A presidente do PAICV disse esta terça-feira, no Mindelo, que encontrou a classe dos armadores marítimos “desalentada” por ter sido “excluída” do concurso de concessão das linhas inter-ilhas.
Janira Hopffer Almada veio ao Mindelo “propositadamente” para se reunir com a Associação Cabo-verdiana dos Armadores da Marinha Mercante (ACAMM), como disse, e acusou o Governo de excluir “de forma ostensiva” os armadores nacionais da concessão das linhas entre as ilhas, entretanto já com empresa estrangeira vencedora.
“Neste momento temos um concurso intransparente, objecto de várias suspeições, com notícias a dar conta de um grande ziguezague, tudo na perspectiva clara e evidente de exclusão dos armadores nacionais”, ajuntou a líder da oposição, que questionou o primeiro-ministro e o Governo sobre o que está por detrás desta “tentativa de liquidar” os armadores nacionais.
É que, ajuntou, este é um país-ilhas com “problemas nos transportes aéreos” e se os tiver na área marítima, o país “não garante a coesão territorial e nem a mobilidade dos cabo-verdianos”.
Sobre o alegado desalento dos armadores, a presidente do PAICV referiu que havendo já uma concessão por uma companhia estrangeira para as linhas, mesmo que esses continuem a operar “não o vão conseguir fazer por muito tempo”, porque se encontram numa “situação de desigualdade, e não sobreviverão”.
“Para além das centenas de postos de trabalho e dos compromissos bancários, há a questão da coesão territorial e se essa empresa estrangeira vier, se o negócio não correr bem, se as linhas não forem rentáveis e decidirem ir-se embora, o que faremos”, continuou Janira Hopffer Alamada, que trouxe à colação uma “situação idêntica” que ocorreu, afirmou, “há bem pouco tempo em Moçambique”.
“Peço ao Governo, em nome dos interesses nacionais, que faça um concurso sério e transparente, evolva e integre os armadores nacionais na solução e, sobretudo, garanta que o sector não fique refém de interesses outros como nos transportes aéreos”, precisou Janira Hopffer Almada.
Até porque, precisou, a solução dos 25 por cento (%) da quota do mercado destinada aos armadores nacionais “não é razoável, nem aceitável e nem realista”, uma que que se trata de pelo menos 14 companhias marítimas, ou seja, cada uma “nem vai ficar com 2%”.
Mas, mesmo assim, lançou, o Governo diz “apenas parte da verdade”, já que “não diz que essas companhias devem entrar com um milhão de euros”, considerou, o que “não é realista para o país”, mas sim “uma forma de excluir os armadores nacionais sob a capa de concursos intransparente”.
“O Governo deve ter a humildade para reconhecer que não esteve bem até este momento neste processo e que deve fazer as correcções, envolver os armadores nacionais e dotar o país de melhor resposta”, ajuntou, pois, mais vale corrigir um processo que foi “mal iniciado” do que ir com o erro até o fim para os danos serem maiores depois.
Na reunião, que terminou ao início da tarde de hoje no Mindelo, a líder do PAICV fez-se acompanhar de dois deputados nacionais eleitos por São Vicente e do coordenador local do partido e outros responsáveis partidários.