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Opinião

Um dia cultural oficial, dedicado á morna, identificadora da união da nação Cabovierdiana

José Valdemiro Lopes

A MORNA, é sem a mínima duvida, a expressão máxima da identidade cultural cabo-verdiana, como nação una e indivisível de Santo Antão á Brava e á décima primeira ilha, a Diáspora cabo-verdiana, espalhada pelos quatro cantos do mundo. A MORNA estará para sempre presente, como manifestação popular, essencial, executando seu papel cultural identitário nacional em todas estas nossas nove ilhas habitadas e as mais lindas e intensas são cantadas na nossa língua nacional…

No plano da identidade colectiva, em Cabo Verde, graças á nossa cultura muita influenciada, pela expressão musical onde a Morna, exerce o seu papel fulcral, não tivemos nunca, o problema de construir o presente concomitantemente á reconstrução do nosso passado… Vou ser mais claro, citando uma orientação filosófica “… Homens e povos acordam tarde sobre si mesmo. É por isso que o essencial das suas actividades, se passa a construir esse passado original, sem o qual não teriam futuro ou presente sem espessura …” É este processo ao mesmo tempo real e imaginário que destaco, aqui, como preocupação e busca de identidade…

Em memória  a  Cipriana e Martinho Lopes , meus avós da Rua d´Horta – centro histórico da cidade da Praia -,  que me iniciaram na cultura  e na tradição oral cabo-verdiana

Considero como impar, o nosso caso, graças á nossa cultura e o papel entre outros, da Morna, que contrariamente ao esquema “rostowiano” de etapas lineares de desenvolvimento, os países mais pobres e os africanos, se defrontaram não apenas com a edificação do Estado, mas igualmente da Nação, acontecendo que quase sempre, (não é nosso caso), a existência do Estado antecedeu á formação ou consolidação da Nação… CLARIDADE, Morna, Coladeira… enfim morabeza ou cabo-verdianidade, reinaram e reinam intensamente no país e na diáspora, antes do acesso á nossa dignidade nacional como estado independente a 5 de Julho de 1975…

A MORNA, reflete a sensibilidade do povo, a cultura, a vivência e o sentimento colectivo do cabo-verdiano. Vários estudos confirmam seu nascimento, nos meados do século XVII, na ilha da Boavista.

A sua temática associa-se ao viver do dia-a-dia do cabo-verdiano, dentro e fora do país, executada numa cadência em quatro tempos de caracter, melancólico, nostálgico e sentimental próprio a nós mesmos como povo insular. Seus compositores e intérpretes são numerosos… destacamos especialmente Eugénio Tavares (Brava) e B, Léza (São Vicente).

A atmosfera intimista da morna é singularmente, manifestada pela utilização do instrumento polifónico, o violão e o cavaquinho…

A MORNA como forma de expressão cultural essencial de presença força no quotidiano cabo-verdiano propaga-se ainda hoje por via de transmissão oral e nas médias, mas, permanece imaculada e essencial, em todos os recantos de Cabo Verde…na ilha do Fogo quando se pila milho no pilão ao som do tambor, nas vésperas das festas, essas manifestações terminam, quase sempre, com mudança rítmica, interpretando-se a Morna… mesmo processo: depois de uma Coladeira em qualquer ilha; Funana, Batuku, Tabanka (Santiago); Kola Sanjon (Santo Antão e São Vicente) etc.; se temos uma vasta riqueza cultural, em termos de variações e interpretações musicais socio etnológicas, por assim dizer localizadas, a Morna é transversal rica e unificadora…verdadeiro sinónimo de união de todos os cabo-verdianos, socio culturalmente falando…

Nossa cultura sairá mais rica e engrandecida se dedicarmos um dia cultural oficial, ou nacional à MORNA, a forma maior de manifestação musica-cultural popular cabo-verdiana, tendo como patrono um dos seus maiores compositores intérpretes… estaremos assim, a proteger e legar para as futuras gerações uma herança cultural nacional de valor intrínseca (inestimável materialmente) …

miljvdav@gmail.com

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