Continua nesta terça-feira o julgamento dos dois irmãos, detidos em Março de 2017 sob suspeitas de vários crimes de ameaça de morte, coacção, chantagem e agressão sexual, na cidade da Praia.
O julgamento deste que é o primeiro caso de crime relacionado ao domínio do cibercrime e da recolha de prova em suporte electrónico a ser julgado no país arrancou nesta segunda-feira, 15. O primeiro dia ficou marcado pela audição dos réus, das testemunhas e das vítimas, num ambiente marcado por lágrimas e desmaios das adolescentes.
Os dois arguidos que, em Março de 2017, viram o Tribunal da Praia a decretar-lhes prisão preventiva estão desde Novembro passado em liberdade. Isto porque terminou o prazo em que Rui e Flavio deveriam permanecer na preventiva. Passaram 8 meses sem que o Tribunal tenha dado Despacho de Pronúncia.
É de referir ainda que a defesa dos dois arguidos chegou a dar entrada com um pedido da ACP a 19 de Setembro de 2017 com o argumento de que, “não há razões nem de facto, nem de direito, que levou o Ministério Público a imputar-lhes dos crimes”. Entretanto, mais tarde, a defesa dos mesmos veio a pedir o cancelamento do ACP, uma vez que com o passar dos 8 meses na preventiva os irmãos poderiam sair em liberdade.
Os dois suspeitos trabalhavam como bagageiros no Aeroporto Internacional “Nelson Mandela”, na Praia. “São jovens muitos inteligentes e com um bom domínio de informática”, disse, na altura, uma fonte do A NAÇÃO, dando conta que estes se faziam passar, também, por donos de uma das empresas de transportes aéreos que opera em Cabo Verde.
Rui Alves, 24 anos, sabe este Jornal, está a ser acusado de 71 crimes: 12 por ameaças de morte, 12 por coacção, 12 de chantagem, sete de gravações, fotografias e filmes ilícitos, um de abuso sexual agravado, 17 de abuso sexual com penetração, oito de agressão sexual e dois crimes de abuso sexual de menores na forma tentada.
O irmão mais velho, Flávio Alves, 27 anos, é acusado de 34 crimes: sete de ameaça de morte, sete de coacção, sete de chantagem, sete de gravações, fotografias e filmes ilícitos e mais seis crimes de agressão sexual com penetração.
O caso
Os dois visados atraíam as suas vítimas com recurso a vários perfis falsos, criados na rede social “Facebook”. Nomeadamente “Nuno de Pina”, “Sinna Gonçalves”, “Nuno Gonçalves”, “Speed Gonçalves”, “Gonçalves Moahmed”, “Maurycio Marcovich” e “El Hommbre Marcovich”.
Uma vez aceite o pedido de amizade por parte das vítimas, dava-se início às conversações via chat do Messenger, em que os arguidos, na maior parte dos casos, se identificavam como sendo árabes e portugueses residentes em Londres, sócios e/ou donos de empresas estrangeiras, com negócios em Cabo Verde, mas, também, com ligações ao mundo do crime. Em outros casos diziam ser filhos de pessoas conhecidas como grandes traficantes de droga.
“Estabeleciam amizades virtuais com as vítimas, a quem faziam propostas de emprego, de guardar dinheiro e armas, fazendo-se passar por donos de empresas e traficantes internacionais”, diz uma das nossas fontes, completando que, tudo isso, era conseguir que as jovens enviassem fotografias de corpo inteiro, bem como das partes íntimas.
E para isso diziam que, caso as jovens não aceitassem, iriam matá-las e aos seus familiares. Em alguns casos chegaram até a descrever a rotina das meninas e de seus entes queridos. Com o medo da ameaça, as adolescentes acabavam por ceder.
Isto é, depois de receber as fotos, ainda sob ameaça de morte, quer das vítimas ou dos seus familiares, ou chantagem de publicação das mesmas imagens no “Facebook”, obrigavam as vítimas a manter relações com terceiros, que eram, na verdade, os próprios arguidos. As vítimas eram, ainda, obrigadas a filmar e fotografar o acto como prova da efectivação da obrigação.
Algumas jovens foram ainda, de acordo com uma fonte, obrigadas a se prostituírem em troca de dinheiro, que seria, depois, entregue aos suspeitos. Estes terão ainda usado o massacre de Monte Txota e casos de assassinato para amedrontarem as suas vítimas.
Mais suspeitos
Além dos irmãos Alves, são suspeitos neste imbróglio as jovens Miqueia Silva e Emeleina Silva, ambas residentes na Cidade da Praia. Estas ajudavam os dois irmãos a concretizar os seus planos, tendo, inclusive, supostamente, várias reuniões da quadrilha e actos de violação sexual acontecido na residência da primeira, em Tira-Chapéu. As duas, que estão em liberdade, vão responder por co-autoria de um crime de associação criminosa, outro de gravações, fotografias e filmes ilícitos, bem como de ameaça, chantagem e coacção.
Durante o processo da investigação, foram realizadas buscas às casas dos irmãos Alves, tendo sido apreendidos telemóveis, computadores e vários dispositivos de armazenamento, contendo imagens das vítimas sem roupa e em pleno acto sexual com os arguidos.
Consequências e marcas
De entre as 13 vítimas, sendo a mais nova com apenas 13 anos, está uma jovem que acabou por engravidar. Exames médicos – segundo uma fonte judicial -, indicam que há grandes chances de ser Rui Alves o pai do feto, que acabou, entretanto, por não nascer, já que a vítima acabou por abortar.
Há outras jovens que acabaram por perder um ano lectivo, por causa das faltas não justificadas que davam, para poderem satisfazer os caprichos ou as ordens dos seus chantagistas.
Os dois principais suspeitos foram detidos em Março passado, após um mandado judicial. Cansada de tudo, uma das vítimas procurou a Polícia para denunciar a dupla.
Predadores sexuais via Facebook: Julgamento de Rui e Flávio prossegue nesta terça-feira
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