O poeta e escritor cabo-verdiano, Corsino Fortes, faleceu esta manhã em São Vicente, terra que também o viu nascer em 1933, na ilha do Monte Cara. Cumprindo o destino do bom filho que à casa retorna, o autor do Pão & Fonema passou os últimos momentos da sua vida na sua terra natal, após o seu percurso como diplomata, ministro e gestor.
Homenageado em São Vicente na última terça-feira no dia do lançamento do seu “Sinos do Silêncio, canções e haicais”, o poeta e presidente da Academia Cabo-verdiana não se fez presente por se encontrar debilitado.
Corsino, que se dizia autor reformado, em boa hora regressou e neste Sinos do Silêncio faz uma ruptura com o “cânone” surgido com Pão & Fonema, em 1974, livro esse que “revolucionou” a poesia cabo-verdiana desde então.
Em Pão & Fonema, de 1974, Corsino Fortes evoca a odisseia dos cabo-verdianos, perdidos numa terra pouco fértil mas com uma poderosa força de viver, que os leva frequentemente à emigração. “Das colinas de colmo / com portas de sol / Descem crianças / nuas e magras / como violas / As costeletas dentro das cordas / Todas / primogénitas / do mesmo ventre / E filhas / Do mesmo vulcão E da mesma viola / Da mesma rocha E do mesmo grito». Assim, o poeta e escritor retrata a sua terra pobre, mas sempre em busca de melhores dias. Uma esperança que carregou que até ao momento enquanto poeta e filho destas ilhas.
Em boa hora também recebeu o “Prémio Literário 40º Aniversário da Independência”. Corsino Fortes não pôde também estar presente na entrega do prémio, por questões de saúde, mas enviou o filho que transmitiu o seu agradecimento e homenagem que se seguiu no acto, presidida pelo primeiro-ministro José Maria Neves.
Na altura a vice-presidente da Academia Cabo-verdiana de Letras, Vera Duarte, lamentou a ausência e o momento difícil por que passava o autor de “Pão & Fonema”. “Não queríamos que fosse assim”, disse. “O prémio é dele, ele merecia-o há muito tempo, é uma coincidência bonita que seja no quadragésimo aniversário da independência, mas, por outro lado, é uma pena que ele não possa estar aqui connosco e ver a homenagem que lhe rendemos do fundo do coração, e é uma pena que ele não esteja, efectivamente, nas melhores condições de saúde”.
Vera Duarte fez ainda questão de esclarecer que a atribuição do Prémio Literário 40º Aniversário da Independência”, que está enquadrado no “Prémio Literário BCA”, criado em parceria com a ACL, nada tinha a ver com o estado de saúde do vencedor. “É pela obra, pela projecção, por aquilo que tem feito pela cultura cabo-verdiana, por ter sido um dinamizador da criação da ACL, é, no fundo, pela vida e obra”.
Mas “Corsa”, para os amigos, partiu semanas depois e foi despir da vida na terra que o viu nascer.
Faleceu Corsino Fortes, o poeta do Pão & Fonema
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