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Cultura

Vinicius Sarmento, guitarrista brasileiro de sete cordas, actua hoje na Praia e amanhã no Mindelo

O jovem talento da guitarra brasileira de sete cordas Vinicius Sarmento encontra-se em Cabo Verde para uma residência artística com colegas cabo-verdianos e dois espectáculos: um na Praia, esta sexta-feira, 7, no Palácio da Cultura Ildo Lobo, às 19h30, e outro no sábado,8, no Centro Cultural Português do Mindelo, às 19 horas. Em entrevista ao A NAÇÃO, Vinicius revela que veio a Cabo Verde de “peito aberto” para “aprender”.

O convite partiu da Embaixada do Brasil em Cabo Verde e Vinicius Sarmento não poderia ter ficado mais feliz, pois, não só é a sua primeira vez no arquipélago, como também num país africano. “Conheço muito pouco sobre o violão cabo-verdiano. Conheço Cesária Évora e um pouco de Morna… por isso, vim para ouvir e aprender os vossos ritmos. Vim de peito aberto para aprender a vossa cultura e passar um pouco daquilo que é o violão brasileiro”, disse ao A NAÇÃO.

Na cidade da Praia, Vinicius está a ter a oportunidade de partilhar uma residência artística com colegas como Manuel de Candinho (que é o director artístico da residência), Palinho Vieira, Nônô di Ano Nobu, Jo di Bango, Metchas, Fani di Anu Novu, Filipe Gonçalves, Kim di Nanda, Pascual e David Mendonça.

E o resultado da residência será revelado após o seu concerto a solo esta sexta-feira,7, no Palácio da Cultura Ildo Lobo, pelas 19h30, com entrada gratuita. “Provavelmente vai ser uma mistura do Brasil com Cabo Verde, devemos fazer um baião, um choro, um frevo, uma coisa brasileira e fazer também uma música típica daqui. O objectivo da residência é esse”, explica.

Vinicius não esconde que valoriza “bastante” a troca de experiências entre músicos, na sua carreira. “Já fiz isso em Portugal, onde passei um mês fazendo residência artística e acho interessantíssimo poder agregar valores de outros lugares”.

“Um estudo diferente”

Natural do Recife, esse instrumentista, de 26 anos, fala com paixão sobre o violão de sete cordas. “Estruturalmente, o violão de sete cordas não muda tanto, porque é um violão de seis com a corda mais. O braço é um pouco mais largo para caber a sétima corda. Só que o que isso implica na linguagem musical. Surgiu como instrumento de acompanhamento na década de 40 no Brasil e há várias teorias acerca de como esse instrumento chegou no Brasil. Uns dizem que foram os russos, outros que foram ciganos…portanto, não há um consenso”, conta sobre o surgimento desse violão.

Inicialmente, o violão de sete cordas começou por ser incorporado no choro e como um instrumento de contraponto, como conta, “mais ou menos” a função que um contrabaixo exerce numa banda de rock ou jazz. “É a função que o sete cumpria como instrumento de acompanhamento dos bordões”, revela.

Mas, com o desenvolvimento do instrumento começaram a surgir solistas e ele foi-se desenvolvendo. “Hoje é um instrumento meio camaleão que se encaixa numa infinidade de ritmos brasileiros, porque é um instrumento de acompanhamento muito completo porque tem uma faixa de frequência imensa (grave, agudo, médio) e é um instrumento solista”.

Vinicius não acredita que seja “mais difícil” tocar o violão de sete cordas do que o convencional de seis, mas sim que “ele exige um estudo diferente”. “A sétima corda é uma corda mais grave do que a grave da de seis cordas. Costumo fazer a analogia de que é como se fosse um piano com algumas teclas a mais para a mão esquerda, com algumas frequências graves a mais para explorar”, afirma.

O nosso entrevistado considera que a música tem um papel “grande” na cultura dos países lusófonos, unida pela língua e multiplicidade de sons e ritmos. “Angola é muito musical,  Cabo Verde é muito musical, o Brasil e Portugal, também.  A própria África é muito musical, e acho que o cruzamento da língua com a sonoridade, com a precursão, com o ritmo de cada povo, essa mistura deu nisso. Acho que a língua portuguesa casa muito bem com a canção, é uma língua muito forte e completa”.

Vinicius Sarmento dedica muita horas do seu dia ao violão e as escadas são o seu lugar preferido, por causa da acústica. “Quando toco violão sinto que não poderia fazer outra coisa”.

Perfil

Vinícius Sarmento, violonista e compositor, nasceu no Recife, Pernambuco, numa família tradicionalmente musical. Foi com o pai que aprendeu os primeiros acordes. Aprendeu aulas de violão popular com seu tio Ewerton Brandão, o Bozó, no Conservatório Pernambucano de Música.

Influenciado pelas gravações do padrinho Raphael Rabello e pelos encontros com o tio Bozó, decidiu, aos 14 anos, comprar seu primeiro violão de 7 cordas. Desde então, vem desenvolvendo uma linguagem própria, ao fundir a escola tradicional do choro, que tem como expoente máximo Dino 7 cordas, com uma abordagem mais moderna do instrumento, inaugurada por Raphael Rabello e reinventada por Yamandu Costa.

Apresentou-se pela primeira vez aos 10 anos, mas só em 2010, aos 18, iniciou sua carreira a solo.

GC

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