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Sociedade

Ribeira da Barca: Pescadores contra parceiro espanhol

Os pescadores e armadores da Ribeira da Barca, em Santa Catarina de Santiago, estão descontentes com o funcionamento da Unidade de Transformação e Agregação de Valor ao Pescado (UTAV). Conforme o seu presidente, José Rui Oliveira, a gestão adoptada pela Anine, empresa espanhola que explora o espaço, não beneficia os pescadores, dado que não aceita todo o tipo de peixe. A representante da Anine, Harona Ndiaye, tem outra versão.

José Rui Oliveira salienta que a UTAV abriu as portas, em Junho de 2014, para receber, tratar e agregar valor a todo o tipo de pescado capturado naquela região de Santiago. E com isso, por um lado, evitar a perda do pescado e, por outro, contribuir para a  melhoria da condição de vida dos homens do mar da Ribeira da Barca.

Oliveira afirma que esses objectivos ainda não foram alcançados, muito por culpa da Anine, que não aceita comprar certos tipos de peixe. “A Anine está interessada apenas nos peixes do fundo, nomeadamente: atum, garoupa, fanhame, badejo, etc. Peixes como cavala, melva, chicharro, gaiado, mais fáceis de pescar, ela não quer; consideraram-nos pouco rentáveis.

Isto faz com que os pescadores vendam o que conseguem a baixo preço, dado que há falta de gelo na Ribeira da Barca. As duas máquinas de produção de gelo, existentes na UTAV e que abasteciam a comunidade e outras da região Santiago Norte, já não funcionam”, denuncia Oliveira.

De resto, segundo José Rui, devido aos desentendimentos entre os pescadores e a Anine, a UTAV passa mais tempo fechada do que aberta. “Durante o período de um mês, a fabrica funciona dez dias e passa os restantes vinte dias fechados”, aponta.

Por outro lado, Oliveira afirma que a intenção inicial do protocolo assinado entre os pescadores e a Anine para a exploração da UTAV, por um período de cinco anos, era a de rentabilizar a captura dos “peixes de flor”, que são apanhados, frequentemente, e, por vezes, em abundância, que até ficam a estragar, por falta de tratamento ou escoamento. “Com o passar do tempo, percebemos que a Anine não está preocupada em beneficiar a comunidade”, acusa.

Possibilidade de rescisão do contrato

Diante do que está a acontecer, José Rui Oliveira revela que a associação dos pescadores não descarta a possibilidade de romper o contrato com a Anine, apesar de o protocolo vigente ser válido por cinco anos. Até porque, como faz saber também, a Anine está a ocupar a fábrica há um ano e meio, mas, até então, não pagou sequer um mês de renda.

“Vamos reunir, em breve, com a Anine, para saber se ela está disposta ou não a gerir a fábrica de outra maneira, ou então rescindir o contrato. Para todos os efeitos, existem outras empresas dispostas a explorar todo  o tipo de peixe apanhado na Ribeira da Barca e outras zonas piscatórias da região de Santiago Norte”.

Actualmente, Anine emprega oito efectivos, cinco dos quais da comunidade da Ribeira da Barca. Segundo José Rui Oliveira, o representante daquela empresa, Abel Silva, já mandou os trabalhadores ficarem em casa, por falta de peixe. E também ficou a saber que a Anine pretende dispor de um barco, vindo da cidade da Praia, para pescar exclusivamente os peixes que a fábrica quer exportar para Espanha e Senegal. “Isso não vai beneficiar os pescadores locais, mas sim, fazer uma concorrência directa”, prevê desde já. 

Uma coisa é certa, diz José Rui: “A Associação dos Pescadores e toda a comunidade da Ribeira da Barca não querem mais continuar ligadas à Anine”.

Má-vontade

Confrontado com as acusações do presidente da Associação dos Pescadores da Ribeira da Barca, o representante da Anine, o senegalês Harona Ndiaye, afirma que a UTAV está a funcionar com “algumas limitações”, muito por culpa da “má-vontade” dos pescadores locais. Conforme salienta, os mesmos insistem em capturar apenas cavala, chicharro, melva, etc., peixes que a Anine não adquire, por considerá-los pouco rentáveis, dado que o objectivo da empresa é exportar o pescado para a Espanha e o Senegal.

“Nesta região há espécies de peixes que interessam à empresa em quantidade suficiente, designadamente, atum, garoupa, morreia, badejo, e os peixes do fundo do mar, que exigem um pouco de esforço na sua captura. Os pescadores não querem isso. Eles vão ao mar de manhã e, ao meio-dia, já voltam com os peixes pouco rentáveis. E quando conseguem um pouco de peixe que nos interessa preferem vendê-los a particulares”, frisa Harona.

No entanto, para ultrapassar a situação, Ndiaye avança que a Anine está, sim, em processo de adquirir um barco de nove metros para fazer a pesca com os seus próprios trabalhadores, sem excluir, contudo, a hipótese de comprar os peixes dos pescadores locais.

E quanto à suposta dívida de arrendamento e intenção de rescindir o contrato com a Associação dos Pescadores, Harona disse ao A NAÇÃO que este é um assunto que só o responsável da empresa, Abel Silva, que se encontra fora do país, pode responder. 

SM

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