“Tchindas”, um documentário feito por um grupo de espanhóis, vai estar em estreia absoluta no Meet the Filmmakers, Los Angeles, EUA, está quarta-feira (15). Trata-se de um filme que conta a história dos gays no carnaval de São Vicente, bem como a magia e a folia da melhor festa do Rei Momo em África.
“Tchindas” decorre em crioulo, mas com legenda em inglês e tem como figura principal um dos homossexuais mais conhecidos de Cabo Verde, de nome próprio, Alcindo Andrade, “Tchinda”.
Tchinda foi o primeiro gay cabo-verdiano a assumir a sua opção sexual publicamente, na segunda metade dos anos noventa. Irreverente e sem complexos, com a sua ousadia, começou a abrir as portas para este mundo quase desconhecido, não temendo os preconceitos que existiam e ainda persistem na sociedade cabo-verdiana.
O certo é que a sua fama acabou por chegar ao conhecimento da equipa espanhola formada por Pablo Garcia Pérez de Lara, o jovem jornalista Marc Serena, a produtora executiva Yolanda Olmos e o produtor Doble Banda. O grupo resolveu acompanhar Tchinda e seu grupo durante três anos para poder realizar o documentário de 95 minutos.
Mas quem trouxe Marc Serena a Cabo Verde, pela primeira vez, foi Cesária Évora, além de um projecto de filmar a vida dos homossexuais em África. Segundo Serena, foi a partir de uma conversa com a “Diva dos pés descalços”, em casa desta, no Mindelo, dois dias antes da sua morte, que resolveu regressar ao país para registar, em imagens, o maior e melhor carnaval de Cabo Verde e transformá-lo em filme.
“Lembro-me perfeitamente quando ela me disse: ‘Tens que voltar novamente para ver o carnaval, que é a melhor de África!’ Ela morreu 36 horas depois e fui dos últimos jornalistas falar com ela. Levei suas palavras a sério e regressei para filmar este documentário”, diz Marc Serena. Além do carnaval, o trabalho acabou por incidir na forma como Tchinda e o seu grupo vivem essa festa, em São Vicente.
Na descrição do documentário, os cineastas espanhóis dizem que Tchinda é tida como uma das “mulheres” mais amadas em Cabo Verde, especialmente depois que revelou ser “transgênero” num dos jornais do país, em 1998. “Desde então, o seu nome tornou-se o termo usado por moradores para citar pessoas com opção sexual diferente em Cabo Verde”, afirma. “Apesar de sua grande reputação, Tchinda permanece humilde e todas as tardes percorre alegremente o bairro para vender as suas melhores ‘coxinhas’, um deleite brasileiro clássico: deliciosas bolas de massa com frango”.
Respirando carnaval
Como uma ilha que inicia e termina o ano com a batucada do carnaval é algo que o documentário procura também transmitir. “Em São Vicente, o ano começa e termina com o carnaval. É impressionante ver como isto se tornou no centro das vidas dos seus habitantes”, escreve Pablo García Péres de Lara.
O facto de Cabo Verde ser um arquipélago crioulo e viver paredes meias com outros países africanos que condenam, até com pena de morte, os homossexuais, o fenómeno Chinda é algo que surpreendeu Marc Serena, jovem jornalista acostumado a viajar por África a tentar entender como funcionam as associações do homossexuais (LGBT) nesse continente. CG