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Opinião

Djunga di Fátima e o seu interessante episódio: “Djanta fora”

Por: Nataniel Vicente Barbosa e Silva

 

Origem e significado de João Baptista

João Baptista: Significa “aquele que baptiza com a graça de Deus”.

É um nome composto por dois nomes de origens diferentes João e Baptista.

João vem do hebraico Iohanan, a partir da união de Yah “Javé, Jeová, Deus” e hannah, que quer dizer “graça”, e significa “Deus é cheio de graça, agraciado por Deus”.

João Baptista Ramos Monteiro ou simplesmente “Djunga di Fátima” 3º filho numa listagem de 10 irmãos de um humilde casal de Colhe Bicho arrabaldes da Vila do Tarrafal. O seu nascimento ocorreu numa terça-feira do dia 15 de Setembro de 1959. Data consagrada pela Igreja Católica à Nossa Senhora das Dores. Esguio, de um porte apreciável aparentemente pacífico, embora, afirma que realizou ao longo da sua juventude mais de 50 lutas (brigas) e sem um único K.O. Imagine lá! Deste “affair” iremos abordar um pouco mais a frente. Brincalhão, optimista, conversador e conservador das suas raízes. Descontraído e divertido sempre pronto a um bate-papo; no meio do diálogo inventa sempre uma anedota para fazer “relaxar” o seu interlocutor. Djunga di Fatima prefere identificar-se como «sanpa» de que como «badiu». Assegura pois, com uma certa “bazófia” ter apenas sangue de «sanpadjudu» segundo afirma, o pai é natural da ilha do Fogo, a mãe é originária de Santo Antão, mas de Santo Antão pouca história tem ela a contar tendo em conta que deixou a ilha aos 13 anos e se instalou na Vila do Tarrafal de Santiago. Aos 17 anos de idade se casou e aos 55 se enviuvou e presentemente vive em Portugal em companhia de uma das filhas. 

Djunga e as suas “traquinices:” 50 brigas e sem derrota

Adianta pois, que os seus melhores sucessos na juventude foram as brigas constantes por tudo e por nada. Conta que chegou de fazer guerra (briga) com os mais afamados “brigadores di Mangui”. Rapaziada do seu tempo, enfatizando, diz que fez mais de «50 guerras» e que nunca se lembra ter perdido uma só. Que brigava em jeito de brincadeira iludindo assim o adversário e que o «inimigo» logo à primeira «sova» ficava tonto e desorientado e a luta terminava. Só faltava na verdade ao seu “ringue” o célebre pesos-pesados “Mike Tyson” também ficava sem orelhas. O Mike não suportava tantas cabeçadas. Acrescenta entretanto que essas lutas já são coisas do passado. Que a sua luta neste momento é pela sobrevivência. Que os adversários de outrora são agora amigos de copo. 

Djunga: Homem do mar

Conta-se que Djunga foi em tempos um dos melhores mergulhadores de Mangui. 

Djunga entra na cena musical 

A música parece estar bem entranhada na alma do cabo-verdiano. Ora, no tocante à música consta que Djunga chegou de aventurar em dois grupos musicais como baterista: “GAMA/80 de Assomada “e “Pan-di-Bitchu  do Tarrafal”. Dois grupos que na época fizeram alguns sucessos na zona mas que tão cedo desapareceram sem deixar algum registo discográfico. 

Djunga di Fatima: nas páginas da história do Barbosa mágico

Djunga di Fátima foi ao longo da sua juventude como já fizemos referência uma pessoa muito divertida. Um dia, ao cair da tarde no velho edifício da Vila: “fabrica di pexi” como era conhecido, (hoje, infelizmente totalmente destruída e sem quaisquer vestígios) havia um espectáculo promovido pela Câmara Municipal onde o Barbosa mágico apresentava alguns dos seus números. No decorrer da sessão o mágico necessitava no palco de uma pessoa corajosa para o seu trabalho. Djunga foi o único entre os espectadores que se prontificou.

