Silvino Lopes Évora, Presidente da Assembleia Municipal do Tarrafal de Santiago – silvevora@hotmail.com
Tarrafal foi elevado à Categoria de Município em 1917, por acaso num 25 de Abril. Depois desse período, essa parte da ilha de Santiago pôde fazer o seu caminho próprio, desenhando o seu percurso, construindo a sua história e conquistando o seu lugar no mundo. Como tudo na vida, não foi o caminho de uma única direção porque o desenvolvimento das regiões e localidades conhecem momentos de mais intensidade, momentos de abrandamento, momentos de menos intensidade, momentos de estagnação e momentos de recuos. Não há economias, nem países, nem sociedades, nem regiões e nem municípios que crescem verticalmente em apenas uma direção. Portanto, a história das nações e dos municípios está recheada de episódios em que se registam, em diferentes momentos, diferentes passos e compassos.
Do ponto de vista social e humano, não podemos olhar para o Município do Tarrafal sem considerar o facto de, na primeira metade do Século XX, o regime ditatorial ter decidido pela construção de um Campo de Concentração em Tarrafal, com o intuito de encarcerar os chamados presos políticos. O ex-Campo de Concentração construiu a sua própria história que, muitas vezes, se confunde com a do Município do Tarrafal. Ali dizimou-se vidas. Encarcerou-se as esperanças de pessoas que apenas queriam ser cidadãos com pensamento livre. Abrigou europeus… angolanos, guineenses. E é o próprio caminho da História que levou ao seu encerramento. Uma parte importante da História da Humanidade é conservada ali, pelo que entendemos que o Município do Tarrafal de Santiago deverá ser abraçado no sentido de se construir as soluções para o seu desenvolvimento. Entendemos que as áreas de intervenções são variadas, mas há sete DESAFIOS que entendemos que deverão ser vencidos para que se possa registar um avanço virtuoso do Município do Tarrafal de Santiago.
DESAFIO 1 – Construir Soluções que Valorizem o Património Edificado no Município do Tarrafal de Santiago. A nível do ex-Campo de Concentração, é importante que se esteja a trabalhar na sua elevação ao estatuto de Património Mundial da Humanidade, mas também é preciso criar escala na sua promoção enquanto espaço de visita singular no mundo e vender o ex-Campo no Mercado Internacional do Turismo.
Há ali três níveis de intervenções:
– Aflorar a atractividade do ex-Campo de Concentração;
– Beneficiar as envolventes e algumas componentes internas com investimentos que valorizem o ex-Campo;
– Criar um plano de marketing cultural para o ex-Campo de Concentração.
Não é um trabalho só do Município do Tarrafal. Este é um desígnio nacional.
DESAFIO 2 – VENCER AS DISTANCIAS E CRIAR INTERMODALIDADE. Apesar de, no Mapa se situar na parte superior da Ilha de Santiago, Tarrafal é hoje encarado como o limítrofe final da Ilha de Santiago. Às vezes, as pessoas até sentem preguiça de irem até lá porque acham-no longe. É preciso mudar estas ideias. Tarrafal tem que passar a ser o começo para um caminho para vários destinos.
Se no passado, quando a tecnologia e as soluções técnicas eram menos eficazes do que as que temos hoje, partiam pessoas daqui, quer de barco, quer de avião, para vários destinos, nacionais e internacionais, porque é que hoje ficamos apenas com a memória do passado? É preciso pensar na Intermodalidade Marítima, terrestre e, futuramente aérea, aqui no Tarrafal. Promover o surgimento de uma Marina. Promover o surgimento de uma plataforma marítima multifunções, quer para apoiar a carga e a descarga inter-ilhas e inter-regionais, quer para os serviços da pesca; dar corpo ao projecto de criar uma via-rápida Praia – Tarrafal, via litoral, como forma de integrar toda a ilha de Santiago e valorizar as nossas zonas costeiras.
DESAFIO 3 – CRIAR O DESTINO TARRAFAL. Apesar de se ter assinado recentemente um contrato entre o Governo, a Câmara Municipal e a Oásis Atlântico para a alienação de terrenos com vista a edificar um complexo turístico no Município, isto não é suficiente para a dimensão das potencialidades do Município. Portanto, é preciso criar o “Destino Turístico de Tarrafal de Santiago”. E esse destino turístico se corporiza com as seguintes iniciativas:
a) Criar uma Sociedade de Desenvolvimento Regional devidamente capitalizada, orientada para a captação do investimento nacional e externo para o Município do Tarrafal;
b) Recuperar toda a orla marítima entre Chão Bom e Vila, Criar uma Avenida Marginal, planificar este espaço todo e defini-lo como espaço de Desenvolvimento Turístico;
c)Planear para médio a longo prazo um Aeroporto Internacional minimalista para acolher os voos “charters” e vencer as distâncias entre o Município e os Centros emissores de turistas.
DESAFIO 4 – Desenvolvimento da Indústria da Pesca. Tem como uma das alavancas a criação de uma plataforma marítima com a valência para as pescas, mas também terá a ver com a criação de mais condições para a captura, “empoderar” os pescadores e das outras profissões ligadas à Pesca; desenvolver a indústria da conserva.
DESAFIO 5 – Recuperar a Agricultura e Assegurar a Pecuária. É preciso, para o Concelho, mobilizar mais água, mais apoio técnico aos agricultores, recuperando o perímetro agrícola de Colonato e dando vida a novas alternativas de espaços agrícolas.
DESAFIO 6 – Formação Profissional no Município. Criar uma escola Profissional com valências em agricultura, pesca, indústria de conserva e de transformação de produtos, turismo e gestão de empreendimentos turísticos, no sentido de criar dimensão na qualidade dos serviços que se presta e assegurar um futuro diferente para os jovens e melhorar a prestação de serviços.
DESAFIO 7 – Conectividade. Criar a ligação entre a agricultura, a pecuária, a pesca, a formação profissional e o turismo. Colocar tudo isso a trabalhar um para o outro.
Só assim poderemos alcançar o desiderato de desenvolver o Município de Tarrafal de Santiago. Todos devemos unir as forças para edificar essas bases que poderão levar à alavancagem do nosso Município.
Tarrafal, aos 27 de Abril de 2018.
