PUB

Cultura

Investigadores encantados com vestígios de embarcação do século XVII nas águas de Cabo Verde

A recolha de informação faz parte da II fase da iniciativa CONCHA, um projeto de arqueologia subaquática da Cátedra Unesco – O Património Cultural dos Oceanos, financiado pela União Europeia e que envolve vários países.

A equipa, composta por especialistas do Instituto do Património Cultural (IPC) cabo-verdiano, de uma empresa de arqueologia francesa e da Universidade Nova (Portugal), começou este mês a II fase do projeto com trabalhos no Ilhéu de Santa Maria, aos vestígios do navio “Urânia”, seguindo-se trabalhos na baía de São Francisco, ambas na cidade da Praia, ilha de Santiago.

Há alguns dias que os mergulhos têm sido feitos no fundeadouro da Cidade Velha – património da UNESCO desde 2009 – onde os especialistas puderam confirmar a existência de um cemitério de âncoras e ainda parte de um navio, há muito conhecido como o “navio de madeira”.

“Não existia, até agora, nenhum trabalho de cartografia arqueológica nesta área. Ouvimos falar da existência de um navio de madeira, mas pouco mais se sabia”, segundo André Teixeira, um dos investigadores do projeto CONCHA e coordenador da área da arqueologia da Universidade Nova, em Portugal.

A pesquisa revelou-se frutuosa: “Deste navio foi recuperada uma importante parte do painel de popa, uma peça rara, num bom estado de preservação, com materiais associados”, disse à Lusa.

“O navio em causa – que ainda terá de ser muito estudado – será do século XVII, período de apogeu de tráfego de escravos e do papel de Cabo Verde como centro de navegação do Atlântico

O seu interior também agradou aos investigadores, nomeadamente as formas para a produção de açúcar, relacionada com a ribeira da Cidade Velha, assim como contentores de provisões em cerâmica.

Para André Teixeira, trata-se de um “contexto arqueológico muito interessante, raro à escala internacional e mais uma peça do material fabuloso” que a equipa do CONCHA encontrou em Cabo Verde.

O investigador sublinha que esta forma de fazer arqueologia representa um virar de página. “Durante uma série de anos, em Cabo Verde, houve exploração comercial do património subaquático e aquilo que é a nossa perspetiva agora, nossa e do IPC, é fazermos uma investigação com base nos princípios da UNESCO para a proteção do património cultural subaquático”.

Isto significa que o trabalho das equipas raramente passa por recolher as peças.

“A recolha dos materiais tem de ser uma recolha seletiva, porque desde logo há questões de conservação que se coloca”, recordou.

Hoje, o dia de trabalho da equipa do CONCHA contou com a participação do ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente, que se juntou aos investigadores para assistir aos trabalhos.

No final da visita ao local alvo das investigações, embora sem mergulhar, o ministro recordou aos jornalistas que durante muito tempo os historiadores foram falando dos vestígios que se encontravam no mar e que “podiam ajudar a contar a história de Cabo Verde”.

“Este projeto, muito mais do que o seu eventual valor comercial futuro, tem o seu valor de por lado a lado investigadores de Portugal e Cabo Verde num projeto internacional que une vários países no sentido de mapearmos e catalogarmos melhor as potencialidades de Cabo Verde nesse domínio e, principalmente, as baías de Cabo Verde, da praia da Gamboa, Ilhéu de Santa Maria e Cidade Velha”, afirmou.

Para Abraão Vicente, entre as várias possibilidades que a investigação oferece está a de abrir “um lastro de investigação para as universidades de Cabo Verde aprofundarem o seu conhecimento sobre a história” deste país.

O ministro reconheceu na equipa de investigadores “entusiasmo por algumas descobertas, nomeadamente um mastro de um navio de madeira que mostra alguma antiguidade”.

“Há motivos de entusiasmo do ponto de vista científico e investigação, mas não é um projeto que nos permita a curtíssimo espaço tirar demasiadas ilações. O mais importante é mostrar o campo científico que se abre para a investigação, o mapeamento e para que os cabo-verdianos conheçam de uma forma mais aprofundada o que se passou aqui, que tipo de transações se fazia, quem vinha nos barcos”, adiantou.

Segundo André Teixeira, os investigadores cabo-verdianos deslocam-se a Portugal em novembro, para ações de formação, estando previsto o regresso da equipa do CONCHA às águas de Cabo Verde em janeiro do próximo ano.

O CONCHA pretende explicar as diferentes formas pelas quais as cidades portuárias se desenvolveram em torno da borda do Atlântico no final do século XV e início do século XVI em relação aos diferentes ambientes ecológicos e económicos globais, regionais e locais.

PUB

PUB

PUB

To Top