PUB

Opinião

4. Sugestões para a melhoria e preservação prolongada da saúde e da qualidade de vida

Por: Arsénio Fermino de Pina*

As Hormonas, descobertas nos fins do século XIX, são produzidas pelas glândulas de secreção interna, lançadas directamente na corrente sanguínea. Descobriu-se, posteriormente e muito recentemente, que quase todos os nossos órgãos produzem hormonas, como é o caso das células adiposas que, como vimos, produzem a leptina (=hormona da saciedade) e as do estômago, a grelina (=hormona da fome). Aos 50 anos de idade temos cerca de metade quantidade das hormonas que tínhamos aos trinta anos. Assim sendo, porque não tratar esta carência? Não entro em pormenores sobre o assunto devendo ser o tratamento ser orientado por especialista do ramo (endocrinologista) – nunca fazer automedicação -, mas posso informar, por exemplo, que a testosterona (hormona masculina) pode ser administrada por injecção ou através de gel aplicada à pele (“Testogel”), e a ocitocina, uma das hormonas femininas (o “viagra” da mulher), por spray nasal. O receio que há de a testosterona poder provocar cancro da próstata não é inteiramente verdadeiro, desde que, antes, se faça um estudo do estado do órgão, não se abuse na dose e se controle o estado da próstata periodicamente, de 6 em 6 meses, através do teste PSA, que nos informa de alterações suspeitas desse órgão. Entre os vinte e trinta anos, a taxa sanguínea de testosterona é máxima, e não há cancro do órgão nessa idade. Existe no mercado farmacêutico, uma forma de testosterona – undecanoato de testosterona – que pode ser administrada 4 a 6 vezes ao ano intramuscularmente. As mulheres, como bem sabemos, também beneficiam com a administração hormonal a partir da menopausa. Deixo de lado as outras hormonas que exigem controlo mais aturado por especialista.

Falando de genética e epigenética (era posgenética, ligada aos efeitos do meio ambiente e aos novos comportamentos de vida), o médico que venho seguindo nestes textos tem uma expressão sugestiva: “A genética não é o destino, embora ponha a bala na câmara; é o estilo de vida – a epigenética – que puxa o gatilho”, o que quer dizer que nascendo com um gene de malignidade, este manifestar-se-á mais cedo ou não, conforme o tipo de vida que se leva ou se é sujeito pelas contingências da vida. Quando se descobriu a composição do genoma humano, pensou-se que se poderia resolver os problemas da maioria das doenças se aplicássemos terapias baseadas nos genes do nosso genoma que, desde 2003, se sabe ser constituído por 21.000 genes funcionais. Afinal, somente cerca de 10% das nossas doenças são dependentes de genes; os 90% restantes são induzidos por factores ambientais. Nasceu assim uma nova ciência, a epigenética, que ensina como influenciar os nossos genes, modificando a sua expressão ou mesmo silenciando-os. Desde o aparecimento do Homo sapiens até agora houve cerca de 1% de mudança do património genético, mas o nosso meio ambiente, sobretudo alimentar, foi completamente transformado.

Com a idade vamos sentindo dificuldades na marcha, e isso deve-se ao facto de perdermos músculos à razão de 3 a 5% ao ano, aumentando para 10 a 20% depois dos 50 anos. O exercício físico regular, a nutrição, os suplementos e as hormonas ajudam a substituir as mitocôndrias que vão morrendo, melhorando a saúde, aparência e forma físicas.

As doenças autoimunes são caracterizadas por uma resposta imunitária errada contra os próprios tecidos da pessoa, resultando em inflamação prolongada e subsequente destruição dos tecidos. Por exemplo, na artrite reumatoide, na qual são as articulações a serem afectadas, entre muitas outras doenças como a D. Celíaca, o lúpus eritematoso agudo, a D. de Crohn, a colite ulcerosa,etc.

