O ex-primeiro ministro José Maria Neves ainda não se pronunciou oficialmente sobre uma eventual candidatura ao Palácio do Platô, mas o seu protagonismo na esfera política e social aponta nesse sentido. Para fontes próximas de JMN, trata-se apenas de uma questão de timing.
E nisso há quem considere que JMN poderá mesmo regressar à liderança do PAICV para tentar colocar o partido nos carris, tendo em conta a “incapacidade” de Janira Hopffer Almada em unir a família tambarina. “É que um PAICV frágil não favorecerá JMN na sua ambição de chegar à Presidência da República”.
A estratégia, segundo os nosso interlocutores, seria reorganizar o PAICV para ganhar as autárquicas em 2020 e depois “catapultar” JMN para as Presidenciais de 2021. No fundo, a reedição da estratégia adoptada por Pedro Pires em 2000, numa altura em que MpD encontrava-se em crise e desgastado por 10 anos de governo e escândalos vários.
Daniel “Maika” Lobo, um dos fundadores do MpD, escreveu, numa recente publicação na sua página no Facebook, que “é muito provável” que o JMN venha a ser o próximo presidente de Cabo Verde. “Não me perguntem, por favor, as razões. As razões? Para quem quer ver, elas estão aí…”, diz.
Para aquele observador, JMN “tornou-se com o andar do tempo um bom político, mesmo com as muitas falhas conhecidas. Mas isso não é uma desvantagem, porque todos os políticos cabo-verdianos têm muitas falhas. Uns mais, outros menos… E depois sabemos: o povo tem a memória curta”.
Lobo lembra que José Maria Neves está sozinho na estrada há muito tempo. “Ele está sozinho a construir pacientemente um percurso. Um percurso que provavelmente vá desembocar no trono do palácio presidencial em 2021”.
“Pacientemente, ele criou a sua Fundação. Pacientemente, ele cirurgicamente vem marcando a sua posição. Pacientemente, seguindo a postura de uma formiga, ele vem desdobrando em contactos, lá fora e cá dentro. Pacientemente, pedra a pedra, vem construindo a estrada da vitória”, advoga.
Tudo isso, segundo Maika Lobo, “enquanto os outros dormem um inexplicável sono profundo, ele (JMN) vem percorrendo todos os caminhos. Está pacientemente na estrada”.
No MpD quem acorda?
Do lado do MpD, fora a manifestação de Milton Paiva, que já se posicionou, não há nenhum sinal dos “pesos pesados” da família ventoinha. Carlos Veiga, actual embaixador em Washington, e que já concorreu por duas vezes ao Palácio do Platô, é tido como um dos principais adversários de JMN, mas fala-se também na possibilidade de Jorge Santos, Ulisses Correia e Silva, Eurico Monteiro e José Luís Livramento para o mesmo cadeirão presidencial.
Jorge Santos tem dado sinais de ter adquirido o gosto pelo lugar, desde que passou a substituir Jorge Carlos Fonseca nas suas ausências, chegando a protagonizar a confusão, no Parlamento, com o caso de “usurpação de poderes”, quando presidiu a sessão plenária de Novembro de 2016, estando como PR interino (Ver artigo nas páginas A4 a A7).
Apesar desse incidente, sempre que pode, isto é, na sua qualidade de PR interino, não se coíbe de participar em actos próprios do PR efectivo, o que para analistas vários é mais um “expediente” do homem de Santo Antão, que nestas coisas, segundo um dos seus críticos, “não pára de inovar”.
Já em relação a Ulisses Correia e Silva, o facto de aparecer a partir de agora a dividir o poder com Olavo Correia, que a partir de amanhã, dia 5, passa a ser vice-primeiro, começa a ser visto como um sinal de que está a preparar-se para outros voos, nomeadamente, a Presidência da República. Afinal, numa análise fria, pouco ou nenhum sentido fará que em 2021 ele volte a pedir os votos aos cabo-verdianos depois de sinais de pouca ou nenhuma motivação para o cargo de primeiro-ministro.
Entretanto, segundo uma fonte próxima do MpD, neste jogo de cenários possíveis, não é de se descartar a possibilidade de José Luís Livramento entrar também na corrida, a partir da Cabo Verde Telecom, cujo conselho de administração preside, com actos que vão além das meras relações públicas da empresa.
JLL perdeu, recentemente, a possibilidade de se tornar presidente da Comissão da CEDEAO, com a derrota de Cabo Verde face à candidatura da Costa do Marfim, mas antes já tinha sido ultrapassado para o cargo de Presidente da AN, quando era a primeira opção de Ulisses Correia e Silva. Livramento fracassou também, no ano passado, na corrida ao cargo de secretário executivo da ONU para a África (UNECA), no lugar do guineense Carlos Lopes.
Enfim, um outro nome que vem sendo ventilado como potencial candidato presidencial a ser apoiado pelo MpD é Eurico Monteiro, embaixador em Portugal, que segundo Maika Lobo “foi uma figura de proa dos anos 90. Foi indiscutivelmente o número dois do partido e do governo. Foi um dos maiores arquitectos da vitória do MpD, em 1991”.
Gerir ambições
Com este naipe de potenciais candidatos à Presidência da República, o MpD terá que saber gerir o processo, sob pena de cair em situação idêntica à que ocorreu em 2011 ao PAICV, quando decidiu apoiar Manuel Inocêncio Sousa, em detrimento de Aristides Lima, tido como o mais talhado para o cargo. Não tendo nenhum dos dois desistido, ambos acabaram por experimentar a derrota nas urnas a favor de Jorge Carlos Fonseca, que viu assim a vida facilitada. Ele, JCF, que em 2001 havia também “ajudado” Pedro Pires, ao dividir os votos da família do MpD estando Carlos Veiga na mesma corrida presidencial.
Maika Lobo considera que a questão das eleições presidenciais, que “serão marcantes do próximo ciclo político”, deve ser colocada desde já na agenda do MpD. E aconselha: “Deve reflectir sobre ela sem paixão, sem influências pessoais, sem pré-conceito, com muita lucidez e sem manias de que tudo está garantido . A única coisa que nos é garantido é a morte”.
DA