As cinco barragens construídas em Santiago e a de Santo Antão acumulam água para irrigar áreas de cerca de 500 hectares de terreno, equivalente a 500 campos de futebol. Com uma capacidade de reserva de, aproximadamente, um milhão de metros cúbicos cada uma, as referidas infra-estruturas hidráulicas podem levar à “rotação agrícola”, permitindo três colheitas por ano.
Há água das barragens, mas, também, existe a que resulta da prospecção subterrânea, que fez aumentar o caudal de água para irrigar mais cerca de 250 hectares de terreno. Ou seja, somando a reserva das barragens e a água que se mobilizou da prospecção, Cabo Verde possui, hoje em dia, água suficiente para irrigar cerca de 800 hectares de terreno. Essa quantidade poderia ser maior caso a barragem da Banca Furada (São Nicolau) não tivesse perdida a água acumulada durante as últimas chuvas por causa dos problemas técnicos.
O efeito mais perceptível dessa mobilização de água está no sector hortícola, que regista, nos últimos anos, importantes ganhos na produção. Tomate e outros hortícolas chegam ao mercado de forma mais regular e a metade do preço que se praticava há quatro ou cinco anos atrás.
E pode existir mais produção e produtividade, acredita o agrónomo João Freire, “se houver uma rotação agrícola das parcelas para a cultura intensiva de hortícolas viradas para o mercado. Há, inclusive, possibilidade de três colheitas ao ano de determinados produtos, se tudo for bem planeado”.
Além disso, os grandes reservatórios contribuíram também para cimentar o uso das novas tecnologias de rega na agricultura em Cabo Verde. Isso porque a água reservada apenas pode ser usada através do sistema de rega gota-a-gota. Não será à toa que os dados do Ministério do Desenvolvimento Rural (MDR) indiquem que o “gota-a-gota” já chegou a mil hectares de terreno cultivável no país, quando, em 2004, em apenas metade dessa área se utilizava essa técnica de rega.
O MDR realça que com essa prática agrícola não só há poupança de água, como existe menos perigo de as pragas espalharem pelas culturas, sendo que a produtividade tende a aumentar.
Nesse período, a cultura hidropónica também vai ganhando, aos poucos, o seu espaço, mesmo entre os agricultores mais renitentes. Já existem seis hectares onde se pratica a hidroponia, havendo experiências bem-sucedidas no cultivo do inhame no Tarrafal de Monte Trigo (Santo Antão), mas também de hortícolas no Sal, na Boa Vista, Santiago e em outros pontos do arquipélago.
Vulnerabilidades
Feitos esses investimentos, os produtores começam a conquistar o mercado hoteleiro, mas há ainda muito por fazer. Para já, no que diz respeito à certificação dos produtos (ver caixa).
Mas subsistem também outras vulnerabilidades. Em termos concretos, apesar dos progressos registados, a grande vulnerabilidade deve-se ainda à escassez de recursos naturais (água e solo) e às condições climáticas. Estes factores, aliados às técnicas de produção inadequadas, contribuem para a degradação dos solos e determinam a extrema fragilidade do ecossistema cabo-verdiano.
A agricultura de sequeiro é praticada em explorações agrícolas do tipo familiar, de subsistência, com uma superfície média de apenas 1,19 hectares, tendo como principal cultura a co-associação milho-feijões (95% das terras cultivadas). A produção de milho, até agora único cereal produzido em Cabo Verde, cobre em média apenas 10% das necessidades de consumo em cereais, segundo dados do MDR.
A isso acresce o facto de as produções anuais serem aleatórias, isto é, em função da queda das chuvas, tendo variado nestes últimos 20 anos entre 1.300 toneladas por ano e 36.000 para o milho e de 58 toneladas e 9.753 toneladas para feijões. Os rendimentos médios são muito fracos, na ordem de 300 quilos de milho por hectare e 90 de feijões por hectare.
Já a agricultura de regadio, esta é praticada principalmente no fundo dos vales e na parte mais baixa das encostas. As principais culturas são a cana-de-açúcar, banana e hortícolas.
Introduzida em 1993, o sistema de rega gota-a-gota vem ganhando preferência entre os produtores e já cobre uma área de cerca de mil hectares, quando, em 2004, não ultrapassava os 350 hectares.
Os dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) indicam que, de 2000 a 2007, o peso dos subsectores agricultura, pecuária, silvicultura e pesca, na formação do Produto Interno Bruto (PIB) situa-se entre 8 e 10%. Mostra-se oscilante em virtude do regime das chuvas e de outros factores. Aliás, a taxa de crescimento anual do PIB agrícola, de 1,2%, põe em evidência o carácter aleatório da produção sobretudo aquela do sistema de sequeiro.
De todo modo, espera-se que os investimentos nas barragens, na prospecção de água, nas tecnologias de rega e de criação animal venham a produzir mais resultados nos próximos anos e que haja uma tendência de maior produção e produtividade nas nossas terras cultivadas.
Barragens regam 500 “campos de futebol” e podem levar a três colheitas por ano
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