Até Julho do ano passado, o Movimento Sokols 2017 não passava de um grupo de cidadãos que se sentavam para conversar sobre os problemas da ilha de São Vicente.
Porém, após a histórica manifestação de 5 de Julho de 2017, os Sokols continuaram e continuam no terreno em acções que nem sempre chegam ao conhecimento da comunicação social e, por via desta, ao grande público. Sem dúvida, os actos de rua são a parte mais visível do modo de agir do movimento, pelo que este sábado, 13 de Janeiro, os seus elementos voltam a chamar os “verdadeiros protagonistas da democracia” às ruas do Mindelo, nesse caso os cidadãos.
“Na nossa democracia o que tem prevalecido até esta data são os partidos políticos impondo as orientações que bem entenderem. A cidadania quase que está ausente do que se passa e quase que nunca opina, permitindo aos partidos, na situação ou na oposição, fazerem o que bem entendem”, diz Nelson Faria, um dos porta-vozes do Movimento Sokols 2017.
Os princípios da “Marcha da democracia” andam em torno dos mesmos anteriormente reivindicados, nomeadamente a descentralização e a desconcentração dos poderes em Cabo Verde. A estes, acrescentou-se, mais recentemente, a questão do Orçamento do Estado para 2018, algo que, segundo este grupo de cidadãos, traduziu-se, uma vez mais, num tratamento bastante desigual e injusto, não só para São Vicente como para outras ilhas do arquipélago, neste caso a favor de Santiago, que ficou com mais de 80 por cento do bolo.
“Ora se São Vicente produz o que produz, e se tem as necessidades que tem, porque não é contemplado com uma fatia justa dos recursos do Estado? Não podemos estar satisfeitos e, da mesma forma, cidadãos do Maio ou da Brava, por exemplo, ilhas onde há problemas graves, não só de recursos mas também de transportes, entre outros, também eles devem posicionar-se, tal como Santo Antão que tem perdido população se deve posicionar”, acrescenta o entrevistado do A NAÇÃO.
Economia Marítima em São Vicente
Face à transferência do Ministério da Economia Marítima para São Vicente, os Sokols avisam que não se deixam levar em cantigas, apesar de reconhecer que esse gesto do Governo se deve, precisamente, ao descontentamento que hoje existe na Ilha do Monte Cara em relação à forma como o poder é realizado em Cabo Verde. Apesar de ver essa medida como fruto das suas reivindicações, o movimento quer ver os efeitos estruturantes e práticos disso na vida de São Vicente.
“Esta medida parece mais ser coisa pontual de charme para simular uma descentralização, que a nível estrutural ainda não vemos acontecer. A descentralização estrutural passa por várias outras medidas, entre elas, a autonomia das ilhas e a possibilidade de decisões serem tomadas em todas as esferas. Passa também pela efectiva repartição de alguns órgãos do Estado pelas ilhas, não só um ministério em São Vicente, porque o problema não é só São Vicente, é todo Cabo Verde que reclama da centralização de tudo ou quase tudo na Praia”, sublinha.
Ainda assim, o recente alargamento do Governo, com um ministério virado para a economia marítima, sedeado em São Vicente, é visto com bons olhos pelos Sokols, principalmente se isso não se traduzir em mais “um mero consumo dos recursos públicos”, como ressalva Nelson Faria. Por enquanto, o grupo a que pertence prefere dar o benefício da dúvida ao executivo na expectativa de poder vir a traduzir-se em boas acções a favor do bem comum.
Acções para melhorar governação
O Movimento Sokols 2017, distante de quaisquer protagonismos ou explorações partidárias, revê-se como um facilitador da cidadania, pretendendo colocar a sociedade civil dentro da esfera da governação do país. A seu ver, o papel que o movimento chamou a si deve ser visto com bons olhos pelo Governo e pelos partidos políticos, já que o seu propósito é corrigir e melhorar a governação de Cabo Verde.
“Estando na oposição ou situação um partido político deve ficar é satisfeito com as acções da cidadania que ajudem a melhorar a situação política do país”, conclui Nelson Faria.
JF