A Organização Mundial da Saúde (OMS) prepara-se para o “pior cenário” possível, perante o novo surto de ébola na República Democrática do Congo (RDC), onde já foram detectados mais de 30 casos suspeitos da doença.
Na terça-feira, 8, o Ministério da Saúde da RDC (antigo Zaire) notificou que tinha confirmado dois casos de ébola em laboratório e, no mesmo dia, foi declarado, oficialmente, um novo surto no país, local de várias epidemias no passado.
As Equipas da OMS, Unicef, Federação Internacional da Cruz Vermelha (FICV) e Médicos sem Fronteiras (MSF) desdobraram-se na região onde surgiu o surto, em Bikoro (Noroeste), um local remoto a 280 quilómetros da capital provincial e com uma infra-estrutura muito pobre, como explicouc em entrevista colectivac o director de Emergências da OMS, Peter Salama.
“Estamos muito preocupados porque a área onde surgiu é remota e muito pobre e com um acesso muito precário. A chegada de assistência é um desafio por si mesmo”, afirmou o especialista.
Por isso, a OMS está para assinar um acordo com o Programa Mundial de Alimentos (PMA) com o objectivo de contar com helicópteros nos quais poderá transportar pessoal e materiais, e ao mesmo tempo, está planeando a possibilidade de criar uma pista de aterragem para essas aeronaves.
Salama assumiu que a resposta da OMS está sendo “imediata” e totalmente pró-activa após as críticas feitas à organização em 2014 pela sua tardia reação ao surto de ebola na África Ocidental, que terminou com 11,3 mil mortes e mais de 28 mil casos.
Dessa experiência ficou a lição de que é essencial desdobrar no terreno antropólogos e especialistas em comunicação comunitária, para explicar à população local os riscos de estar em contacto directo com uma pessoa doente, dado que o vírus do ébola é transmitido pela secreção da pele e as mucosas, especialmente logo depois de morrer.
Na epidemia anterior, o vírus se expandiu de forma exponencial por causa da tradição de lavar e beijar os mortos em grandes funerais, um costume que também ocorre no Congo.
Salama confirmou que tudo indica que a transmissão num funeral, também, ocorreu nesta epidemia.
Além disso, foi confirmada a morte de três trabalhadores da saúde, supostamente infectados por ébola, o que “preocupa muitíssimo” porque os médicos foram, também, no passado, focos importantes de transmissão.
A OMS está se preparando para poder iniciar uma campanha de vacinação, assim que o governo der sinal verde. Gavi, a Aliança para a Imunização, já anunciou que financiará as vacinas. É necessário o consentimento do governo, dado que é ainda uma vacina experimental sem licença e o risco de efeitos secundários é alto.
A OMS já pôs em alerta nove países fronteiriços do Congo, embora estejam especialmente preocupados com o risco de contágio no Congo e na República Centro-Africana, porque compartilham vias fluviais com Kinshasa.