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Opinião

Misterioso desaparecimento no mar De Tarrafal de dois pescadores

Por: Nataniel Vicente Barbosa e Silva

 04 de Dezembro de 2017 a Cidade de Mangui entardeceu em sobressalto com a tragédia de dois pescadores desaparecidos no mar (pai e filho). Um ano depois da ocorrência os familiares embora enlutados alimentam ainda alguma esperança de que os mesmos estejam vivos. Hoje, 04 de Dezembro de 2018 o ambiente em casa é de muito recolhimento. De manhã como é tradição na nossa cultura foi rezada uma missa pela alma dos dois pescadores seguindo depois o cortejo para casa dos familiares obedecendo aí todos os rituais do falecimento de um ente querido.

Perante este drama aflora-nos à ideia duas hipóteses: A primeira a mais animada mesmo que seja ela muito remota: terão estes pescadores de facto sobrevivido às fúrias do mar? A segunda hipótese: a mais constrangedora obviamente e a mais plausível naturalmente: não terão estes dois homens perecidos no momento logo confrontados com as ondas gigantescas que inesperadamente se levantaram? Com base na opinião de pescadores conhecedores do local onde se encontravam os dois a pescar lamentavelmente é pouco provável que tenham sobrevivido. Mas, como se costuma dizer, a esperança é a ultima a morrer.

 

Entre a incerteza e esperança vivem pois, os familiares de dois pescadores.

Mário e Toku (nome dos dois malogrados) se fizeram ao mar efectivamente naquela fatídica manhã de segunda-feira do dia 04 de Dezembro de 2017 e não regressaram à casa. Apesar de incessante buscas por pessoas experientes na lide do mar não foram localizados. Os serviços de Capitania até hoje (04.12.18) não encontraram alguma pista.

Vamos conhecer um pouco as andanças no mar destes dois homens

Mário                                                                            Toku

Começamos pelo primeiro: Mário Correia Semedo nasceu em Colhe Bicho arrabaldes da cidade do Tarrafal no seio de uma família de humilde condição social: Virgínia Correia Semedo (Nha Tuxa). Hoje falecida. Entre os 10 filhos de NhaTuxa é o 2º na lista de 9 irmãs (único rapaz a cuidar das 9 raparigas). Entretanto, Mário passou os primeiros 7 anos de vida em Chão Bom aos cuidados de uma senhora amiga da mãe.

 

Aos 22 anos de idade se casou com Maria Manuela Gomes Queijas. Esta na casa dos 20 recorda que o enlace aconteceu na Igreja Paroquial de Santo Amaro Abade em 23 de Junho de 1979. Dessa união resultara 5 filhos: 2 rapazes e 3 raparigas. A última filha hoje com 24 anos de idade sofre infelizmente de atraso mental desde criança na sequência de uma meningite.

Vida de mar de Mário

Mário Correia Semedo começou bem cedo às lides do mar. Conta a esposa que Mário aos 11 anos de idade já se aventurava às pescas. Que em casa preparava-se para a escola mas o destino afinal era o mar. Que só mais tarde a mãe viria descobrir que o Mário não ia à escola mas sim à pesca em companhia de pescadores antigos habituados nessa tarefa. Adianta a esposa que desde que se juntou ao Mário por casamento em 1979 ao longo da sua vida o sustento da família foi sempre dependente do mar graças ao sacrifício do marido. Que em casa Mário era uma pessoa muito divertida e dava-se com toda a gente, por isso deixou muitos amigos.

Mário enfrenta a primeira tragédia no mar

Quase coincidência: Em 04 de Novembro de 1999 Mário saíra à pesca na ilha do Sal onde se encontrava acompanhado de um colega, foram levados pela corrente e aí estiveram à deriva cerca de 5 dias sem água e sem comida. Por forças misteriosas foram aparecer na pequena baía de um lugar do Concelho do Tarrafal denominado “Porto Formoso”. Conduzidos à casa foram recebidos como “heróis ” pela família e população e a festa foi grande como se pode imaginar. Por insistência da mulher e de alguns amigos, Mário deixou a vida de mar por algum tempo encontrando na terra um outro meio de ganha-pão. Mas, como é natural, todo o ser humano trás na alma aquela legitima aspiração de viver da sua própria profissão. Assim, o Mário não se resignou com a vida na terra e se lançou de novo às azáfamas do mar consciente dos seus riscos e o sustento da família em casa nunca faltara.

Assim, com este último acontecimento do dia 04 de Dezembro de 2017 acabou lamentavelmente a vida de mar de Mário de forma trágica levando consigo o filho no mesmo destino. Convém salientar que os dois eram o principal amparo da casa. A mulher, já com uma certa idade e em estado permanente de choque sendo hoje uma pessoa que necessita na verdade de todos não só do apoio material mas também do apoio moral ou espiritual se assim preferir.

Laurentino Gomes Semedo (Toku)

Quanto ao Laurentino (Toku), a sua história das azáfamas do mar não abunda tanto uma vez que só a partir de Setembro de 2016 se lançou nessas aventuras fazendo companhia ao pai. Nascido a 29 de Março de 1983 em Colhe Bicho. Exercia antes da tragédia profissão de pedreiro como seu ganha-pão.

De temperamento calmo segundo relata a mãe, divertia-se como qualquer jovem da sua idade, tinha também os seus projectos como qualquer um. Deixou um filho na casa dos seus sete anos encontrando-se em cuidado da mãe. Terminamos este apontamento com os nossos mais profundos sentimentos à viúva e aos filhos votos de muita coragem e que ultrapassem esta situação.

Aeternum!

Tarrafal, aos 04 de Dezembro de 2018.

 

 

 

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