Filinto Elísio
6º Acto: A arte de estar na Polis Global
Queria-o republicano e estadista, arrogância necas, mas acima da manada. Sóbrio, arguto e ágil, sempre realizador do bem comum e inovador das coisas da Polis Global. Entretanto, a páginas tantas, tristeza não tem fim, felicidade sim, nada se perdendo, nada se ganhando, tudo se transformando em torno do umbigo. A política se reduzindo ao gerúndio do deja vu. Parecia, doravante e se calhar pela ocasião, uma montra de Natal, de tão kischt e brilhante que era. Em pessoa, era Jingle bells, jingle bells/Jingle all the way. O enxame parecia estreia do Star Wars, fenómeno que já enerva mal tenha começado. E as nereidas, pelo Facebook, digladiavam-se numa guerra de titãs – torce olhos, arrasta-rabos, raios e coriscos. Tanto que um contumaz cantava, a gozar da situação: “Eu era neném/Não tinha talco/Mamãe passou açúcar em mim”. Falta fazer pedagogia cívica…endurecer-se, sem perder a ternura!
17º Acto: A arte da edição
Olha-se para a flor sobre a mesa e quer-se inferir a causa das coisas. De repente, a planilha de 2016. José (Djosa) Gomes é um artista de traços ousados, que prima pela forma e o desenho como forma de narrativa. Cada tela, passível de ser página de livro, revela a energia suprema da vida e o amor como ponto de partida para a arte. E se também publicássemos, em livro, as crónicas de Jorge Barbosa? Um caleidoscópio de temas. Não se fica indiferente diante da linguagem sedutora (e poética) que se revela na prosa barbosiana. Amilcar Cabral, de 1948 a 1960, teve intensa atividade epistolar. Em verdade, manteve ele uma escrita de cartas em que, de novelo e romance, se nos torna mais nítido o torvelinho das suas causas. Esta relíquia será publicada, em breve. Estamos, enquanto editores, a transcrever tais manuscritos que, entre outras coisas, fazem compreender o humanismo que marcou o perfil de Cabral, mais tarde, o grande líder.
18º Acto: A arte da escritura
Preparai-vos que o poeta anda inspirado e prolixo. Para a transpiração poética. Para a transposição estética. Compreender a semiótica, interpretar os anagramas, intuir a metáfora numa frase qualquer do texto, descer o coração sobre a página em branco e o poema, não por milagre, a germinar em forma de explosão. A escritura literária, que desafiadora. Vem disfarçada de máscaras e trajes outras. Em persona. Seduzindo todas as formas. Os significantes e os significados. Iludindo, de A a Z. A pluralidade de vozes. A multiplicidade de onde flui a diversidade. O arco-iris. E o leitor inebriado. Preparai-vos que…aí vem coisa.