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Economia

TACV entre altos e baixos

O sector dos transportes aéreos, dominado pela TACV, continua a sobreviver entre altos e baixos. Os problemas arrastam-se e a privatização, várias vezes anunciada, não se afectiva. O futuro continua por isso incerto e sombrio.
De mudanças nas rotas à subida “exorbitante” dos preços das passagens, a TACV, neste último ano, ensaiou um conjunto de medidas que, na sua óptica, deveriam servir para melhorar os seus serviços, mas, o que se verificou foi o contrário, com críticas de passageiros e “entendidos” no assunto.
De um modo geral, a TACV continua a ser alvo de críticas de má gestão e, nisso, o Governo é apontado pelo maior partido da oposição, o MpD, como o grande responsável. Olavo Correia, vice-presidente dessa formação política, é categórico: “A má gestão dos TACV vai continuar enquanto a empresa estiver altamente partidarizada”. Para Correia, a solução passa pela privatização da companhia aérea, algo já tentado desde os finais dos anos noventa quando o MpD era Governo e que ainda hoje não aconteceu.
As declarações daquele porta-voz do MpD foram proferidas após o próprio PCA dos TACV, João Pereira Silva, ter afirmado que “a companhia aérea cabo-verdiana pode fechar as portas a curto prazo”, admitindo que a mesma encontra-se numa “encruzilhada”. Uma atitude que Olavo Correia reprovou por entender que “nenhum gestor público deve decretar falência da empresa que ele gere, por ser lesiva para os interesses da companhia e do País”.
BRAÇO DE FERRO TACV-AAC
Um outro momento crítico nestes últimos 12 meses foi o “braço de ferro” entre a TACV e a Agência de Aviação Civil (AAC), aqui a propósito do aumento das tarifas, bem como a diminuição de cargas para os passageiros, sem o prévio consentimento da entidade reguladora. Na prática, a TACV teve que recuar, suspendendo as suas medidas, até o tribunal decidir se ela podia ou não mexer na sua grelha, recorrendo também pela coima de três mil contos à transportadora aplicada pela AAC.
NOVAS ROTAS
No meio desse “sobe e desce” novas rotas foram anunciadas pela TACV neste último ano. Os primeiros destinos anunciados foram Providence (EUA), Recife (Brasil) e Bissau (Guiné), num quadro de alegada expansão da empresa. O próximo destino anunciado é Roterdão, Holanda, que, segundo a operadora, fará o seu primeiro voo para a região a 17 de Dezembro próximo.
Entretanto, enquanto a rota para o Recife foi aplaudida, a para Providence tem estado sob fogo cerrado, sobretudo da comunidade cabo-verdiana em Boston, que reagiu muito mal à subida de preços das tarifas e mudança para um aeroporto de menor nível, ainda por cima distante da principal área de concentração de cabo-verdianos.
BINTER: UMA SOLUÇÃO?
O sector aeronáutico, a nível doméstico, está também ele em vias de ter um novo operador, a Binter, companhia aérea das Canárias, há muito em “namoro” com Cabo Verde. O problema é que a Binter só começa a operar em Dezembro. Até lá, sem alternativa, os utentes de serviços aéreos vão continuar sujeitos aos “caprichos” da TACV.
DEBATE DIFÍCIL
No debate sobre o estado da Nação, o sector dos transportes aéreos não deixará, muito certamente, de vir à baila. Fernando Elísio Freire, líder parlamentar do MpD, reiterou já as suas críticas ao Governo, acusando-o de não ter “uma visão estratégica para o sector dos transportes e nem está à altura de enfrentar os desafios do sector”. Em relação à TACV, aquele deputado é categórico: “A responsabilidade pelo descalabro, traduzido na falência técnica e financeira dos TACV, é do próprio executivo”.
Por seu turno, o líder parlamentar do PAICV, Felisberto Vieira, já reconheceu também a situação de falência técnica e financeira da TACV, defendendo, por isso, a necessidade de encontrar “rapidamente” um parceiro estratégico para a companhia. Filú mostrou-se satisfeito com a entrada da Binter Cabo Verde, pois, a seu ver, essa “será oportunidade para haver concorrência e competitividade com benefícios para aqueles que viajam”.
PRINCIPAIS MARCOS
-Em Outubro de 2014, o novo embaixador do Qatar em Cabo Verde, Abdulrahman Bin Ali Ajaj Al Kubais, manifestou o interesse daquele país em cooperar com o arquipélago no domínio dos transportes aéreos, pois, segundo deixou saber, essa poderá ser uma oportunidade para os dois países iniciarem boas cooperações;
-Em Novembro de 2014, a ministra Sara Lopes garantiu que a TACV, assim como a Enapor, seria privatizada em meados de 2015. “O Governo já criou uma unidade de privatizações no Ministério das Finanças e já está a trabalhar e a preparar os dossiers. Deverão ser privatizadas até meados de 2015”, assegurou. Entretanto… o ano parlamentar está prestes a terminar e isto ainda não é uma realidade.
-Em Novembro de 2014,  a TACV vendeu dois ATR72 que faziam parte da sua frota, com o fim de reduzir de imediato os custos financeiros e da posse das duas aeronaves. “Com a conclusão desta venda dos ATR 72, a TACV realiza um encaixe financeiro destinado à liquidação de dívidas referentes às prestações há muito vencidas do empréstimo contraído aquando da compra dos referidos aparelhos, bem como da totalidade das prestações vincendas dos mesmos”, explicou na altura o PCA, João Pereira Silva.
-Em Maio deste ano,  a TACV aumentou “significativamente” os preços dos tarifários inter-ilhas, reduzindo em contrapartida os custos para quem quisesse comprar bem mais cedo as passagens. Segue-se um braço de ferro com a AAC (Agência da Aviação Civil), por esta não ter sido consultada previamente. Tudo é deitado abaixo, ficando a TACV condenada a uma coima de três mil contos.
-No início de Junho deste ano, depois de ter anunciado novas rotas em Janeiro, a TACV inaugurou novos voos para Recife (Brasil), Providence (EUA) e Guiné Bissau. O primeiro a partir foi o voo para Providence, no dia 2 de Junho, o segundo, para Bissau, a 3 de Junho e, o último, para Recife, a 5 daquele mês. A próxima aposta será o voo para Roterdão, Holanda, a partir de 17 de Dezembro deste ano.
-Operando com voos entre Cabo Verde e Canárias desde 2012, a Binter decidiu apostar nos voos domésticos neste arquipélago, no final deste ano. Com a TACV em colapso, a aposta da companhia canária poderá ser bem mais do que isso. É esperar pelo tempo.

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