O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) desconhece o paradeiro de milhares de crianças da minoria muçulmana rohingya no Estado birmanês de Rakhine, denunciando que aquela região, de acesso negado, enfrenta uma grave carência de bens e de serviços essenciais.
Estas informações foram avançadas pela porta-voz do Unicef, Marixie Mercado, que descreveu, durante uma conferência de imprensa em Genebra (Suíça), a viagem que fez às zonas Centro e Norte do Estado de Rakhine (Oeste da Birmânia, actualmente Myanmar), onde vive a minoria rohingya, que tem sido perseguida e discriminada pelas autoridades birmanesas durante várias décadas.
Em finais de Agosto de 2017, em Rakhine, a agência da ONU prestava auxílio a quarto mil e 800 crianças rohingyas, que sofriam de desnutrição aguda grave.
Mas, após o início da repressão das forças militares birmanesas, as autoridades locais decidiram negar o acesso a todas as agências da ONU e a Unicef deixou de ter contacto com estes menores.
Os 12 centros de tratamento terapêutico e todos os centros de cuidados primários que eram apoiados pela Unicef acabaram por ser destruídos durante a recente vaga de violência, segundo a organização internacional.
O actual êxodo dos rohingyas teve início em Agosto, quando foi lançada uma operação militar do exército birmanês contra o movimento rebelde Exército de Salvação do Estado Rohingya devido a ataques da rebelião a postos militares e policiais.
Esta campanha de repressão do exército birmanês já foi classificada pela ONU como uma limpeza étnica e como uma das crises humanitárias mais graves do início do século XXI.
O Estado birmanês, um país mais de 90 por cento budista, não reconhece esta minoria e impõe múltiplas restrições aos rohingyas, nomeadamente a liberdade de movimentos.
Desde que a nacionalidade birmanesa lhes foi retirada em 1982, os rohingyas têm sido submetidos a muitas restrições: não podem viajar ou casar sem autorização, não têm acesso ao mercado de trabalho, nem aos serviços públicos (escolas e hospitais).
Esta crise desencadeou uma vaga de críticas à líder, de facto, da Birmânia e Nobel da Paz (1991), Aung San Suu Kyi.