PUB

Opinião

Seja metonímia da nossa Babel de Livros

Por: Filinto Elísio

 

“Em aventuras como essas, prodigalizei e consumi meus anos” – Jorge Luiz Borges

 

Não há dúvida que foi um gesto bonito. Um gesto quase poético. A Biblioteca Nacional de Cabo Verde ter recebido, em doação da professora e curadora Simone Caputo Gomes*, o acervo do escritor cabo-verdiano Luís Romano, composto de mais de mil livros e mais itens pessoais. Na cerimónia, a Embaixada do Brasil em Cabo Verde entregou também outros tantos livros doados pela sociedade civil brasileira. Um gesto emblemático ainda este da fragata, da Marinha de Guerra Brasileira, desembarcar livros no nosso país; emblemático e de fazer escola, note-se. Assumamos o redondo número mil e sonhemos (em voz alta) como seria se cada país dos nove da CPLP pudesse doar mil livros às bibliotecas nacionais dos demais de língua oficial portuguesa – disponibilizando e recebendo 8 mil títulos -, realizando a rede/acervo de uma pequena Biblioteca de Babel e cumprindo um dos pilares da criação da Comunidade, em 1996 – a promoção e difusão da língua portuguesa. Esse gesto que foi bonito e quase poético, diria que metonímia de uma boa prática do fazer bibliográfico maior (e exequível), desafia-nos sobre maneira. Torne-se ele o nosso abrir da Caixa da Pandora e que nesta caiba, não os males do mundo prodigalizados por Zeus, como no-los contou Hesíodo, mas sim livros, livros à mancheia, tão verosímeis quanto os da ficção de Jorge Luiz Borges.

 

Paulo VI

Aplaudo, com sentido de história, a canonização do Papa Paulo VI, que exerceu seu pontificado entre 1963 e 1978. Este será santificado ainda este ano, assegurou o Papa Francisco, em anúncio feito pela Santa Sé. De Paulo VI marcaram-me “dois atos”: o de ter completado o Concílio Vaticano II e o de ter recebido em audiência Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Marcelino dos Santos, a 1 de julho de 1970, ao término da Conferência Internacional de Solidariedade com os Povos das Colónias Portuguesas, em Roma. O Papa do “Populorum Progressio”, documento entregue aos líderes anticoloniais, e a Conversa em Família, proferida uma semana depois por Marcelo Caetano…

 

Fernando

Fernando Tordo, excelente artista português, então ao escolher viver pelo Brasil, foi apupado pelos imbecis de serviço e em reação à perfídia da vil mediocridade, escreveu assim ao filho: “”Tentação de devolver os insultos com o vernáculo que bem me conheces e és admirador? Não. O que fica, meu querido filho, é a tua carta”. Continue livre e gauche, Fernando, que você bem merece tamanha “soltura”…

 

Da excessiva realidade

O excesso da realidade, quando se descamba para a mediocridade, leva as pessoas por certa itinerância. Pessoalmente, creio que por poética viagem. Agora me lembrei da frase de Friedrich Nietzsche em como “a arte existe para que a realidade não nos destrua”. Ou o triste Albatroz, de Baudelaire, com as suas asas imperiais caídas sobre as tábuas do convés, mas que, de repente, humilde e constrangido, possa escapar e voar, como um poeta e ser o “príncipe das nuvens”.

 

A gente precisa ver o luar

 Existencialista, às tantas, em segunda lua sequencial, lua azul que se diga, pôde Fernando Tordo seguir seu caminho de ouvir Gilberto Gil, posto que “a gente precisa ver o luar”…

 

FLMSal 2018

 A 2ª edição do Festival de Literatura-Mundo do Sal acontece de 21 a 24 de junho, em homenagem aos escritores Mário Fonseca e Jorge Luiz Borges. O Festival é aberto a todos quando encaram e visionam a literatura como um património-mundo. Sim, com hífen e vamos tematizá-lo com causa…e consequência.

*Por quem resguardo amizade e apreço

PUB

PUB

PUB

To Top