À medida que vamos envelhecendo, o nosso sistema imunitário de defesa contra as bactérias, vírus e outros corpos estranhos diminui de eficácia, sobretudo devido à acção de substâncias chamadas radicais livres. A essa falha há a acrescentar a glicação das proteínas e a acumulação destas proteínas glicadas que irão afectar mais ainda o sistema imunitário, o qual deixa de reconhecer essas proteínas como elementos normais de constituição do organismo e passa, em consequência disso, a atacá-las.

O tratamento convencional com imunossupressores e corticoide tem os seus limites devido aos seus efeitos secundários. Há investigações promissoras utilizando células estaminais em certos tipos localizados de doenças autoimunes, particularmente da artrite reumatoide.

Como em cerca de 80% das doenças autoimunes há alterações intestinais do tipo inflamatório que deixam passar para o sangue substâncias mal digeridas (o que lhe deu o nome de intestino poroso), deve-se eliminar tudo quanto lesa o intestino da alimentação do doente, a começar por alimentos que contêm glúten – trigo, centeio, cevada -, caseína – leite, manteiga, yogurte, queijo, e açúcar. Acrescentar à alimentação, probióticos artificiais, que contêm bactérias boas, mas, de preferência naturais contidos em certos alimentos (alho, nabo, pepino, etc.). Esquecemos ou desconhecemos que temos centenas de triliões de bactérias (microbiota) coabitando pacificamente connosco e beneficiando-nos, nos intestinos, como hospedeiros comensais, por comerem o que deixamos para elas.

O estudo das doenças autoimunes chamou a atenção para a saúde dos intestinos por aí se localizarem cerca de 70% do sistema imunitário e terem um sistema nervoso autónomo de cerca de cem milhões de neurónios ligados ao cérebro pelo nervo vago. Daí o interesse de afastar da alimentação todas as proteínas capazes de alterar o seu estado tornando-o poroso: glúten, gliadina e caseína. O intestino poroso manifesta-se também quando um mau regime – espécies erradas de bactérias que proliferam em meio açucarado, drogas ou alimentos que funcionam como alérgenos – atinge os intestinos. Estas bactérias, a exemplo do glúten, gliadina e caseína, podem penetrar na parede do intestino delgado, alterando-o, e daí seguirem para a corrente sanguínea juntamente com partículas de alimentos mal digeridos, o que leva o sistema imunitário a atirar-se a elas como se fossem elementos estranhos ao organismo, germes invasores, aumentando o número de moléculas inflamatórias na corrente sanguínea, provocando inflamação sistémica. A única maneira de combater essa inflamação acompanhada de acidez causada por maus hábitos alimentares, é alcalinizar a alimentação e valorizar as bactérias benéficas do interior dos intestinos com probióticos. Os chamados prebióticos são ácidos gordos de cadeia curta não digeríveis que ajudam as boas bactérias a desenvolverem-se. O alho, feijão, aveia, cebola e espargos são boas fontes de prebióticos, enquanto o alho, abóbora, beringela, couve, cebola, nabo, pepino são igualmente boas fontes de probióticos. Uns e outros são promovidos por ácidos gordos essenciais do Omega 3 (EPA e DHA).

Das bactérias nossas comensais intestinais, 85% vivem em harmonia com proveito do hospedeiro (que somos nós) e as 15%, nem tanto, que convém manter dominados com uma alimentação correcta.

Duas autoridades mundiais do estudo do intestino poroso, David Perlmutter e Raphael Ackman, este último com um livro recente interessante intitulado “A cura dos intestinos”, chamam a atenção para o interesse da Vit.D3 a influenciar a expressão de cerca de 2.000 genes do nosso genoma (=10%). Segundo L. Mercols, a permeabilidade da parede dos intestinos pode ser medida doseando um substância química chamada lipopolissacarido (LPS) que reveste determinados tipos de bactérias do intestino. O seu aumento indica intestino poroso. Tanto no Alzheimer como na Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) encontra-se aumentada.  (Continua)   

Parede, Abril de 2018                                                                                                                                                                               

*Pediatra e sócio-honorário da Adeco 

PUB

PUB

PUB

To Top