fora”. Zeferino muito cedo se entregou ao mundo do trabalho e aos 7 anos de idade conheceu também os banquinhos da escola mas no entanto foi sol de pouca dura porquanto nesse mesmo ano, isto é, em 1947 embarca com os pais para as ilhas de São Tomé e Príncipe período em que Cabo Verde atravessava uma das piores crises cíclicas da sua história, o chamado: “fome de 47” em que centenas de vida foram dizimadas provocando um êxodo sem precedente na história da emigração cabo-verdiana de um modo específico às ilhas de São Tomé e Príncipe. “Fomi 47” foi efectivamente um drama que marcou profundamente uma geração de pessoas que jamais apagará na memória de quem particularmente viveu na pele essa situação.

     Codé di Dona o célebre homem da gaita e funaná (cantor e compositor) que também experimentou essa amarga aventura deixa-nos esse triste testemunho: “Era na 59, txuba skoreganu, dizanimadu nha bida, N toma barku N ba San Tomé”. Família “Lopes” regressa à terra natal  Após seis anos de permanência no arquipélago a família “Lopes” regressa à Cabo Verde e se instala na Ribeira de São Miguel de onde partira.

Ora do arquipélago de São Tomé e Príncipe Zeferino Lopes pouca história tem a contar uma vez que de lá regressara com os pais na casa dos seus 13 anos.

     Estávamos no ano de 1953, Zeferino já então na fase de adolescência entra novamente em contacto com a escola onde estuda e consegue tirar 2ª e 3ª classe com o professor José Ferreira.

Zeferino José Lopes aventura-se sozinho para São Tomé e Príncipe

Assim, em 1958 Zeferino Lopes em plena juventude na casa dos 19 anos deixa então a sua terra natal e o aconchego familiar e lança em aventuras à procura de um novo horizonte às terras de São Tomé e Príncipe. Desta feita parte sozinho e instala-se na roça Rio d’Ouro. Mas, ao longo da sua estadia em São Tomé e Príncipe transita por várias outras roças.

Em São Tomé trabalha arduamente e, apesar de contrariedades várias consegue enfim se estabilizar. Sublinha: ” Situason era konplikadu N odja txeu diferensa i abusus na San Tomé”. Zeferino muda de semblante e conta um episódio que lhe marcou: 

“Un dia, diz ele: mi xintadu ku kunpanherus ta toma fresku txiga un individu (kabu-verdiano) ku un faca na mo e txiga e spreta un branku na klavikula (ombro) e larga faka spretadu na onbru di omi e perdi mas pulisias dipoz ben panhal e odja seu (céu) pa kololu. Ez panhal ez fulial suma saku dentu karu mas mesmu asin e flaz me ka rapendi di kuza ke fazi pamodi e staba fartu di abusu des branku. Coisas do passado. Zeferino já um pouco mais recomposto conta que nas roças apesar dos momentos difíceis de que muitas vezes passavam os cabo-verdianos havia também momentos de lazer e de descontracção. A gaita era o instrumento predominante nos convívios. Talentos não faltavam particularmente no que se refere à arte de cantar e tocar (tradição de terra) cada um dava asas à sua imaginação. Salienta que nessa camaradagem havia um homem de nome Tibúrcio que tocava a gaita razoavelmente bem que tornou-se muito seu amigo. Adianta: “ Tibúrcio odja ma N tinha geitu ku toka e flan: Moz, N ta xinau toka ti ki bu prendi.” Ressalta: “Oxi mi N ka di kez midjor, mas, tanbe N ka di  kez pior. “ 

Zeferino Lopes regressa definitivamente a Cabo Verde

Após 28 anos de permanência nas terras de “cacau e café” o “Zepherin” já um homem maduro deixa as ilhas encantadas rumo à sua terra natal desiludido mas não arrependido dessa aventura, ficando para trás uma prole de 8 filhos.   

      Zeferino Lopes inicia uma nova vida em Cabo Verde

Zeferino Lopes reinicia a vida na sua terra e na sua própria ribeira onde o viu nascer. Um ano depois veio a conhecer uma rapariga da zona: Maria Sábado Lopes Tavares (Romana) com quem passou a viver maritalmente até à data com a qual teve mais 3 filhos. O último conta com 21 anos de idade. Tal como o pai e mãe também entende os segredos da gaita seguindo as pisadas dos dois. Estamos assim perante um caso “sui generis” em Calheta São Miguel onde residem os três. Vamos entrar em detalhes sobre o assunto um pouco mais a frente.         

Zé Lopes como é conhecido em Calheta onde vive há mais de 22 anos hoje já perto dos 80 não trabalha apenas beneficia de uma pensão de velhice de 4 900$00 dos Assuntos Sociais. Verificamos que efectivamente em casa do Sr. José Lopes existe uma gaita bastante degradada segundo nos diz oferecido por um irmão seu há mais de 13 anos e, essa gaita mesmo em estado em que se encontra compartilha os três (pai, mãe e filho) nos momentos de descontracção.

        A nossa curiosidade levou-nos a tentar perceber um pouco sobre a experiência da mulher nesse instrumento, (gaita) que, como se depreende, algo pouco vulgar na nossa sociedade vendo uma mulher dominando a gaita. Zé Lopes foi nesse sentido muito lacónico em desvendar o segredo: “el e rasa di tokadoris omi.” Sublinha: si subrinhu ta sta na “kotxi po” si primu e profesor di muzika na Praia.” Conclui, exibindo um pouco o seu saber “ Mas, e mi ki N xinal toka.”

     Zé Lopes de fisionomia já um pouco mais sombria relata-nos um episódio com uma certa mágoa:” kuza ki nunka mas N ka ta skesi e ki un sinhor li di Kadjeta ki mi era guarda na si propriedadi na kadjetona oferesen un bez un gaita novu kuando N ba buska na Praia undi e ta moraba N atxa omi dja muda di ideia konpletamenti pamodi algen ligadu a paicv dja stragaba el kabesa pa ka dan gaita pamodi mi e di mpd. Dja N fika sen gaita ti oxi. Kuzas di mundu nhu ka ta intendi pamodi nen paicv e nen mpd ka lenbra di mi ku gaita novu. N fika ku nha gaita bedju ta distranka. Na verdadi go mi e di mpd.” Sorte malvada! Bom, assim sendo é melhor não pertencer a nenhum Partido evitando a desilusão. A ser verdade as versões do Sr. José Lopes o que não duvidamos, essa pessoa foi incoerente consigo próprio. Pela experiência conhecemos pois, a “franqueza” e fraqueza dos nossos irmãos “verdianos”. (Aqueles que são naturalmente). 

Não podemos terminar este trabalho sem deixar uma palavra de apreço à nossa Câmara Municipal de São Miguel  que vem desenvolvendo neste momento um trabalho digno de nota em prol dos seus munícipes o que não deixa de ser como é evidente um orgulho para os micaelenses tanto dentro como fora do país. Formulamos votos que continue na mesma senda. 

À família “Zeferino José Lopes”os nossos sinceros agradecimentos pela atenção que nos tem dispensado. Votos de muita saúde e muita paz.

Hasta la próxima.

Tarrafal, 22 de Outubro de 2018.

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