A gala dos prémios The Best começou com uma surpresa e terminou, digamos, com uma decisão que podia ser uma surpresa, não tivesse ela vindo a tornar-se tão óbvia ao longo do tempo. A primeira foi a eleição do golo de Mohamed Salah como prémio Puskas (já lá vamos); a segunda foi a escolha de Luka Modric como melhor jogador do ano, destronando Cristiano Ronaldo — que tinha vencido as duas anteriores edições.
Mas, mais do que isso, Luka Modric escreveu uma nova era no futebol. Na última década, o prémio de melhor do mundo foi uma sucessão de cromos repetidos, surgindo sempre, de forma alternada, os rostos ou de Cristiano Ronaldo ou de Lionel Messi. Mas o duopólio foi encerrado — ou interrompido? — na segunda-feira (24)
Havia alguns sinais deste desfecho: Modric já tinha vencido o prémio de melhor jogador da UEFA, por um lado; por outro, havia a ausência já anunciada de Cristiano Ronaldo da cerimónia em Londres — justificada pelo jogo desta quarta-feira entre a Juventus e o Bolonha, para a Série A. Era esta a versão oficial, mas, na retina, estava ainda a ausência do português da cerimónia da UEFA, a tal que consagrou Luka Modric.
O capitão da seleção croata tinha já sido o melhor jogador do Campeonato do Mundo (no qual a Croácia foi até à final), e, tal como Ronaldo, venceu a Liga dos Campeões, o Mundial de Clubes, a Supertaça europeia e a espanhola ao serviço do Real Madrid. Mas, em comparação com o português,tinha números mais modestos: apenas quatro golos em 58 jogos (dois pelo Real Madrid e outros tantos pela seleção). Mas esta não foi a vitória dos números; foi a vitória de uma influência silenciosa, de um jogador que escapa aos holofotes— inclusive das estatísticas — mas que leva as equipas onde joga às costas.
Para trás, Modric deixou Ronaldo, que tentava a tornar-se o primeiro jogador a ser consagrado o melhor do mundo em seis ocasiões. E tinha argumentos para isso. O internacional português, que venceu as duas últimas edições dos prémios The Best e que já foi o melhor do mundo cinco vezes (2008, 2013, 2014, 2016 e 2017), transferiu-se este verão para a Juventus, deixando para trás uma temporada recheada de títulos e distinções no Real Madrid: venceu a Liga dos Campeões, o Mundial de Clubes, a Supertaça europeia e a espanhola.
No somatório entre a prestação pelos merengues e pela Seleção Nacional — onde foi até aos oitavos de final no último Campeonato do Mundo — apontou 54 golos em 55 jogos (44 pelo Real e 10 por Portugal). Também deixou a sua marca na Champions, não só ao vencer a prova, mas também ao ser o seu melhor marcador, com 15 golos (feito que acumula pela sétima vez na carreira).
Quanto a Mohamed Salah, ajudou o Liverpool a chegar à final da Liga dos Campeões — onde perdeu, precisamente, com o Real de Modric e Ronaldo — e foi ainda o melhor marcador da Liga inglesa, com 32 golos. Em 55 jogos, rematou de forma certeira por 47 vezes (44 no clube inglês e três pela seleção do Egipto).
É uma grande honra e uma sensação maravilhosa estar aqui com este troféu nas mãos. Quero felicitar Salah e Cristiano pela grande temporada que fizeram. Este prémio não é apenas meu, mas de todos os meus companheiros do Real Madrid e da Croácia e dos meus treinadores. Todos os sonhos podem tornar-se realidade“, disse o jogador quando subiu ao palanque para agarrar o prémio.
As percentagens finais
Pouco depois do final da gala, a FIFA anunciou as percentagens com os resultados finais. Luka Modric foi eleito com 29,05 por cento dos votos, contra os 19,08 por cento de Cristiano Ronaldo, que ficou em segundo lugar. Mohamed Salah foi o escolhido por 11,23 por cento dos votantes.
Destaque ainda para Lionel Messi, que terminou em quinto lugar, com 9,81 por cento dos votos, atrás do jovem Mbappé, que reuniu 10,52 por cento. A lista é completada por Griezmann (6,69 por cento), Hazard (5,65 por cento), De Bruyne (3,54 por cento), Varane (3,45 por cento) e por Harry Kane, que terminou em último, com 0,98 por cento dos votos.
