O Papa Francisco lamenta a forma como a Igreja irlandesa respondeu aos crimes de abuso sexual, naquela que foi a sua primeira intervenção pública, no Vaticano, depois das acusações de que ele próprio teria escondido os crimes.
Na sua habitual intervenção das quartas-feiras, no Vaticano, o Papa considerou que as autoridades eclesiásticas da Irlanda falharam face aos crimes sexuais.
Francisco realizou uma visita de dois dias à Irlanda, onde esteve num famoso templo e rezou missa, depois de se ter encontrado com vítimas de abusos sexuais cometidos por membros do clero e/ou por autoridades e instituições católicas.
Francisco passou 90 minutos, no sábado, 25, a falar com oito vítimas de abuso, incluindo duas que foram forçadamente dadas para adopção quando nasceram, porque as mães não eram casadas.
São alguns dos milhares de adoptados irlandeses, cujas mães solteiras foram forçadas a viver em casas de trabalho.
Uma vítima, Clodagh Malone, disse que Francisco ficou “chocado” com o que lhe contaram, mas “ouviu cada um com respeito e atenção”.
O último dia da visita ficou marcado pela divulgação de uma carta do ex-núncio em Washington, o arcebispo Carlo Maria Vigano, que acusou o Papa Francisco de ter anulado sanções contra o cardeal McCarrick e de ter ignorado as descrições do seu comportamento homossexual predatório junto de jovens seminaristas e sacerdotes.
Na sua intervenção de quarta-feira, 29, Francisco omitiu uma linha que constava do texto preparado e que dizia ter rezado na Irlanda para que a Igreja tivesse força para procurar, “com firmeza, a verdade e a justiça” para ajudar a cura das vítimas.
Desde 2002, mais de 14 mil e 500 pessoas declararam-se vítimas de abuso sexual por padres na Irlanda. A hierarquia da Igreja irlandesa é acusada de ter encoberto centenas de sacerdotes.
Várias investigações também revelaram adopções ilegais de crianças filhas de mães solteiras, realizadas pelo Estado irlandês, com a cumplicidade da Igreja Católica.