O figurino das competições internas, com o Nacional e o Inter-Ilhas, ainda não é suficiente para as exigências dos “Tubarões Azuis”. Quem o afirma é o seleccionador Rui Águas, que dá mostras de continuar a apostar, acima de tudo, nos jogadores que evoluem lá fora.
Setembro é o mês em que a Selecção Cabo-Verdiana de Futebol volta a entrar em campo, num embate contra a Líbia. Por enquanto, Cabo Verde está na ressaca das competições internas, tais como o Nacional e o Inter-ilhas. Abordado por A NAÇÃO, o treinador dos “Tubarões Azuis”, Rui Águas, revelou-se pouco impressionado com o desempenho dos jogadores que actuaram, por exemplo, no Inter-Ilhas, que aconteceu há duas semanas, na ilha do Sal, com a vitória da Selecção de São Vicente.
Para aquele técnico, o actual nível da Selecção de Cabo Verde é bastante alto, não só por causa da notoriedade que ganhou nos últimos três anos, como, também, devido às conquistas que conseguiu nesse período, a saber: a presença em duas Taças das Nações Africanas (CAN’2013 e 2015), e, ainda, devido à proeza de quase se ter qualificado para o Mundial de 2014, no Brasil, batendo gigantes como os Camarões.
Tal desempenho, como resulta claro, teve como suporte principal os atletas que actuam no estrangeiro, e não com a chamada “prata da casa”, onde o futebol se mostra bastante precário, desde logo, pelo nível de amadorismo que ainda
apresenta. “Os jogadores que actuam no exterior beneficiam de superiores condições de trabalho, do muito superior volume de jogos e do profissionalismo que vivem. Infelizmente, as condições de que os atletas dispõem em Cabo Verde ainda não são as ideais”, diagnostica Rui Águas.
Essa antiga estrela do futebol português dá a entender, contudo, que não é indiferente às vozes que reclamam de uma maior presença de atletas “domésticos” na Selecção Nacional. Mas, até lá, e para que o quadro mude, “é urgente aumentar o período competitivo anual, reestruturando os campeonatos, e, também, os espaços de treino disponíveis”, contrapõe Águas.
Reacções
Quase que em unanimidade, treinadores como Rildo Tavares (Paulense e Santo Antão), Bassana (Farense e São Vicente) e Rui Alberto Leite (Mindelense) alertam, também, para a necessidade de se mudar o figurino das competições nacionais. Na avaliação deles, esse tem sido um aspecto negativo na evolução do futebol no país, apesar do potencial existente. Por exemplo, para a temporada que acaba de começar, Cabo Verde é o segundo país que mais atletas tem no futebol português, depois do Brasil.
Ciente da fragilidade da modalidade, o presidente da Federação Cabo-Verdiana de Futebol (FCF), Victor Osório, revelou ao A NAÇÃO que já se está a trabalhar numa tal mudança e que isso deve começar a acontecer já na próxima época.
“A FCF tem trabalhado na elaboração do novo modelo. Contudo, não podemos divulgado ainda porque estamos à espera da aceitação por parte das associações regionais e dos clubes, e também porque a sua divulgação, agora, poderia condicionar as pessoas envolvidas no processo”, disse.
Formar treinadores
Acredita-se que treinadores bem preparados têm um papel relevante para a formação de melhores futebolistas, com benefícios para o desenvolvimento da modalidade. No que diz respeito à formação, Rui Águas crê haver “um trabalho fundamental a fazer, tendo em conta a melhoria dos técnicos nacionais”.
Já pensando nisso, também, a FCF recebeu da sua congénere da Renâmia (Alemanha), duas bolsas para o curso “International Coaching Course” (ICC), de nível ‘UEFA Grassroots – Trainer C Licence’ , que decorre entre os dias 7 e 23 do próximo mês de Setembro, em Koblenz.
As duas bolsas destinam-se aos dois treinadores que conquistaram os dois títulos mais cobiçados a nível nacional: Bassana (campeão do Inter-Ilhas por São Vicente) e Rui Alberto Leite (Campeão do Nacional pelo Mindelense).
A oportunidade é vista por ambos ,com bons olhos, a ponto de Bassana destacar a necessidade de um treinador apostar na melhoria das suas capacidades, ele que já detém o curso de treinadores de nível I. “Sempre é bom aprender qualquer coisa, e espero que, na Alemanha, eu possa aprender ainda mais, já que se trata de um País conhecido pelo seu futebol”, acrescenta Bassana.
No mesmo sentido, Rui Alberto Leite destaca o nível que o futebol alemão já atingiu, ao mesmo tempo que confessa aguardar, com expectativa, a formação, que, segundo ele, foi uma surpresa e, a concretizar-se, será mais um no seu currículo. “O curso na Alemanha irá dotar-me de muitas ferramentas, que deverei implementar no meu clube e que constituirá uma mais-valia para a minha carreira”, conclui Leite. JF
Futebol: Nível de competição nacional aquém dos “Tubarões Azuis”
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