A lei nova que proíbe a produção do grogue a partir do açúcar fez disparar o preço da bebida. Os retalhistas em São Vicente estão neste momento a vendê-lo 50 por cento (%) mais caro e o preço tende a aumentar à medida que diminui a oferta da aguardente de má qualidade. Mas os produtores do grogue genuíno ainda não sentiram os efeitos desse aumento.
Em São Vicente, principal mercado da aguardente de Santo Antão, um cálice de grogue vendido antes, nos botequins, por 20 escudos, passou para 30 ou mais escudos. Mas isso não quer dizer que a qualidade tenha melhorado ou que, de repente, as pessoas começaram a vender apenas grogue feito de cana-de-açúcar.
Pelo contrário, os vendedores explicam que quem havia fabricado aguardente de açúcar nos anos anteriores está a aproveitar-se do momento em que a nova lei ainda engatinha para desfazer-se do que tinha nos armazéns a preço superior e os retalhistas repassam esse aumento ao consumidor.
Contactados por este jornal, alguns fabricantes de grogue genuíno, em Santo Antão e em Santiago, entendem que isso já era esperado, pois como a produção da aguardente feita a partir de açúcar tende a diminuir, há cada vez menos oferta no mercado e, logo, o preço tende a aumentar.
Mas, por ora, quem produz o grogue de cana-de-açúcar não está também a sentir os efeitos desse aumento nos bolsos. Aliás, só esperam ver o seu produto valorizado daqui a dois ou três anos, quando o estoque da aguardente de má qualidade ainda existente esgotar-se ou diminuir drasticamente.
Só nessa altura, sublinham os nossos interlocutores, e caso as autoridades mantiverem o cerco ao grogue de má qualidade, é que os operadores acreditam que haverá mais procura pelo grogue de cana-de-açúcar. Não só para o consumo directo como para produzir licores e outras bebidas, valorizando esse importante produto de Santo Antão e de outras ilhas.
O certo é que já se observa, no curto espaço de tempo em que a lei entrou em vigor, menos produção de aguardente e isso fez com que a importação de açúcar diminuísse nos últimos meses. Curiosamente, não só a importação diminuiu, como o preço caiu para metade desde a entrada em funcionamento da nova lei do grogue, em Agosto último.
Dados da Inspecção Geral das Actividades Económicas (IGAE) confirmam a tendência de queda do preço do açúcar. Em certas alturas, sobretudo na época da produção de aguardente, entre os meses de Janeiro e Julho, o produto chegou a atingir preços a rondar os 120 escudos por quilo. Desde Agosto o preço caiu em flecha, como certifica a IGAE, através de uma nota pública:
“Com a entrada da lei que regulamenta a produção do grogue, com a sua fiscalização e com a selagem dos alambiques, a procura (venda) do açúcar já diminuiu drasticamente e em consequência o seu preço também”.
Ou seja, para já quem sai a ganhar são as pessoas que produzem doces, confeitarias, para comercializar. Em vez de pagarem 120 escudos por quilo de açúcar, compram um quilo por 60 escudos e têm maior margem de lucro. Por outro lado, com menos importação do açúcar, menos divisas saem do país e a balança comercial fica menos desequilibrada.
Segundo os produtores, agora a IGAE e as autoridades locais não podem afrouxar a fiscalização, alertam os produtores do grogue genuíno. “Para haver cada vez menos aguardente de açúcar no mercado, nenhuma instituição pode deixar de assumir as suas responsabilidades”, afirma um dos nossos interlocutores.
“Todos temos uma noção dos malefícios para a saúde pública do consumo não só da aguardente de má qualidade, como de outras bebidas alcoólicas vendidas no mercado, muitas vezes sem qualquer controlo”, conclui.
Preço do grogue dispara
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