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José Mário Vaz faz balanço positivo de quatro anos na presidência da Guiné-Bissau

O Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, disse que nomeou sete primeiros-ministros porque os diversos Governos “não foram capazes” de responder às necessidades da população. E apelou para a luta contra a corrupção.
Jomav, como é conhecido, viveu três dos quatro anos da sua presidência numa profunda crise política que deixou a Guiné-Bissau parcialmente paralisada e profundamente divida.
Um mandato presidencial que começou com divergências no seio do partido que apoiou a sua candidatura, o PAIGC, a demissão de 6 primeiros-ministros, sançõesda CEDEAO a 19 individualidades próximas do Presidente, demissão e nomeação de três Procuradores-Gerais da República, manifestações de rua para exigir a sua renúncia, entre outros, marcaram esses quatro anos de um mandato que completa no dia 23 de junho 4 anos.
Ao longo desse período, por diversas vezes as autoridades proibiram algumas manifestações de rua, organizadas nomeadamente por um movimento de jovens que reivindica a renúncia de José Mário Vaz ao cargo. Em entrevista coletiva à imprensa nacional e internacional, o Presidente alegou que nunca soube das manifestações proibidas e que se soubesse teria chamado o chefe do Governo para saber o que se passava.
RESPONDER ÀS NECESSIDADES DA POPULAÇÃO
José Mário Vaz, justificou que foi preciso nomear sete primeiros-ministros durante os seus quatro anos de mandato porque os diferentes Governos mostraram ser incapazes.
“O Presidente decide sempre atendendo às necessidades do seu povo. Eu senti que os diferentes Governos, os diferentes primeiros-ministros que foram nomeados não foram capazes de atender às necessidades do nosso povo. Alguém pode dizer de que não devia ter feito. Mas quando os interesses do país falam mais alto somos obrigados de facto a tomar estas decisões”.
A Guiné-Bissau viveu, até recentemente, um grave impasse político-institucional, que levou à intervenção da comunidade internacional, acabando com a imposição de sanções a 19 individualidades do país pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). Questionado pelos jornalistas sobre as razões pelas quais nunca dissolveu o Parlamento, José Mário Vaz invocou o seu legado.
“Desde 1994 nenhuma legislatura chegou ao fim, nunca um Presidente da República cumpriu o seu mandato. Nessas condições, pesei prós e contras de dissolver ou manter o Parlamento, tal como estamos a assistir hoje. Constatei que o custo de dissolver o Parlamento era muito pesado para a Guiné-Bissau porque iria implicar muita coisa, desde eleições antecipadas a financiamento. Como o benefício de manter o Parlamento era melhor para o país, mantive o Parlamento até hoje”.
 
DIVERGÊNCIAS COM O PAIGC
Sobre alegadas divergências que tem com o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), vencedor das legislativas de 2014, e o partido que o apoiou para a sua eleição nas presidenciais, José Mário Vaz negou a existência de desentendimentos nesse sentido.
“Não posso de forma alguma aceitar que tenho divergências com o meu partido. Nunca poderia ter, porque estou sentado nesta cadeira hoje, a cadeira da Presidência da República, graças ao meu partido. Graças ao povo guineense”, disse.
m relação a ao presidente do PAIGC, Domingos Simões Pereira, que foi o primeiro chefe de Governo a ser demitido por José Mário Vaz em 2015, o Presidente esclareceu que não existe qualquer problema.
Questionado sobre se vai trabalhar com Domingos Simões Pereira caso o PAIGC vença as eleições legislativas de novembro e volte a ser indicado para primeiro-ministro, José Mário Vaz sublinhou que não tem preferências.
CONSENSO ENTRE OS GUINEENSES
Na entrevista, José Mário Vaz explicou também que não sentiu qualquer pressão da comunidade internacional para resolver o impasse político na Guiné-Bissau e sublinhou que foram os guineenses que chegaram a um consenso.
Sobre a sua recandidatura às presidenciais, José Mário Vaz remeteu uma decisão para depois das eleições legislativas, previstas para 18 de novembro.
Até lá, o Presidente quer todos os guineenses empenhados para queas eleições tenham lugar na data prevista e sem qualquer problema.
CORRUPÇÃO NÃO DEIXA AVANÇAR O PAÍS
José Mário Vaz, advertiu que a corrupção está a “corroer a economia” e não deixa avançar o país e remeteu a resolução do problema para o poder judicial e para as reformas em curso.
“Eu chamei a atenção a quem compete de direito resolver esse problema. Compete ao poder judicial resolver esse problema. O Tribunal de Contas já deu essa informação ao Ministério Público, mas até hoje esse problema não está resolvido”, afirmou.
“Nós, guineenses, lidamos diariamente com essa situação e às vezes pergunto-me a mim mesmo o que é que cada um está a fazer para combater a corrupção na Guiné-Bissau. Mas é uma matéria que não é da competência do Presidente. Compete ao poder judicial que já tem na sua posse os relatórios do Tribunal de Contas”, disse.
REFORMAS EM CURSO
José Mário Vaz disse também que enquanto guineense pensa que a solução do problema tem que assentar nas reformas que começaram há muitos anos.
“Reformas na função pública, justiça e defesa e segurança. São essas reformas que nos vão ajudar a sair da situação difícil”, afirmou.Para o chefe Estado guineense não é só o setor da justiça que está numa situação difícil, mas também a função pública e o próprio Estado que vive “acima das suas possibilidades”.
“É tão grave o que está a acontecer no poder judicial como na função pública. Não temos espaço para os jovens mais qualificados que estão a sair das universidades. A função pública está completamente ocupada por pessoas que deviam estar, a esta hora, em casa (…) que poderiam deixar os mais jovens, os mais qualificados. São essas pessoas que não estão a deixar a função pública avançar”, afirmou.
Ao nível das forças de defesa e segurança, o Presidente disse que quase todos os dias tem oficiais a dizerem-lhe que “estão cansados” e que querem ir para casa.
TRÁFICO DE DROGA
Sobre o tráfico de droga, José Mário Vaz diz “há ações que estão a ser empreendidas”.
“A única coisa que fiz foi ir ao Estado-Maior e ao Ministério Público falar com as forças de defesa e segurança e pedir apoio e ajuda para todos unirmos as forças e resolvermos esse flagelo”, afirmou, referindo, no entanto, que aquele não era o local apropriado para falar sobre o assunto.
Questionado pelos jornalistas sobre a acusação feita pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas de que alguma elite política está envolvida no tráfico de droga, José Mário Vaz afirmou que o relatório da ONU “é claro”, mas que é preciso saber quem são e onde estão.
“É esse o trabalho que estamos a fazer hoje e não gostaria de facto de insistir muito nessa área”, disse.
Fonte : DW

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