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Opinião

En_sino do silêncio: Ao poeta Corsino Fortes

Em andamento

A ilha, seu mar e céu, seus seres inquietos na cosmovisão ontológica do azul. A injeção na veia de assaz azul. Da ilha, além e aquém dos cataclismos, e seus processos estruturais e organicamente poéticos. Onde estarão as hélices na suspensão dos verbais estilhaços? A profusão de ladrilhos a pousar no cinzeiro a fumegar do navio? As sementes de mostarda, nossa fé a mover montanhas? A fazê-lo com o mesmo esboroar final que à génese. E faça-se ao universo luz, absolutamente luz, para os folguedos do imaginário. Luz para a sobreposição dos tempos em andamento. Seus arquétipos e dissonâncias; a verossimilhança que a literatura sugere!

Respingares de Hidra

Cada ilha que habitamos e que nos habita em poemas soletrados de sol e maresia. Cada ilha costurada em sal e renda de espuma à beira das areais, dos pedregais e dos sentimentos. Sentirmos o predicado do espelhamento e do deslocamento. Sentirmos o afogamento dos dias. A busca e salvamento dos aflitos em viagem. Em oníricos e em alucinados, em respingares de Hidra. Os ilhéus, nós próprios, estes seres rodeados do mar e com outro mar cá dentro. O naufrágio sempre, o barco que se afunda dentro de nós, o continente submerso que somos no ideário das lendas. Perplexos, todavia, diante da construção e do caos. Perplexos, todavia, diante da confecção do pão e fonema. Desconfiguramos, entrementes, uma a uma as horas do relógio e deixamos fugir, esvoaçante pelos alísios, o pó argiloso com que Deus engendrou o sopro. Cada ilha que habitamos, congestionamento à parte, somos nós, sujeitos deste sentimento. Sem confinamento que a vida e a morte, repetindo sempre a roda, também são em nós combustão. A reposição do gorjeio de pássaro anunciando chuva, do azul às riscas do peixe saltitante na água, da voz funda dos meninos no adentro de cada ilha, a nossa libertação. E, no substrato, pedra de máxima lapidação, a êxtase do poema. O que se levita qual respingares de Hidra…

Mareações em viagem

Não descortino fronteiras para a viagem do poema. Mareado, vou letra a letra, sílaba a sílaba, morfema e fonema, tudo até ao brilho da pedra. Tão plena de sentidos, a palavra exaurida busca suas ilimitadas possibilidades. Às vezes, escudo, outras vezes, sem guarda, os versos saem das tensões, tentações e precipitações, enigma de improvável chave entre o confronto e a premonição. Sombrios e alegóricos, quais imperceptíveis, os sinos se diluem no semântico e morfológico azul. Carrossel, conjugações e outras mareações em viagem.

Certas destilações

Estranha-me ter em mãos, como num parto, a edição de um livro de poemas. Penso no poeta, nos seus estados de alma e no seu labor métrico, a transposição metafórica em cada palavra. Difícil “de explicar” certas destilações. Tudo é luz no convexo como escuridão no côncavo. Não me comovo com este meu estado de gruta, esta coisa platonicamente cavernosa pela fresta das semânticas. É condição que me transcende, mais forte do que eu. Gosto de António Lobo Antunes em como “A gente tem de chorar pra dentro como as grutas.”

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