A bicicleta de Ronaldo frente à Juventus? A de Gareth Bale diante do Liverpool, que deu a Liga dos Campeões ao Real Madrid? A trivela de Quaresma ao Irão no último mundial? Nada disso. O prémio Puskas, este ano, não está para malabarismos. O vencedor foi mesmo Mohamed Salah, que reuniu 38 por cento dos votos dos utilizadores do site FIFA, pelo golo que apontou ao Everton, em dezembro passado.
O jogo decorreu debaixo de neve e o avançado egípcio recebeu no lado direito de costas, rodou, driblou dois adversários e atirou ao ângulo de Pickford. “Espero ganhar outro troféu”, disse, na altura de receber o troféu, referindo-se ao prémio de melhor jogador do ano, para o qual também estava nomeado. Ficou-se pelo Puskas.
Sem grandes surpresas, Didier Deschamps foi eleito o melhor treinador do ano pela conquista do Mundial ao serviço da França, no último verão. O selecionador gaulês superou Zlatko Dalic, com quem rivalizou na final do Campeonato do Mundo, e Zinedine Zidane, que levou o Real Madrid à conquista da Liga dos Campeões.
O selecionador assumiu a formação gaulesa em 2012, perdeu a final do Europeu, quatro anos depois, frente a Portugal, mas afinou agulhas edevolveu a França aos triunfos em Mundiais, 20 anos depois — curiosamente, o técnico tinha estado na conquista de 1998, enquanto jogador e capitão da equipa.
“Quero agradecer e felicitar os meus jogadores. Os treinadores não são nada sem eles e eles são os responsáveis por eu ter ganho este prémio”, disse Deschamps na altura de levantar o galardão.
Guarda-redes do ano
Thibaut Courtois foi o vencedor que se seguiu. O belga, eleito o melhor guarda-redes no último Mundial da Rússia pelo desempenho ao serviço da seleção que ocupou o último lugar do pódio, juntou a distinção à alcançada esta segunda-feira. O guardião, que esta época se transferiu do Chelsea para o Real Madrid, sucedeu a um autêntico gigante entre os postes, Buffon, que venceu o galardão no passado — a primeira vez em que foi atribuído.
“Estou orgulhoso e feliz por ter ganho. Obrigado a todos os que votaram e aos meus companheiros do Chelsea, Real Madrid e Bélgica e também à minha família e amigos, que estão lá nos bons e maus momentos”, disse o guardião.
Treinador de futebol feminino do ano
A França fez a dobradinha nos treinadores. Depois de Didier Deschamps ter sido eleito na categoria masculina, Reynald Pedros fez o mesmo na feminina. O técnico do Lyon superou a japonesa Asako Takakura e a holandesa Sarina Wiegman, que lideram as seleções nacionais dos seus países.
O prémio, entregue pela ex-treinadora da seleção alemã, Silvia Neid, e pelo selecionador inglês, Gareth Southgate, premeia o trabalho do técnico, que levou o clube francês à segunda conquista consecutiva da Liga dos Campeões e ainda terminou invicto a primeira divisão do campeonato gaulês.
O onze do ano
Depois de ser atribuído o prémio de adepto do ano ao Peru (pelo esforço de 40 mil peruanos que se deslocaram à Rússia para apoiar a sua seleção no Mundial) e o de fairplay a Lennar Thy (atleta do VVV Venlo, que ajudou um paciente com leucemia), foi altura de se revelar o onze do ano — e que, desta vez, contou com Cristiano Ronaldo e Lionel Messi: De Gea; Dani Alves, Varane, Sergio Ramos e Marcelo; Modric, Kanté e Hazard; Messi, Mbappé e Cristiano Ronaldo.
Jogadora do ano
Antes do anúncio do grande vencedor, foi a vez de Marta Silva receber (mais uma vez) o prémio de melhor jogadora do ano. A brasileira de 33 anos conseguiu, no feminino, o que nem Ronaldo nem Messi conseguiram ainda no masculino: ser a melhor do mundo por seis vezes.
A jogadora impôs-se à norueguesa Ada Hegerberg e à alemã Dzsenifer Marozsan, sucedendo à holandesa Lieke Mertens, que venceu na edição passada.
“Sempre desejei ganhar um prémio como este. Obrigada a todos os adeptos, jornalistas e peritos que votaram em mim”, rematou a jogadora ao receber o prémio.
Fonte: Observador