Por: Arsénio Fermino de Pina*
A inflamação está reconhecida como a causa da maioria das doenças crónicas, sendo responsável pelo processo de envelhecimento e de 70% de todos os casos de morte. Trata-se de um tipo lento de inflamação, silencioso e invisível a olho nu, progredindo sem dar, ao longo de anos, qualquer sinal que aparece mais tarde como doença degenerativa, inicialmente com dores pelo corpo, fraqueza muscular, cansaço fácil, perturbações de memória.
Veremos mais adiante porque deveria dar-se prioridade aos sistemas integrados de saúde, ao estado dos vasos sanguíneos na prevenção da inflamação crónica.
Obviamente que o tipo de alimentação é essencial na conservação e melhoria da saúde. Há muitos preconceitos relativamente aos alimentos e a indústria agro-alimentar é uma das responsáveis (interesseiras) por esses preconceitos por influenciar o consumidor com informações enganosas ou falsas e promover os chamados alimentos de plástico, muitos bastante gostosos mas altamente nocivos ao organismo pelo seu alto teor em sal, açúcar e gorduras de má qualidade. Não admira pois a prevalência de obesidade e celulite no mundo ocidental que apareceu depois da introdução dos alimentos de plástico. Os óleos vegetais eram excelentes quando apareceram. Descobriu-se depois que em vez de serem produzidos somente a grandes pressões, se fossem aquecidos, a mesma quantidade de produto de base produzia-se o dobro da quantidade. Só que, as altas temperaturas destroem todas as qualidades desses óleos, adicionando-lhes substâncias cancerígenas devido ao excesso de temperatura na sua produção. Os únicos óleos vegetais de qualidade, saudáveis, são o óleo de coco, para fritar, e o azeite de oliveira, que ainda se produz a frio. Efeitos colaterais do capitalismo explorador das multinacionais agro-alimentares, que têm um poder económico tão grande que conseguem contornar todas as normas e leis de controlo alimentar.
Lancemos um golpe de vista pela água que consumimos. Sendo 65% do nosso corpo composto de água, tendo o recém-nascido 75 a 80% de água e o prematuro 90%, damos conta do interesse da qualidade da água. De resto, a vida começou no mar e daí passou para a terra firme. Interessa conhecer o Ph (grau de acidez e alcalinidade) da água e do nosso meio interno, isto é, do organismo. Há um facto interessante que é o cancro ocorrer em meio ácido e açucarado. O Ph da criança é alcalino e do idoso ácido, o que nos informa de que à medida que envelhecemos vamos acidificando. Portanto, quem quiser conservar a sua juventude deve manter-se alcalino. Já vimos os alimentos que nos mantêm com boa alcalinidade. Os muito alcalinos são: dos vegetais – espargos, sumos vegetais naturais, salsa, brócolos, espinafre, alho, algas, couve; fruta: limão, melancia, lima, torange, manga, papaia, figo, amêndoas, amendoim, semente de sésamo e de linhaça; óleos: de coco, azeite de oliveira e óleo de abacate; bebidas: chás de ervas, água com limão. Os alimentos muito ácidos: legumes enlatados, ameixa seca, marmelada e goiabada, trigo, pão branco, massas, carne de vaca e de porco, marisco, amendoim, cereja, bebidas alcoólicas, refrigerantes.
A maior parte das águas que consumimos, mesmo as minerais são, na maioria, ácidas, isto é, de Ph baixo, inferior a 7,4 (quando o Ph do sangue varia entre limites bem estreitos, 7,35 e 7,41). Tive a curiosidade de conhecer o Ph das águas minerais importadas em Cabo Verde: todas ácidas. A nossa água mineral da Trindade é a única que constatei ser alcalina, portanto, mais saudável do que as outras. A maioria dos refrigerantes tem um Ph de 2,5 (altamente ácido), além de excesso de açúcar ou de adoçante, tipo aspartame, a que chamam light ou zero em açúcar, que também não são saudáveis, questionando-se, actualmente, a inocuidade dos adoçantes. O único adoçante que até agora parece ser inócuo é o extraído de uma planta chamada Estévia com zero calorias. Portanto, preferi-lo, sendo o mel de cana preferível ao açúcar branco refinado.
