José Valdemiro Lopes
A reflexão intelectual mais pertinente, de momento, neste pais, é saber que mecanismo estratégico activar, para se poder encaminhar com sucesso e mesmo acelerar um desenvolvimento coeso e harmonioso de todas as nove ilhas habitadas do arquipélago, forma eficaz, necessária, para provocar o crescimento económico, a solução imprescindível à resolução ou diminuição do problema número um de Cabo Verde: o Desemprego Jovem!
A língua portuguesa, independentemente de ser língua oficial destas ilhas, faz também, funcionar a Administração Pública e empresarial e, para a maioria dos cabo-verdianos, é a língua de aquisição de conhecimentos académicos.
Amílcar Cabral, fundador da nossa nacionalidade, afirmou e bem, que a língua portuguesa é o maior legado da colonização portuguesa para Cabo Verde, pré-evitando a sua estigmatização, emergente, logo nos primeiros dias que vivemos pós -independência, evitando de a interpretar mal, colocando-a na lista de símbolos de dominação colonial a serem eliminados da consciência colectiva e das instituições nacionais.
Houve excessos e erros, mas temos a consciência que a historia nunca foi nem será apagada por decretos ou outras decisões, e, mesmo a estátua do colonizador Diogo Gomes, regressou ao miradouro da Praia, assim como mais outros vestígios do património histórico, ingenuamente removidos. Nenhum país vive, desenvolve-se ou marca presença no mundo sem a sua memoria histórica cultural, e, neste aspecto ,Cabo Verde ganhou um reconhecimento turístico-cultural, a Cidade Velha, berço da nação cabo-verdiana, é hoje património histórico da humanidade, o país e nossas instituições é que devem tirar proveitos práticos, da categorização atribuída e não temos complexos para assumir e transmitir às novas gerações a nossa história e passado cultural, mesmo de dominados pelo Ex imperialismo colonial.
Voltando ao tema, podemos afirmar que a escolha do português, como língua oficial foi coerente, realista e boa decisão politica cultural ( o francês foi estrategicamente utilizado, como língua politica).
O arquipélago é pequeno e economicamente, muito frágil, se fizermos um balanço exaustivo desses últimos quarenta anos, deparamos com um pais em vias de ou em desenvolvimento e o momento devia inspirar-nos a abrir-nos mais a outros universos linguísticos, científicos e culturais, para podermos responder melhor, ás exigências da mundialização, uma aposta necessária á obtenção de ganhos sócios económicos tirando, também melhor proveito da nossa posição geoestratégica nesta sub-região africana, onde nossos parceiros têm como línguas oficiais, o inglês e o francês.
A crise vigente e a estrutura mundial, não nos permite continuarmos quase que imoveis e fechados num esquema unidimensional, linguística.
A globalização exige maior abertura ao mundo, aos outros e á comunicação. A disposição para entrarmos no ciclo de uma historia relacional, que não poderá ser abortada, é uma necessidade existencial para o povo destas ilhas do atlântico sem recursos.
A ciência não para, independentemente de conhecimentos e diplomas, o constrangimento de actualizarmos ás ultimas invenções e progressos é real e imperativo, os países mais desenvolvidos transmitem seus conhecimentos e resultados de pesquisas, na língua mais falada do mundo, o inglês, língua que concentra o essencial do património cientifico e tecnológico da humanidade e vivemos uma civilização de comunicação e informação (… e de consumo …).
Temos um “gap” a resolver e indicadores económicos e turísticos, indicam-nos que devemos revalorizar o ensino de inglês, no sistema educativo nacional, a partir do ensino básico, sem subestimar a língua francesa, nem tão pouco o português, preocupando-nos menos, com o ensino do crioulo, língua que falamos no quotidiano da nossa vida, cujo ensino de imediato nas escolas, será tudo menos cientifico, ainda não há regras que justifique um suporte escolar correcto. Não sei como será ministrado, mas será feito de maneira mais ou menos arbitrária …
Cada língua abre-nos para um novo universo de ideias e valores, que nos cultiva mais e os reflexos serão sempre positivos e nos ajudará a fazer uma melhor integração no espaço económico e politico do continente africano, e bom ingresso, no grupo económico da Africa de Oeste de que fazemos parte integrante.
A nossa língua nacional, tem presença e aceitação internacional musical, graças, sobremaneira, à nossa diva de pés descalços, Cesária Évora, mas sabemos que as mensagens veiculadas são apenas compreendidas a cem por cento, pelos cabo-verdianos, temos o dever de a proteger e valorizar, isso acontecerá a seu tempo. A prioridade hoje, a nível de línguas, é: mais português, muito mais inglês e francês, pois, com a nossa língua materna nunca teremos problemas, ela faz parte do nosso DNA.
Em vez de sacrificarmos nossos jovens, no altar do desemprego, devemos investir mais e sem complexos na educação, no ensino, sobretudo o técnico profissional, e activar já no ensino básico a pista de valorização do ensino do inglês e do francês, tanto como línguas de abertura ao mundo e como motores de integração sócio-cultural e económica de Cabo Verde no mundo globalizado.
Cabo Verde precisa ser menos discursivo e propor soluções úteis aos nossos jovens que estarão, assim, mais bem preparados e terão melhores condições para assumirem e defenderem as preferências desta nação-ilhas, neste mundo dominado pela competência e competitividade.