Os agricultores de sequeiro estão preocupados com a quantidade de pragas que está a devastar os cultivos de milho, feijões e abóbora. Aflitos, pedem a intervenção urgente do Ministério do Desenvolvimento Rural (MDR). Mas este pede calma, uma vez que o pesticida a ser utilizado em casos do género é altamente tóxico.
O surgimento de pragas, conhecidas por “medidor” e “mangras pretas”, em grande escala, em certas ilhas do país, está a tirar o sono aos agricultores. Com as chuvas deste ano, eles perspectivavam um bom ano agrícola, mas, com as pragas, a produção mostra-se seriamente ameaçada neste momento. Ao que A NAÇÃO apurou, as pragas estão a devorar as plantações de feijões (bongolon, sapatinha, pedra) e até espigas de milho.
Em Santiago
Francisco Pereira, agricultor em Mato Baixo, Santa Catarina de Santiago, diz-se preocupado com a situação devido à quantidade de bichos e estragos verificados na sua parcela agrícola.
“Há uma quantidade enorme de bichos que estão a entrar dentro das favas de bongolon e comem todo o grão e no fim deixam apenas a casca. Também estão a atacar as folhas de feijão pedra, deixando apenas os ramos. E, agora, estão a passar para as espigas de milho: cortam o cabelo, entram e consomem toda a parte interior. Aparentemente, parece tudo bem mas, quando vamos verificar, encontramos tudo estragado, por dentro”, conta.
Por seu turno, Alcinda Gomes, agricultora em Malveira, também Santa Catarina, relata igualmente que os estragos feitos pelos referidos insectos são enormes. “Eu estava esperançada num bom ano agrícola, praticamente gastei todo o dinheiro que tinha nos trabalhos de sementeira e mondas, mas agora constato essa praga maldita, que está a deitar todo o meu esforço água abaixo. Como é castigo de Deus, não temos nada a fazer. Os antigos já diziam que ‘fodjada não é milho’ e isto está a comprovar-se. Tinha esperança que, com as chuvas que caíram nos últimos dias, as pragas iam desaparecer, mas, infelizmente, isso não é verdade, os bichos continuam e a fazer estragos”, lamenta.
Fogo e Brava
Já na ilha do Fogo, a agricultora Maria Alice Pires conta, também, que na localidade de São Domingos, por exemplo, as pragas de mangra preta estão a atacar todas as espécies de feijão e abóbora. “Isso tem-nos causado enormes prejuízos, uma vez que neste período muitas famílias vendem os feijões verde para recuperar o dinheiro investido na época do cultivo”, reporta.
O quadro geral, ao que apurou este jornal, também acontece na Brava e outras ilhas do arquipélago. Preocupados com a situação, os agricultores apelam a uma intervenção urgente do MDR, para pôr cobro à situação.
MDR no terreno
A delegada do MDR em Santa Catarina, Idana Furtado, garantiu ao A NAÇÃO que os técnicos já estão no terreno a fazer prospecções e o tratamento nos concelhos de Santa Catarina e São Salvador do Mundo.
E, na Brava, o delegado Lenine Carvalho afirma que a situação agrícola mostra-se “muito boa”, apesar do surgimento de pragas, nomeadamente lagarta medidora e uma espécie de mangra preta, em certas zonas da ilha. “Já foram tratados mais de 20 hectares de campo agrícola e vamos continuar a fazer esse trabalho até chegar a todos os pontos onde existem pequenos focos”, adiantou.
Entretanto, os técnicos agrícolas alertam que nesta fase é preciso muito cautela no tratamento dos cultivos com pesticidas, uma vez que as plantas estão na fase de reprodução e o produto químico utilizado para combater as pragas identificadas são altamente tóxicos.
“Por isso, ao ser aplicado, deve-se respeitar um intervalo segurança de três semanas, para comer o produto da área agrícola tratada”, explica Celestino Fernandes, especialista do MDR. Este pede a compreensão e a colaboração dos agricultores para que a saúde pública não seja posta em causa devido ao mau uso dos agrotóxicos. “Desde logo, por estarmos num período em que muitas pessoas vão ao campo para a recolha de produtos verdes e pasto para os animais”, finaliza.
Pragas ameaçam milho e feijões
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