Como a vida começou no mar e há mais animais marinhos do que em terra firme, desde os planctons, algas, plantas, mariscos, peixes de todos os tamanhos, mamíferos dos maiores na natureza, tendo a água do mar todos os tipos de sais dissolvidos carreados pelos rios e fornecidos pela chuva e ventos e um Ph de 8,4, uma das maneiras de se obter água com boa salinidade e sais é misturar água vulgar com água do mar colhida no alto mar. O modo prático de o fazer é retirar de uma garrafão de cinco litros de água mineral ou da torneira 1,4 litros de água que se substitui por água do mar. Se viver em local longe da costa poderá lançar em cinco litros de água duas colheres rasas das de chá de sal marinho. A água obtida não é tão leve como as outras mas, seguramente, muito mais saudável. Ter em conta que a água do mar contém 35 gramas de sal (cloreto de sódio) por litro.
O interesse adicional da alcalinidade da água de consumo é sabermos que o rim filtra duas vezes melhor utilizando água isotónica ou alcalinizada, favorecendo a normalização da tensão arterial.
Como somos bombardeados pela propaganda enganosa sobre os antioxidantes e radicais livres, vamos tentar esclarecer algumas falsidades e confirmar factos aceitáveis.
A teoria dos radicais livres derivados do oxigénio foi proposta por Harman em 1956, radicais responsáveis pelo dano provocado em células e tecidos. São desperdícios ácidos, metabolitos altamente reactivos produzidos naturalmente pelo organismo, devido ao metabolismo celular, da produção de energia pelas mitocôndrias e da resposta biológica às bactérias, vírus e toxinas ambientais, tabaco, excesso de insolação, detergentes, álcool, cosméticos, etc. O nosso sistema imunitário de defesa utiliza-os para atacar as bactérias e vírus invasores. Quando em excesso, provocam stress oxidativo, bem como quando há diminuição das diferentes defesas anti radicais livres (antioxidantes), e ainda destruição de células e tecidos com envelhecimento mais rápido. Também o excesso de antioxidantes pode ser prejudicial por diminuir ou anular os radicais livres de que o organismo se serve para destruir bactérias e vírus em caso de infecção.
Os antioxidantes são substâncias alcalinas, uns produzidos pelo organismo (fermentos antioxidantes, proteínas fixadoras de metais eliminadores de radicais livre – Vit K, C e E, ácido úrico, etc.), mas outros temos de os obter por ingestão de certos alimentos ricos neles. A mitocôndria (sistema de organitos intracelular) produz continuamente substâncias reactivas ao longo da sua existência, provocando stress oxidativo crónico que participa no envelhecimento das pessoas, que aumenta com a idade. O consumo de fruta, hortaliça, chá verde, favorece a saúde por conterem antioxidantes.
Continuo a insistir, como podem constatar, na prevenção ou diminuição da velocidade do envelhecimento, dado que pouco se fala nisso, até por ser conhecimento relativamente recente. Vejamos alguns factos e dicas.
Quando a hemoglobina se junta à glicose ou à frutose, ela carameliza, o que se chama glicação ou glicosilação, o que a limita no transporte do oxigénio às células do organismo, as quais entram em sofrimento, em envelhecimento. Obviamente, os grandes consumidores de açúcares (sorvetes, refrigerantes, chocolate, hidratos de carbono como o pão, a massa, batata frita, arroz, milho, mandioca, etc.) engordam e envelhecem mais cedo. Entre os mais eficazes antiglicantes, contam-se a Vit B1 e derivados, Vit B6, crómio, canela e ácido corosálico (derivado de corais do Pacífico). [continua]
Parede (Portugal), Abril de 2018
*Pediatra e sócio-honorário da Adeco