O sector dos transportes marítimos em Cabo Verde não tem conhecido bons momentos, principalmente nos últimos quatro anos, registando nove acidentes, entre encalhes, naufrágios e mortes. Um outro aspecto é a falta de transporte regular que ainda assola, principalmente, as ilhas do Maio, Brava e São Nicolau. O Governo, criticado pela oposição, diz estar a procurar soluções para os problemas do sector.
O ano de 2015 entrou com o pé esquerdo para o sector dos transportes marítimos. O naufrágio do navio Vicente, na noite de 8 de Janeiro, nas águas da ilha do Fogo, com um saldo de 11 mortos e 11 desaparecidos, no universo de 26 pessoas que se encontravam a bordo, abalou ao país. Para todos os efeitos, este é o mais grave naufrágio em Cabo Verde nos últimos anos.
Uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) foi constituída para apurar as responsabilidades, estando os seus trabalhos ainda a decorrer. Os familiares das vítimas, esses, continuam a aguardar que sejam apontados os responsáveis da tragédia e resolvido o problema daqueles que ficaram desamparados, por causa do falecimento dos respectivos chefes de família.
Mas, não foi só este acidente que sobressaltou o sector marítimo cabo-verdiano. Os constantes acidentes (nove em cerca de quatro anos) têm dividido as opiniões.
TROCA DE GALHARDETES
A nível político, não faltaram as previsíveis acusações e contra-acusações entre os partidos da oposição e o Governo, com o MpD e a UCID a pedirem a cabeça da ministra Sara Lopes e José Maria Neves, enquanto Chefe do Executivo, a fazer a defesa da sua ministra. Enquanto isso, a população aguarda as respostas para melhorar os transportes marítimos no país.
Enfim, numa palavra, superar o que vai mal num sector por muitos considerado estratégico para um arquipélago, como Cabo Verde, que, para desenvolver-se, precisa de transportes marítimos regulares e seguros.
Esta e outras questões não deixarão de vir à baila, no Parlamento, na hora de se proceder ao debate sobre o estado da Nação.
RAIO X
-Nos últimos anos, Cabo Verde assistiu a alguns desastres com navios nacionais e internacionais nas suas águas. Encalhes, naufrágios e desaparecimentos marcaram o sector, com um saldo de cinco navios perdidos. Eis os acontecimentos:
-2 de Abril de 2008 – encalhe do navio Barlavento, da Companhia Polar, na Baixa do Pescadeiro, costa da ilha do Fogo. Os 11 passageiros e 15 tripulantes foram resgatados. O excesso de carga esteve na origem do encalhe.
-6 de Maio de 2008 – Naufrágio do navio Musteru, também da Companhia Polar, perto de Porto Mosquito, ilha de Santiago. A bordo seguiam 109 pessoas, todas foram salvas. O mau tempo terá contribuído para o sucedido.
-10 de Outubro de 2012 – Encalhe na ilha de Santa Luzia de uma embarcação estrangeira, Terry III, com riscos para um desastre ambiental por causa do óleo que se encontrava nos seus tanques. Um tripulante perdeu a vida em condições misteriosas. Apesar das promessas de desmantelamento, passados quatro anos, o navio ainda está encalhado.
-31 de Outubro de 2013 – Encalhe de “Sal-Rei”, da Companhia STM Lines, junto ao ilhéu de Santa Maria. O encalhe aconteceu no momento em que o navio saía do Porto da Praia, quando foi abalroado pelo petroleiro Ciprea. Sem vitimas a registar, a bordo estavam 15 tripulantes, cinco passageiros e 20 toneladas de carga.
-Setembro de 2013: Desaparecimento “misterioso” do navio Roterdão, que saiu do Porto da Praia, Santiago, para Boa Vista. Estavam a bordo seis tripulantes.
– 5 de Junho de 2014: Encalhe do navio Pentalina B em Moia-Moia, São Domingos, Santiago, com 80 passageiros, todos foram salvos com ajuda dos pescadores da zona que acudiram logo após o acidente.
-3 de Agosto de 2014: O navio John Miller, da Enacol, afunda junto ao Porto de Sal-Rei, Boa Vista, causando alguns danos ambientais. A tripulação saiu ilesa.
-31 de Maio de 2014: O navio Tarrafal, que estava fundeado no Porto Grande, São Vicente, foi levado pela maré e acabou encalhado na Praia da Galé. Foi resgatado depois, mas ficou inoperante.
-8 de Janeiro de 2015: O navio Vicente, da Companhia Tuninha, naufraga a três milhas do Porto Vale dos Cavaleiros, ilha do Fogo. Este foi um dos maiores naufrágios dos últimos tempos em Cabo Verde. Nele estavam 26 pessoas (18 tripulantes e oito passageiros). Foram resgatadas 11 com vida e quatro morreram, incluindo uma criança de seis anos. As outras 11 desapareceram no mar. CG
Tempos turbulentos para os transportes marítimos
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