O diplomata cabo-verdiano Corsino Tolentino recebeu, esta quarta-feira, nos Estados Unidos, o prémio “Liderança 2015” para Estrangeiros atribuído pela Universidade de Minnesota, considerando a distinção um “sinal” de força do triângulo virtuoso da cooperação entre os dois países.
No discurso proferido no dia da entrega do prémio, Corsino Tolentino faz uma análise afirmando que a sua trajectória de vida está intimamente ligada à trajectória de Cabo Verde, enquanto nação que o viu nascer, circunstancias essas, que considera “especiais” e que contribuíram para a distinção do prémio.
No referido discurso, que foi enviado pelo mesmo à Inforpress, Corsino Tolentino começa por falar de um Cabo Verde independente, com uma história de “quatro décadas de sucesso” e que, ao longo dos anos, vem enfrentando “enormes desafios e alcançando resultados notáveis”.
Em uma análise geral, que inclui política, economia, saúde, educação, cultura, religião, ciência e tecnologia, o investigador, considera “extremamente positivo” o balanço dos 40 anos de experiência a nível nacional, destacando seis datas politicas como importantes, nomeadamente, o ano 1975 – a independência nacional, 1980 (cinco anos mais tarde), a criação da primeira Constituição, 1990 a mudança de um partido ao multipartidarismo, 1991/2001- alternâncias no governo e consolidação da democracia e ano de 2010 em que foi criada a Nova Constituição da República.
Para Corsino Tolentino, os últimos 40 anos mudaram radicalmente o país, no entanto, considera, os problemas ainda a serem resolvidos são muitos e as apostas são altas, salientando alguns défices na democracia cabo-verdiana.
“Falta-nos as nossas próprias análises sistemáticas, em vez de basear essencialmente em analise dos outros, falta um modelo de organização política que dá voz igual para todas as partes do território, aliás, este é um desafio em um arquipélago constituído por diferentes ilhas como Cabo Verde, não devemos limitar a compararmo-nos com piores empreendedores relativamente à boa governação e corrupção”, lê-se no discurso.
Realça ainda que apesar de Cabo Verde ter feito progressos substanciais em relação ao desenvolvimento do milénio e de, desde 2004, estar integrado na lista dos países de desenvolvimento médio, ainda é “frágil” economicamente e que o aumento do desemprego e a desigualdade social representam um dos maiores problemas que afectam a sociedade, com cerca de um quarto da população que vive na pobreza, ressalvando que a educação, saúde e segurança social têm um caminho ainda longo a percorrer.
No referido discurso, Corsino Tolentino destaca que houve avanços na religião e na cultura mas que ainda há necessidade de uma melhor gestão das expectativas, esperanças e inovações para que o sector cultural ganhe mais credibilidade e eficácia, porque, segundo ele, a “crioulização” é um patrimônio nacional que todos os cabo-verdianos devem nutrir.
No que toca à ciência e à tecnologia, diz que o país tem uma sociedade autónoma, mas que o investimento neste sector é uma questão de longo prazo, e que exige uma nova visão estratégica nacional.
O galardoado advoga ainda que a revisão da estratégia política e económica de Cabo Verde para o médio e longo prazo requer o fim da “ambiguidade” entre a integração regional e a globalização, a inclusão efectiva dos migrantes e maior cooperação dos cidadãos e dos partidos políticos.
Corsino Tolentino termina o discurso dizendo que o prémio “Liderança 2015” para Estrangeiros é um sinal de força do triângulo virtuoso de cooperação entre governos, sectores privados, universidades e sociedades civis dos dois países.
“O meu tempo nos Estados Unidos e a experiência de contar a história de Cabo Verde como um país de origem e os EUA, como muitas outras nações, o destino para os migrantes cabo-verdianos, permitiu-me prosseguir no caminho do desenvolvimento pessoal e profissional. Esta distinção também permite à própria universidade de reflectir sobre bolseiros Humphrey e as suas experiências individuais nos seus países de origem”, finaliza.
O prémio reconhece o “contributo de destaque” que o antigo ministro da Educação tem dado como líder ao longo da sua carreira profissional, e na promoção da cidadania através da educação, diálogo e reforço das capacidades.