Há cerca de 46 milhões de pessoas com Alzheimer. Em 2050, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), serão 131 milhões. Caracterizada pela perda progressiva da memória, a doença representa uma bomba-relógio contra a qual a medicina ainda não encontrou um método de desarme.
Recentemente, uma notícia vinda da Universidade de Lancaster (na Inglaterra), trouxe optimismo em relação ao benefício de uma estratégia a princípio inusitada: o uso de um remédio contra a diabetes.
O liraglutide, integrante de uma nova classe de anti-diabéticos, protegeu o cérebro da degeneração típica da doença.
A pesquisa usou cobaias. No fim, os animais tratados com o liraglutide apresentaram, por um lado, níveis elevados de substâncias protectoras dos neurônios. Por outro, redução da inflamação e da quantidade das placas amilóides (acúmulo de proteínas sobre as células nervosas que contribui para sua morte).
O que mais entusiasma em relação ao achado, é que ele confirma, patologicamente, evidências clínicas de eficácia obtidas anteriormente. Está em andamento, pelo menos, quatro estudos em humanos sobre o impacto de drogas da classe do liraglutide em pacientes com Alzheimer. Todos demonstram bons resultados. Faltava, no entanto, um exame detalhado, em laboratório, das mudanças provocadas nos neurônios pelas drogas. A análise das células nervosas extraídas das cobaias possibilitou que os cientistas enxergassem as alterações com clareza.
Os benefícios se devem a uma razão. As drogas estabilizam a taxa de insulina, hormônio que abre a porta das células para a entrada da glicose presente no sangue — o açúcar é o combustível para que elas funcionem.
Nos diabéticos, a insulina não é fabricada ou actua de maneira precária. No cérebro de pessoas com Alzheimer, mesmo os não-diabéticos, ela também tem sua acção prejudicada.
Para agravar o problema, além de ficarem sem glicose suficiente, os neurônios são privados de uma substância importante para seu crescimento, já que o hormônio também desempenha essa função.
Por que a droga funciona?
Diabetes
• O liraglutide integra classe recente de remédios que mantém estável o nível de insulina;
• O hormônio é responsável por permitir a entrada, nas células, da glicose em circulação no sangue. Sem ela, as células não têm combustível para funcionar; e
• Nos diabéticos, o hormônio ou não é produzido ou não actua da maneira adequada.
Alzheimer
• Além de assegurar combustível aos neurônios, a insulina funciona como um factor de crescimento que mantêm as células nervosas saudáveis;
• Porém, sua actuação encontra-se prejudicada no cérebro de pacientes com Alzheimer;
• Isso contribui para acelerar a morte neuronal; e
• Ao estabilizar a taxa de insulina disponível, as medicações ajudam a proteger o cérebro dos efeitos da enfermidade.
Diabetes Tipo 3
A conexão entre o Alzheimer e a diabetes vem sendo estudada mais intensamente nos últimos anos, até pela urgência em entender melhor o que está por trás desta doença neuro-degenerativa.
A associação entre as duas enfermidades levou, inclusive, à nomeação de um terceiro tipo de diabetes: o 3.
Até recentemente, falava-se no 1, auto-imune (o sistema de defesa ataca as células produtoras do hormônio); e no 2, associado à obesidade.
O que os cientistas chamam agora de tipo 3, está relacionado com a degeneração cerebral.
Semanas atrás, o cientista Andrew McGovern, da Universidade de Surrey (na Inglaterra), publicou um artigo no qual alertava para a necessidade de aprofundar as investigações sobre a diabete Tipo 3, que é mais comum do que se pensava.