Em entrevista à Lusa, em Lisboa, Welwitschea ‘Tchizé’ dos Santos, que é também empresária e filha do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, afirmou que encontra em Portugal um clima de “preconceito” para com africanos e afrodescendentes que não encontra noutros países ocidentais.
“Hoje, antes de vir para aqui, fui para um ‘shopping’ almoçar e todas as pessoas que eu via que eram africanas, que estavam ali a trabalhar, estavam a servir à mesa, estavam nas cozinhas, algumas a dobrar roupa nas lojas. Quando chego a Angola e vou para o ‘shopping’, os portugueses que eu vejo são os donos das lojas, são os membros do conselho de administração”, criticou.
“Porque é que quando se vai a África e se vê um português, em qualquer situação ele está numa situação de vantagem, ou de igualdade na pior das hipóteses, e quando se vem a Portugal e se vê um africano ele está sempre numa posição de desvantagem”, apontou, admitindo o “ressentimento e tristeza” dos angolanos perante este cenário.
Casada com um cidadão portugueses e com filhos luso-angolanos, ‘Tchizé’ dos Santos diz igualmente que nos negócios que tem em Portugal nunca encontrou africanos num balcão de um banco.
“Quando vou para um banco em Portugal nunca vi nenhum negro, eu nunca fui atendida por um negro no balcão, o único que conheci que chegou a diretor de um banco foi o Álvaro Sobrinho [Banco Espírito Santo Angola] e foi um milagre”, criticou.
“Vou para Angola e vejo brancos em todos os níveis”, mas “curiosamente, quando se vai a um bairro recôndito onde não há nada, não se vê brancos. Só se estiver lá a vender alguma coisa, ou a fazer solidariedade ou [for] o padre”, acrescentou.
Ainda assim, critica as declarações do colega deputado angolano, David Mendes (União para a Independência Total de Angola, UNITA) que, em pleno parlamento angolano, no final de dezembro, disse estar “farto dos portugueses” em Angola.
“Foi uma infeliz intervenção (…) Obviamente que eu não estou em Portugal para criticar os portugueses e não digo que em Angola não haja racismo, que há. Mas em Angola, quiçá o que há é ressentimento e uma tristeza por parte dos angolanos, justamente por esta desigualdade, que faz com que os povos portugueses que lá estão, e que até estão de coração aberto e de boa-fé, paguem por tabela por este desequilíbrio”, comentou.
Por isso, defende, é tempo de uma “reflexão” em Portugal sobre as oportunidades nas duas sociedades, que, ainda assim, assume, têm vindo a convergir nos últimos anos.
“Eu convidaria os portugueses todos a refletirem, a porem a mão no coração, sobre a maneira, sobre o espaço que é dado aos afrodescendentes e aos africanos em Portugal. Inclusive solidarizo-me e fico mais triste pelos portugueses que são afrodescendentes, porque eu por acaso até me casei com um português e os meus filhos são portugueses, são afrodescendentes”, disse.
“Não é uma questão de racismo, é uma questão de preconceito e de ignorância”, acrescentou.
Lusa