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Ambiente

Vulcão da Ilha do Fogo pode voltar a produzir “mega–tsunami”

Um estudo realizado por investigadores portugueses, pertencentes ao departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, prova a formação de um “mega-tsunami” que atingiu há cerca de 73 mil anos a ilha de Santiago, em Cabo Verde.
Um colapso gigantesco do flanco oriental da Ilha do Fogo, um dos mais altos e ativos vulcões oceânicos, provocou há cerca de 73 mil anos uma onda marítima com uma dimensão superior a 200 metros.
Uma onda que deu origem a um “mega-tsunami”, que deve a sua formação ao deslizamento de uma das paredes vulcânicas do vulcão existente na Ilha do Fogo em Cabo Verde.
O estudo agora dado a conhecer foi realizado pelos investigadores Ricardo S. Ramalho, Gisela Winckler, José Madeira, George R. Helffrich, Ana Hipólito, Rui Quartau, Katherine Adena e Joerg M. Schaefer.
As provas foram esta sexta-feira dadas a conhecer através da Science Advances, uma nova revista do grupo editorial Science.
O online da RTP conversou com um dos investigadores deste fenómeno geológico, que nos conta como todo o processo se desenrolou.
O estudo geológico dos depósitos vulcânicos, no arquipélago de Cabo Verde, começou a ser realizado em 2010, na Ilha de Maio, pela equipa de investigação liderada pelo professor José Madeira, do departamento de Geologia da Faculdade de Ciências de Lisboa.
O grupo de investigação descobriu, durante a análise de campo, uma área onde se encontravam “depósitos estranhos”.
A área em questão tinha todas as características de ter sido formada por um tsunami. Características muito destintas de outros depósitos ligados a fenómenos geológicos.
Depósitos de material geológico que o professor José Madeira ligou ao colapso de uma das paredes laterais do flanco leste da Ilha do Fogo.
Para confirmar essa origem, na Ilha de Maio, o investigador foi até à Ilha de Santiago, em 2011, e encontrou depósitos com material vulcânico em zonas mais altas do que as existentes na Ilha de Maio.
Um elemento que vem provar a teoria da formação de um “mega-tsunami”, durante o escorregamento da parede vulcânica, que arrastou o material a grandes distância.
Foi também nesse período que o professor José Madeira encontrou um colega, que lhe divulgou a existência de mais material depositado localizado num local ainda mais elevado, na Ilha de Santiago.
Este fenómeno, segundo os investigadores, aconteceu há cerca de 73 mil anos, quando o deslizamento de uma das paredes do vulcão da Ilha do Fogo terá dado origem a um “mega-tsunami”.
O investigador José Madeira refere que o vulcão da Ilha do fogo é muito íngreme, com uma altura a rondar atualmente os três mil metros. Possui características propícias a deslizamentos de paredes magmáticas.
Na altura do deslizamento agora estudado e comprovado pela existência de depósitos, o vulcão teria aproximadamente 2.200 metros, ou seja, uma altura muito inferior.
Para o investigador, um futuro deslizamento ou escorregamento não está posto de parte, sendo totalmente imprevisível quando isso poderá acontecer.
As provas no terreno documentam o impacto de ondas até pelo menos 170 metros acima do atual nível do mar que depositaram material vulcânico na Ilha de Santiago, a 55 quilómetros a leste da Ilha do Fogo.
“É uma onda que, se usarmos uma referência local, que toda a gente conhece, praticamente cobriria os pilares da Ponte 25 de Abril.”
Este estudo reacende o debate que dura há algumas décadas sobre se os colapsos gravíticos de ilhas vulcânicas, que ocorrem subitamente e de um modo catastrófico, e que são geradores de tsunamis de grandes dimensões.
Uma vez que o nível do mar se encontrava cerca de 50 metros mais baixo do que o atual, pode inferir-se que o tsunami inundou o litoral da ilha de Santiago, tendo atingido alguns locais que se encontravam a altitudes de e superiores a 270 metros.
Um dos estudos deste fenómeno também vem trazer à luz a questão de como ocorrem estes deslizamentos: se são massas de material único ou se são deslizamentos parcelares.
Fatores importantes que, segundo o investigador da FCUL José Madeira, provocam consequências a nível de formação de tsunamis muito diferentes.
Um dos exemplos de uma possível formação vulcânica que provocará uma “dantesca” onda marítima é o vulcão na Ilha de “La Palma”, nas Canárias, que está a ser acompanhado por uma equipa de cientistas ao cuidado do Geólogo Simon Day e Steven Ward.
“Uma parte da Ilha de La Palma pode colapsar catastroficamente e gerar um tsunami de grandes dimensões. Esse tsunami foi modelado, e a modelação dá ondas na zona próxima da fonte com alturas completamente astronómicas de 400, 600, 800 metros, (…) embora considerados fantasiosos,(…) agora é indubitável que estas ondas se podem formar e pode atingir dimensões abismais.”
A ilha do Fogo eleva-se atualmente 2.829 metros acima do nível do mar e entra em média em erupção a cada 20 anos.
A atividade mais recente ocorreu entre novembro de 2014 e fevereiro deste ano, tendo atingido várias povoações que habitavam na orla vulcânica.
O vulcão atualmente ativo foi reconstruído dentro da cicatriz do colapso criado há 73 mil anos, sendo tão alto e íngreme como o vulcão anterior.
A energia potencial para novo colapso de grandes dimensões continua a existir, pelo que é imprescindível manter a vigilância.
Esta descoberta, segundo os investigadores, alerta mais uma vez para o perigo potencial dos colapsos laterais de ilhas vulcânicas e para a necessidade de a sociedade melhorar a sua capacidade de resiliência a ameaças deste tipo.
Tornando-se assim necessário aprofundar o conhecimento sobre o que desencadeia estes colapsos vulcânicos, como ocorrem e como produzem tsunamis gigantes, e qual a capacidade destas ondas para atingir litorais distantes.
Os investigadores dizem ainda que é necessário reforçar as capacidades de monitorização.
Fonte: RTP

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