Filme da primeira aventura

De costas ao solo está ele estendido. Em cima do ventre é-lhe colocado um enorme pilão. Quatro jovens vigorosos posicionam-se para o «kotxi-midju». Inicia-se então o «manda-pau». O barulho do pilão na sala é mesmo atroador. O público inquieto murmura baixinho aguardando o desfecho da situação. O milho é «kotxidu» à pressa em ritmo acelerado à força muscular dos quatro jovens. O pilão é enorme, demasiado grande mesmo para o corpo de um mortal. Barbosa observa a situação com uma certa inquietação. Djunga suporta resignadamente a tarefa. O mágico vendo que a coisa poderia complicar-se decide pôr termo à “brincadeira” mas os quatro “impiedosos” não dão trégua ao trabalho. Aborrecido com a teimosia dos quatro indivíduos o mágico lança-lhes um ”ultimatum”. Com isto, o Djunga sai do “suplício” tão fresco como entrara. Uma brincadeira que poderia ser fatal mas que não deixa de ser uma linda peça teatral.

Filme da segunda aventura: “Djunga” escapa a fio de uma navalha

Desta feita, Djunga vai submeter-se a uma “intervenção cirúrgica” nas mãos do «magicien» que irá desempenhar o papel de «cirurgião». O mestre vai tentar demonstrar ao público o máximo do seu saber convencendo aos cépticos a sua verdadeira força e poder.

De tronco nu está desta feita o jovem estendido numa mesa entregue aos caprichos do Barbosa. Os espectadores ansiosos aguardam impacientemente o desfecho da situação. Posto isto Barbosa leva à mão uma faca bem afiada, preparando-se para a respectiva operação.    

Corte da energia eléctrica “trava a execução do plano”

No momento em que o Barbosa prepara-se para a tarefa regista-se repentinamente uma corte da energia eléctrica na sala e tudo fica às escuras. Entre risos e aplausos dos espectadores, o jovem abandona a “mesa de operação” escapando “in-extremis” de uma situação deveras complicada. O mágico arruma as suas ferramentas declarando encerrado o espectáculo. Recorde-se que Barbosa mágico foi um dos melhores ilusionistas conhecidos em Cabo Verde de que há memória.

“Djanta fora”

Não podemos terminar este trabalho como é evidente sem narrar aquela interessante história de “djanta fora” protagonizada pelo Djunga que serviu de mote a este artigo. Djunga como já ficou referenciado foi e continua a ser uma pessoa bem-disposta sempre pronta a inventar e a reinventar qualquer coisa para fintar a vida. Sem mais delonga vamos então “jantar fora com ele”: Numa tarde quente de um dia de Verão a mulher (sua companheira) preparava calmamente o seu jantar no quintal. Às tantas vai o Djunga ao quintal ter com ela transmitindo-lhe algo que não esperava: –“Kiminta, oxi nu sta ba djanta fora. A mulher estranha a proposta e responde:  Djanta fora? -Sim. -Djanta fora – Ripostou “Djunga”. –Na undi? Questiona a mulher. -Na undi ki d – Retrucou  “Djunga”. – Anton, assegura a mulher: -Dexan ba toma banhu, npentia prumeru -Sim. Concordou o “Djunga”: -Ba toma banhu faxi, bu pentia, nu sai.

A mulher providenciou rapidamente da sua banhoca e tratou do cabelo da melhor forma possível, na casa de um dos vizinhos, vestiu uma roupinha fresca e estava prontinha para sair, fugindo daquela rotina diária.

O lugar do destino do jantar ainda era uma incógnita. A mulherzinha radiante como um golfinho à flor da água discorria no pensamento qual seria o restaurante que iria pela primeira vez na vida se “exibir”, à moda de Bia di Bibi, como canta o saudoso Bana, na sua velha coladeira.

De repente, “Djunga” desfaz o sonho da companheira: arruma todos os utensílios destinados ao proposto “jantar” para fora da casa, colocando-os na varanda contígua à habitação e vira-se para a mulher com uma voz autoritária: -Trazi li jantar!

A mulher estupefacta, o interroga: – Djunga, bo bu ka fla ma nu sta ba djanta fora. Djunga responde:  Anton, li sin e ka djanta fora.

Bem, esperámos com este episódio ter proporcionado aos leitores alguns momentos de descontracção. “Djunga di Fátima”, hoje, nas vésperas de completar os seus 59 anos, apesar de algumas dificuldades com o seu estado de saúde continua, ainda, com o mesmo espírito de humor de outrora e muito empenhado no seu trabalho. Pai de sete filhos e alguns netos, vive hoje em casa de uma das filhas.

   Tarrafal de Santiago,  aos 03 de Setembro de 2018.   

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