Depois das ilhas do Sal e Santiago, Boa Vista será o próximo destino de Cabo Verde a ganhar um empreendimento turístico de luxo, sob a sigla da prestigiada cadeia Hilton, dos Estados Unidos da América. A informação foi avançada em primeira mão pelo The Resort Group ao A NAÇÃO.
Estamos perante mais uma grande investida de projectos turísticos do The Resort Group PLC (TRG) para Cabo Verde, a somar aos dois resorts já existentes – Dunas e Tortuga – e ao que se encontra em construção – Lhana Beach Resort, todos na ilha do Sal, o primeiro alvo de investimento deste grupo no arquipélago e ao Hilton Praia, cuja primeira pedra foi lançada na semana passada na capital e cujas obras arrancarão em Julho.
Relativamente ao resort Hilton Boa Vista, ainda que sem avançar muitas informações, Victor Fidalgo, consultor do TRG, adianta que já há um “entendimento” entre a cadeia Hilton e o grupo para a construção de um resort na Boa Vista, que deverá ter 401 quartos.
Aliás, a Boa Vista será o destino do novo pacote de investimentos do TRG em Cabo Verde, conforme revelou também a este jornal Robert Jarrett, PCA do grupo. “Neste momento, já investimos cerca 250 milhões de euros em Cabo Verde, e para a Boa Vista devemos investir entre 600 e 700 milhões”, disse o empresário inglês.
Em causa estão entre seis a sete resorts que estarão, contudo, sujeitos e à evolução do mercado turístico mundial e às condições de investimento e de operação (competitividade) no país. “Depende dos operadores turísticos e também da demanda do consumidor, e isso muda à medida que avançamos”, explicou Jarret.
Convenção de Estabelecimento desfasada
Não menos importante, para a concretização prática destes investimentos, o grupo que tem dado provas de credibilidade nos projectos empreendidos, mostra-se apreensivo com algumas questões relacionadas com o ambiente de negócios do país. Alguns empreendimentos poderão até estar em causa, devido à desadequação do Código de Benefícios Fiscais e do Código IPC, face à realidade turística mundial , sobretudo dos “nossos” concorrentes mais próximos.
Victor Fidalgo fala de “bloqueios contidos” no Código de Benefícios Fiscais, nomeadamente “a exigência de um investimento de 10 milhões de contos” para a elegibilidade à Convenção de Estabelecimento. “O realista seria exigir entre dois milhões de contos até um máximo de três milhões”. A isso acresce o Crédito Fiscal que “veio substituir os períodos de isenção e matar a nossa fraca competitividade” e o novo “Pagamento por Conta do novo Código de IPS”.
Na linha do seu consultor, Robert Jarrett admite que, em termos de ambiente de negócios, continua a não ser fácil investir em Cabo Verde, mas, mesmo assim, o TRG almeja avançar em força na Boa Vista, esperando que “o Governo e o Parlamento caiam na realidade”. Por detrás desta escolha está a beleza natural dessa ilha e as suas potencialidades.
“Boa Vista está bem localizada, é dos sítios e das ilhas mais belas que eu já vi, e eu viajo muito. Por outro lado, sinto que a procura por um local que tem o tipo certo de influência externa, como é a Boa Vista, e que tem aquilo a que eu chamaria de um nível macro, é o lugar certo para investir, e sempre foi”, afirma o empresário.
E porque os negócios não param, e mesmo para “pressionar” as melhorias no Código de Investimentos, o TRG já está à caça de cadeias hoteleiras que darão corpo à gestão dos empreendimentos turísticos previstos para a Boa Vista. Tirando o White Sands, que terá 835 quartos e o Hilton Boa Vista 401, o grupo está a negociar já com outras possíveis marcas. Por isso, por ocasião do lançamento do Hilton Praia, numa operação de charme e negócios, estiveram no país representantes de importantes cadeias. Wilma Kellermann, vice presidente para a área de desenvolvimento da Steigenberger Hotels & Resorts, uma empresa alemã de hotéis que está em fase de expansão internacional, diz-se “muito animada” por, “finalmente”, a marca chegar a Cabo Verde.
“A Alemanha é um mercado emissor muito grande de turistas para Cabo Verde e esperamos ser parte disso, para poder apoiar Cabo Verde. Em conjunto com o TRG estamos a analisar alguns locais, e espero que possamos ter sucesso aqui”, disse Wilma ao A NAÇÃO.
O grupo diz-se interessado em dois investimentos na Boa Vista, um resort de luxo de cinco estrelas e outro de quatro. A mesma expectativa é partilhada pela cadeia Raddisson.
Segundo uma fonte da referida cadeia que gere 1.370 hotéis em mais de 77 países, África é neste momento um continente prioritário. “Temos 65 hotéis abertos e em fase de desenvolvimento em 27 países africanos. O nosso plano é expandir a nossa oferta de resorts em toda a África e isso inclui as ilhas de Cabo Verde”, avançou.
A mesma fonte enaltece o facto de Cabo Verde estar “muito bem classificado para fazer negócios”, ser “seguro financeiramente” e ser “politicamente estável”. Portanto, como remata Victor Fidalgo, para a materialização destas intenções de investimentos, “que vão criar milhares de empregos permanentes e contribuir para o Estado arrecadar avultados montantes”, falta “apenas o Governo e o Parlamento restituirem a Cabo Verde a competitividade que tinha, antes das recentes mudanças”.
Entretanto, a primeira pedra do Hotel Hilton Praia, o primeiro do TRG com a sigla Hilton, foi lançado na Praia na passada quinta-feira. Catorze pisos, 201 quartos e cerca de 150 postos de trabalho directos são alguns dos números deste projecto. As obras, orçadas em 41 milhões de euros, arrancam em Julho de 2016.
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