Antão Fortes, presidente da Cabeólica, a maior parceira do Governo na operacionalização da meta Cabo Verde 100% renovável em 2020, deixou escapar que, pessoalmente, não acredita que isso seja possível. A menos de cinco anos do objectivo traçado, e com 25% de energia eléctrica da rede pública alimentada por renováveis, Fortes é o primeiro a admitir publicamente que a meta não será alcançada.
As declarações de Antão Fortes foram proferidas durante um debate à margem do workshop sobre “O envolvimento do sector privado das energias renováveis em Cabo Verde: Oportunidades e desafios”. Um debate aceso, diga-se de passagem, com a presença de vários especialistas nacionais e estrangeiros.
O PCA da Caboeólica acabou por dizer, sem rodeios, que não acredita que Cabo Verde consiga atingir a meta almejada. Isto dito num contexto em que se debatia os constrangimentos do sector, como a falta de um quadro regulatório, um mercado mais aberto e competitivo, o financiamento e o papel da Electra neste processo.
Fortes, acabou por sair até, algumas vezes, em defesa da Electra (empresa da qual já foi PCA) durante o debate, acabando por desabafar a sua opinião pessoal nesta matéria. “Não sei se será 100% renovável em 2020. Não acredito, para ser muito franco, mas poderá vir a ter muito mais renovável que convencional”, afirmou perante a plateia.
Aquele responsável foi claro ainda, relativamente à dimensão do mercado das renováveis no país, que diz ser “relativamente pequeno”. “Temos um concessionário de distribuição de energia eléctrica, que é a Electra, normalmente com quem se deve ter os contratos de fornecimento de energia. Mas, até agora, o que houve é a Electra como produtora, e alguns produtores de alguma dimensão (caso da Cabeólica, em Santiago, a Electric, em São Vicente, e da própria Electra com os parques solares de Santiago e Sal), mas já temos disponibilidade de renováveis em algumas ilhas. Precisamos de ver bem o nosso mercado, mas ver bem, a procura de electricidade que temos no país e o crescimento que temos tido”, alertou.
ELECTRA RENOVÁVEIS
Antão Fortes mostra-se assim menos optimista que o Governo, embora o director-geral da Energia, Anildo Costa, já tenha admitido ao A NAÇÃO, que “2020 é uma orientação, uma meta política mas, obviamente, que não estamos presos a um número, nem podemos”.
Quem parece já estar também a tomar consciência do difícil cumprimento da meta traçada pelo seu Governo é José Maria Neves. No passado domingo, 18, durante a inauguração da Central Única de Santo Antão, JMN avançou aos jornalistas a intenção de criar a empresa Electra-renováveis, precisamente, para que o país possa investir “fortemente” nas energias renováveis. Esta nova Electra, só para as renováveis, deverá estar enquadrada na restruturação e privatização da empresa.
O certo é que, actualmente, as energias renováveis injectam 25% da electricidade consumida na rede da Electra e uma análise realista do sector mostra que dificilmente o país chegará aos 100% renovável, em menos de cinco anos.
46,2 % DOS PROFISSIONAIS DAS RENOVÁVEIS TÊM ENSINO SUPERIOR
Cabo Verde passou a integrar a Associação Lusófona de Energias Renováveis (ALER), que visa promover as energias limpas nos países de língua oficial portuguesa e apoiar a facilitação de negócios do sector. Um dos trabalhos desenvolvidos já pela ALER foi o inquérito “Perspectivas de Desenvolvimento das Energias Renováveis em Cabo Verde”.
O estudo, realizado online, junto de operadores, empresários e instituições públicas e privadas ligadas ao sector, teve uma taxa de resposta superior a 10%, num total de 39 pessoas que responderam ao questionário. Isto tendo em conta o facto de ser um mercado pequeno.
Os resultados já são conhecidos e, segundo o documento a que A NAÇÃO teve acesso, o sector é dominado por homens (79,5%), enquanto 33,3% dos profissionais da área têm entre um e cinco anos de experiência. Relativamente à formação, 46,2% dos inquiridos completaram o ensino superior e 61,5% ocupam cargos executivos. O estudo mostra ainda que 69,2% dos inquiridos que responderam consideram que o ambiente de negócios do sector é “razoável” e 74,4% diz que a tendência é para esse ambiente “melhorar” nos próximos cinco anos.
Relativamente às barreiras ao desenvolvimento do sector, 79,5 % dos inquiridos apontaram a operacionalização do acesso à rede e a falta de operacionalização da lei em vigor como barreiras “muito severas”, enquanto 74,3% consideram também a política fiscal e aduaneira, como uma barreira “muito severa”. GC
Antão Fortes, CABEÓLICA: “Não acredito que Cabo Verde será 100% renovável em 2020”
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