A principal ameaça de Cabo Verde “é o narcotráfico e não o terrorismo”, garante um especialista em defesa e segurança contactado por A NAÇÃO. O nosso interlocutor aplaude a decisão de se elevar o nível de alerta nos aeroportos internacionais para amarelo, mas discorda da sua publicitação.
Os quatro aeroportos internacionais de Cabo Verde – Sal (Amílcar Cabral), Praia (Nelson Mandela), São Vicente (Cesária Évora) e Boa Vista (Aristides Pereira) – vão estar nos próximos três meses no “amarelo”. Esta medida anunciada na semana passada pelo conselheiro da Segurança Nacional do Governo, Carlos Reis, significa que o estado de prevenção evoluiu para o nível médio.
Esta decisão foi tomada pelo Conselho de Segurança Nacional em resposta às recomendações da Comissão Nacional de Facilitação do Transporte Aéreo e de Segurança da Aviação Civil, à luz da conjuntura que se vive a nível mundial, ou seja, os ataques terroristas que se vive na sub-região em que Cabo Verde está inserido. O Mali, como se sabe, foi atacado recentemente e no Senegal vários imans (responsáveis religiosos), tidos como ultra-radicais, foram detidos para averiguações.
Esta medida é aplaudida por um especialista em segurança e defesa, cujo nome preservamos, que considera que a mesma nunca deveria ser publicitada da forma como foi feita. “Não digo que esta decisão deveria ficar em segredo, mas, na minha opinião, ela não deveria ser ampliada através dos microfones porque não se ganha nada com isso, antes pelo contrário”, sublinha.
A nossa fonte entende que na base da decisão de se elevar o nível de alerta nos aeroportos internacionais esteja a necessidade de se imprimir maior rigor na actuação da polícia, que, a seu ver, tem estado muito aquém das suas responsabilidades, em termos de segurança nas fronteiras aéreas e, não só.
“Não é preciso ser entendedor em matéria de segurança para verificar que a polícia não tem conseguido dar respostas cabais às questões relacionadas com a segurança nos aeroportos. Não por falta de vontade; é, essencialmente, por falta de pessoal especializado em matéria de segurança aeroportuária, um sector muito específico e que requer gente com formação adequada e com motivação para desempenhar essas funções”, advoga o mesmo especialista.
Há cerca de dois anos que se fala da necessidade de se terceirizar algumas funções que a polícia vem exercendo neste momento nos aeroportos, nomeadamente, a inspecção e revista de passageiros e bagagens, como forma de libertar os agentes de segurança para outras tarefas mais exigentes, mas, segundo a nossa fonte, questões ligadas à legislação têm impedido as empresas de segurança privada de concorrerem para esse tipo de trabalho.
Ameaças
O terrorismo que vem sendo perpetrado pelo Estado Islâmico em diversas partes do globo, “não constitui uma ameaça real para Cabo Verde”, garante o nosso interlocutor. Este não descarta, outrossim, a possibilidade de o arquipélago ser alvo de um atentado terrorista, mas para atingir terceiros e não Cabo Verde em si.
“A nossa real ameaça é o narcotráfico e é aí que devemos centrar as nossas atenções em termos de segurança, sem, contudo, descurar outras eventuais ameaças”, enfatiza.
“Os Serviços de Informação da República (SIR), com os parcos recursos que dispõe, vem fazendo um trabalho meritório na luta contra o narcotráfico, mas há necessidade de se investir mais para que o país possa estar alerta em relação a outras ameaças”.
Terrorismo
Em relação ao terrorismo, fenómeno que vem afectando vários países, o nosso interlocutor defende uma maior dinamização dos serviços de inteligência militar, que, segundo ele, poderiam desenvolver um trabalho eficaz nessa vertente, tendo em conta que, nos países vizinhos, a questão do terrorismo está sob a alçada das forças armadas. “Isso facilitaria a cooperação e troca de informações com os diversos países africanos, que vêm lidando com o fenómeno do terrorismo”.
Prisões
A fragilidade das cadeias é um aspecto “preocupante” segundo o especialista, que diz ter informações de que alguns prisioneiros “perigosos” têm estado a movimentar-se a seu bel-prazer nalguns estabelecimentos prisionais e com alguns privilégios. “Há reclusos que continuam a lidar com as redes e colaboradores cá fora, e, há, até mesmo alguns que conseguem sair cá fora”, relata o nosso interlocutor, que considera que esses casos estão ligados a situações de suposto suborno de alguns guardas prisionais.
Para evitar situações do género, os especialistas em segurança defendem a construção, com carácter de urgência, de uma cadeia de alta segurança, ou a criação de um anexo nas duas cadeias centrais para albergar os reclusos mais perigosos. “Isso significaria, também, reduzir ao mínimo todas as regalias”, deixa como sugestão.
Alerta amarelo: narcotráfico é principal ameaça… terrorismo vem depois
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